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Joanna Macy e a Profecia do Guerreiro Shambhala

Deixe-se inspirar por esta milenar e atualíssima profecia sobre o nascimento do Bodisatva


Por
Revisão: Caroline Souza e Ormando M.N.
Edição: Caroline Souza e Ormando M.N.
Transcrição: Gabriel Madeira
Tradução: Gabriel Madeira

O pensamento da ecofilósofa e estudiosa do budismo Joanna Macy pode ser explicado de diversas maneiras. As bases teóricas da metodologia que desenvolveu junto com seus companheiros ao longo de mais de quarenta anos – o Trabalho Que Reconecta (TQR) – têm sua fonte na Teoria de Sistemas, na Ecologia Profunda e na filosofia budista, especialmente no princípio da originação dependente e na visão de prajnaparamita. Sob o ponto de vista dessa última grande influência, o TQR pode ser visto como um treinamento desenhado especialmente para despertarmos o coração do Bodisatva dentro de cada um e cada uma de nós.

No entanto, talvez nada seja tão eficaz para nos fazer nascer como Bodisatvas do que a Profecia do Guerreiro de Shambhala. Profecias trazem o poder de uma simbologia – transmitida ao longo de gerações – que acessa nossas regiões mais profundas. Suas palavras têm a capacidade de nos conectar com uma voz de sabedoria ancestral ao mesmo tempo que nos projetam para o futuro, cuja sanidade quase sempre depende de nossa própria atuação. A Profecia do Guerreiro de Shambhala é um conhecimento que atravessou os séculos graças à tradição oral. Foi transmitida a Joanna por Drugu Choegyal Rinpoche, em Bir, na Índia, e ela a tem transmitido a inúmeras pessoas desde então. Da mesma forma, oralmente.

Com a aspiração de que mais de nós tivéssemos acesso e nos sentíssemos inspirados por esse texto, a Bodisatva traduziu e publica aqui na íntegra a profecia, tal qual é contada por Joanna Macy neste vídeo. Nossa recomendação é que, ainda que você não fale inglês, assista ao vídeo e conecte-se com a voz de Joanna, com a energia de comando e direção que o vento de suas palavras traz. E que seja de benefício!


Na tradição tibetana, há uma profecia que se tornou muito significativa para mim, meus amigos e meus colegas. Uma profecia feita doze séculos atrás.

Nos anos oitenta, eu voltei para a comunidade de Tashi Jong, no noroeste da Índia, com a qual tenho mantido um forte vínculo há quarenta e quatro anos – desde que estive lá com o Peace Corps. Na época do meu retorno, as pessoas estavam falando sobre uma profecia que estaria se realizando agora, neste nosso tempo. Achei aquilo fantástico! Ao indagar sobre o que ela tratava, me responderam: “Oh, é sobre um tempo muito sombrio.”

Meu querido amigo e professor, Drugu Choegyal Rinpoche, conta-a da seguinte maneira – vou narrá-la bem como ele a contava. Ouvi-la foi como receber o comando sobre o que fazer neste tempo da Grande Virada. Ela diz o seguinte: “chegará um tempo em que toda a vida na terra estará em perigo. Grandes poderes bárbaros surgirão. E, embora eles gastem toda a sua riqueza em preparações para aniquilar uns aos outros, eles têm muito em comum: armas de morte e devastação inconcebíveis e uma tecnologia que vai trazer o mundo abaixo em destruição. E será justo nesse momento, quando o futuro de todos os seres estiver pendurado pelo mais frágil dos fios, que o reino de Shambhala aparecerá.”

“Não se pode ir até lá: não é um lugar. Ele existe apenas nos corações e mentes dos Guerreiros de Shambhala. Na verdade, sequer é possível reconhecer um Guerreiro de Shambhala ao olhar para ela ou ele, pois eles não usam uniformes, não possuem insígnias. Não têm bandeiras; nem trincheiras as quais escalar para ameaçar os inimigos, ou atrás das quais descansar e se reagrupar. Nem possuem uma sede ou um território próprio. Para sempre e sempre, devem se mover e atravessar o terreno dos poderes bárbaros.”

