Ponlop Rinpoche nos aponta a forma correta de nos relacionarmos com nossos pensamentos e o mundo externo
Nosso coração está transbordando de alegria: daqui a duas semanas, o grande mestre do budismo tibetano Dzogchen Ponlop Rinpoche aterrissará em terras brasileiras. É uma bênção imensurável ter um professor desse nível vindo diretamente até nós para oferecer seus ensinamentos. Ele conduzirá um retiro em Araras, no Rio de Janeiro (16 a 18 de agosto), e em Viamão, no CEBB Caminho do Meio (23 a 25 de agosto), e também oferecerá uma palestra no Cine Odeon, no Rio de Janeiro (20 de agosto). Veja mais informações
Celebrando esse auspicioso momento para os praticantes brasileiros, a Bodisatva preparou uma contagem regressiva especial: hoje e nas próximas duas quintas-feiras que antecedem a chegada de Ponlop Rinpoche publicaremos traduções inéditas de alguns de seus artigos. Que inúmeros seres possam se conectar a esses ensinamentos, e que grandes professores como Ponlop Rinpoche possam seguir propagando o Darma aos mais diferentes povos!
Todas as vezes que nós abrimos o aplicativo de notícias do nosso smartphone ou entramos no facebook ou no twitter, somos bombardeados com manchetes sobre como as coisas estão ruins. Existe muita coisa errada no mundo, muitas pessoas sofrem e é fácil ficar agitado ou com raiva. Se nos permitirmos afetar-nos em resposta a todas essas notícias terríveis, poderemos nos sentir desamparados e sem esperanças. Não sabermos o que fazer e como ajudar.
Muito frequentemente, nós também caímos na armadilha da polarização. Há o “meu lado” e o “outro lado”. Existem partidos políticos azuis e vermelhos, pessoas semelhantes a mim e pessoas que não são, homens e mulheres, heterossexuais e LGBTs, cidadãos e refugiados. Se nos mantivermos pensando que “aquelas outras pessoas” são a causa de nossa infelicidade, nós nunca descobriremos como nos acalmar para que possamos todos florescer e sermos seguros e alegres.
Felicidade e sofrimento são, ambas, criações de nossa mente. Claro, as condições externas têm um certo papel, mas, no fim das contas, a real fonte de nossas emoções é a nossa mente. Se nossa mente é forte, se nossa mente é pacífica, nenhuma situação externa pode nos afetar, visto que nada externo pode ser a causa de nossa dor tanto quanto os nossos próprios pensamentos. Todas as nossas sensações de alegria ou agonia, felicidade ou dor, são experimentadas pela nossa mente e são também criadas por ela.
Se nós genuinamente nos conectarmos e entendermos nossa mente, poderemos entender melhor os outros que pensam diferente de nós. E quando adquirirmos um melhor entendimento dos outros, então poderemos genuinamente nos engajar em atividades que podem ser benéficas para nós mesmos, nossa família e o mundo inteiro.
Não há ninguém para culpar aqui. Felicidade e sofrimento, alegria e dor são dependentes de nossa mente ser calma ou agitada. Quando nossa mente é quieta, nós temos maior capacidade de nos relacionarmos com nosso mundo e nossas experiências com um senso de gentileza, sentindo que todos estamos nessa juntos. Quando nossa mente não está calma, então tudo ao redor se torna mais irritante ou enraivecido. Aqui não há senso de gentileza ou compreensão. Nossa mente se torna mais agitada, mais estressada e nós perdemos completamente o prumo. Estamos tão focados no calor da acusação ao outro que não experimentamos a brisa da compaixão e da empatia. Então, nós experimentamos mais dor ou causamos sofrimento aos demais.