E Choegyal Rinpoche me disse: “agora é a hora em que é demandada uma enorme coragem dos Guerreiros de Shambhala. Coragem física e coragem moral, pois eles adentrarão o coração dos poderes bárbaros para desmontar suas armas. Armas em todos os sentidos da palavra: as bombas e armamentos, e os quartéis generais do poder onde as decisões são tomadas.”

Ele me falou, “Joanna guarde isso: os Guerreiros de Shambhala sabem que essas armas podem ser desmontadas. Porque elas são mano maya – feitas pela mente. Elas são feitas pela mente humana, e elas podem ser desfeitas pela mente humana.”

Os desastres que estão nos ameaçando e se desenrolando, hoje, não foram trazidos por alguma força extraterrestre ou deidade satânica, ou mesmo por um destino imutável e inexorável. Eles surgem de nossas relações, de nossas prioridades, de nossos hábitos. Eles são feitos pela mente humana, e podem ser desfeitos pela mente humana.

Então, é chegado o tempo, ele continuou, de os Guerreiros de Shambhala passarem pelo seu treinamento. Como podem imaginar, perguntei: “e como eles treinam?” Ele respondeu que eles treinam no uso de duas armas (foi este o termo!). Quando indaguei que armas são essas, ele levantou as mãos – tal qual os Lamas segurando os objetos ritualísticos nas grandes Danças de Lamas deste povo – e falou que uma é a compaixão, e a outra é o insight sobre a interdependência radical de todos os fenômenos. “Você precisa de ambas! Uma só não é o suficiente.”

Você precisa da compaixão porque ela fornece o combustível, a força motriz para te colocar lá fora, onde você precisa estar, para fazer o que precisa ser feito. E isto consiste, basicamente, em não ter medo do sofrimento do seu mundo. Quando você não teme o sofrimento do seu mundo, nada pode detê-la. Mas a compaixão sozinha, ele disse, é muito quente e pode queimá-la viva. Assim, é necessária a outra arma. É necessária a sabedoria, o insight sobre o mútuo pertencimento de todas as coisas, entrelaçadas como são na teia da vida.

E quando você tem ambas, você sabe que esta não é uma guerra de mocinhos contra bandidos, mas que a linha entre o bem e o mal atravessa a paisagem de todo coração humano. E nós estamos tão entrelaçados na teia da vida que mesmo o menor dos atos feito com clara intenção tem repercussões – por toda essa teia – que nós nem conseguimos ver.

Mas isso por si só, ele disse, é um pouco frio. Então, você precisa do calor da compaixão. E se você observar os monges tibetanos recitando nos pujas, verá suas mãos movimentando-se em mudras. Muito frequentemente, elas estão dançando a interação entre karuna e prajna, compaixão e sabedoria.

Bem, essa é a profecia. E eu soube que era isso! Que eu tinha recebido o comando sobre o que fazer!

Naquela tarde, quando voltei para casa e encontrei meu filho Jack, que vivia comigo e com o resto da família nos arredores do assentamento, compartilhei com entusiasmo: “Você não vai acreditar na profecia que acabei de escutar de Choegyal Rinpoche!”. Narrei-a e, ao fim, ele me perguntou: “E ele contou o desfecho? Contou como vai terminar?” Eu ri e respondi: “Não! Graças a deus! Eu não acreditaria se ele tivesse me dito como terminará! Nem você deve acreditar em ninguém que lhe diga como vai acabar! É o não saber o nosso maior presente! É essa mente que não sabe que nos permite ser grandes e possibilita que grandes coisas aconteçam!”


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1 Comentário

  1. Oliveira disse:

    Om Mani Padme Hum

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