Há uma história sobre dois casais: um casal era profundamente apaixonado e feliz e o outro estava passando por tempos difíceis. Ambos os casais foram ao mesmo restaurante e pediram a mesma comida. Um membro de cada casal pediu uma sopa e o outro pediu uma salada. Quando o jantar chegou, os que pediram sopa começaram a comer usando garfos em vez de colheres. No casal que estava tendo tempos difíceis, o que pediu salada olhou para o seu parceiro e pensou, “Que imbecil, comendo sopa com um garfo!”. No outro casal, o que estava tendo bons momentos, o que pediu salada pensou, “Que fofo e engraçado, super especial, comendo sopa com um garfo!”. Houve algo diferente a respeito das circunstâncias externas dessas duas experiências? Não. Ambos os casais estavam comendo a mesma refeição. Então, você pode perceber como nossas mentes criam nosso mundo e nossas experiências de alegria ou dor. Você pode pensar que seu parceiro é um imbecil e te traz dor ou você pensar que seu parceiro é um fofo e que te traz felicidade.
Primeiro, você tem que perceber o que sua mente está fazendo quando reage a tudo o que acontece ao seu redor. Depois, você tem que ter algum controle sobre isso. Você tem que acalmar seu nervosismo, sua mente emotiva, e para isso você tem que treiná-la. É semelhante a domesticar um cavalo selvagem.
Quando você vê cavalos selvagens correndo, eles são muito bonitos, mas você não consegue montar neles. Nossas mentes são naturalmente bonitas, como cavalos selvagens, mas elas não são mansas. Semelhante a um cavalo selvagem que às vezes parece correr sem nenhuma razão aparente, nossa mente corre, mas nós não sabemos para onde e nem por que está correndo. Nossa mente está correndo porque a mente de todas as pessoas também está correndo! E isso é imprevisível, nossas reações emocionais às notícias ou ao nosso parceiro – todos os nossos pensamentos e emoções – criam todos os tipos de problemas para nós mesmos e para o mundo.
Se nós começarmos a prestar atenção à selvageria de nossa própria mente, desenvolvendo atenção plena aos pensamentos e emoções que nos atravessam a todo momento, podemos encontrar um pouco de calma. Podemos começar a domesticar o cavalo selvagem. Não vamos permitir que a mente comece a correr só porque todas as demais pessoas estão correndo. Se nós não reagirmos com raiva em resposta à raiva de outra pessoa, poderemos nos lembrar de ser um pouco compassivos. Se nós continuarmos pensando que estamos certos e que a outra pessoa (ou partido político, ou time esportivo, ou nação) está errada, então seremos incapazes de ajudar as coisas a melhorarem.
Nós precisamos conhecer as forças e fraquezas da nossa mente, se quisermos ter alguma possibilidade de transformação, transformando nossa raiva ou superando nosso medo e ansiedade. Se nós conseguimos transformar nossas próprias emoções, então podemos genuinamente nos engajar em atividades compassivas que podem verdadeiramente beneficiar o planeta e seus habitantes, ao invés de enganar a nós mesmos.
Conhecer nossa própria mente não é tão complicado, mas conhecer a de outra pessoa é muito difícil. Por outro lado, normalmente, nós achamos que temos muito conhecimento sobre a mente das outras pessoas e nem nos preocupamos em conhecer a nossa própria. Pensamos que sabemos o que nossos colegas de trabalho estão pensando, pensamos que sabemos o que nossos parceiros, filhos estão sentindo e achamos que sabemos como resolver os seus problemas. Nós não podemos consertar nossos próprios problemas, mas vemos claramente os defeitos e fraquezas de outras pessoas, imaginamos que temos todas as respostas. E isto, na verdade, é um sinal muito claro de que não conhecemos a nossa própria mente. Quando nos sentimos desse modo, é como uma mensagem de texto dizendo: “ei, você deve buscar a conhecer a sua própria mente primeiro”.
Nossa mente acha que as outras pessoas causam nosso sofrimento e infelicidade. Isto é o que pensamos, certo? Se os políticos simplesmente fizessem A ou B, se certas religiões realizassem X ou Y, se as pessoas ricas ou as pobres fizessem W ou Z, então nós seríamos felizes. Isto é o que chamamos de delusão. Nós projetamos um pensamento em outra pessoa e acreditamos nisso. Falamos sobre isso, postamos sobre isso, twitamos sobre isso e fazemos isso se tornar mais e mais real. Porém, isso é apenas um pensamento; não é verdade, mas acreditamos que é verdade, tornamos isso mais sólido e nossa miséria e a dos outros aumenta.
Nossa mente é tão habilidosa nesses jogos de manipulação, que nós não somos apenas bons em fazer as outras pessoas acreditarem em nossas delusões, mas também somos bons em fazer nós mesmos acreditar nelas. É incrível.
Mas isto é apenas um jogo de cartas. Um pensamento acredita que algo é verdade e, assim, surge uma outra carta-pensamento que depende da primeira e, então, aparece uma terceira carta dependente da segunda carta falsa, e assim segue. A estrutura completa de nossas crenças é construída sobre essas falsas cartas de pensamentos. Uma vez que você tira uma fora, todo o resto colapsa. Não há nada real ali, nada é verdade. Como diz o ditado, “Não acredite em tudo que você pensa”.
Se você analisar aquilo em que acredita, se examinar as justificativas para sua raiva ou para a base do seu patriotismo, elas não serão tão sólidas quanto aparentam. Aquela coisa muito ruim ou a pessoa muito má não serão tão ruins quanto sua mente está lhe dizendo. E aquilo que você pensa que é realmente bom não necessariamente será tão bom. Eu não estou falando apenas sobre coisas ruins, mas também coisas boas. Nosso forte apego aos nossos pensamentos e crenças nos afeta nas duas direções, ruim e boa.
Às vezes, nós sentimos que algo é absolutamente positivo; por exemplo, alguma comida ou um sistema de crenças ou nosso atual parceiro. Nos sentimos completamente bons e positivos sobre essas coisas: essa comida é saudável, essa religião vai me ajudar, o amor da minha vida vai me amar para sempre. Porém, às vezes aquela comida acaba te matando. Às vezes algum sistema de crenças está mentindo para você, te incitando em prol de suas próprias ambições. Às vezes o amor da sua vida se torna o ódio da sua vida. Isso tudo só mostra, mais uma vez, que o que nós pensamos, sentimos e acreditamos não é baseado no que acontece no lado de fora de nossa mente, mas no que acontece dentro dela.
Algumas pessoas se preocupam que se elas analisarem seus pensamentos bem de perto ou se alcançarem uma profunda calma, seus pensamentos – e até as próprias pessoas – vão desaparecer. Eu posso garantir que não importa o quanto você medite ou analise seus pensamentos, eles vão estar bem ali quando você se levantar de sua almofada ou de sua cadeira. Porém, eles começam a mudar um pouco quando você trabalha com sua mente, ao perceber que seus pensamentos e suas emoções não são tão sólidos quanto você uma vez acreditou.
Num nível último, não há nada com que se preocupar. Nós podemos focar em relaxar e aproveitar o processo de domesticação e treinamento da nossa mente. A verdadeira natureza da nossa mente é completamente desperta e livre, com uma qualidade de luz clara. Nós somos repletos de sabedoria genuína, repletos de amor e compaixão genuínos – sabedoria, compaixão e despertar não estão fora ou separados de nós. Tudo de que precisamos para realizar mudanças positivas no mundo já está disponível. Esta é a verdadeira natureza da nossa mente, a verdadeira natureza da mente de todas as pessoas.
Artigo publicado originalmente em inglês no site oficial de Dzogchen Ponlop Rinpoche
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7 Comentários
Muito bom ^.^ a linguagem desse mestre é tão clara ^.^
Vida longa a todos os mestres que possuem essa visão!!
Simplicidade, clareza e profundidade. É o que posso tentar resumir esta entrevista com Ponlop Rinpoche .
Temos que estar no estado consciente, ligado si a tudo que nos rodeia; O Ko. E eliminar todos os “Resíduos mentais” que este externo em consonância com o Qui. Vai afetar este interno; O Ré.
A Mente humana equilibrada a Koere de Ang. A Coerência ou Ciencia de Humanidade. E isto. Muito bom.
Temos que estar no estado consciente, ligado em si, a tudo que nos rodeia; O Ko. E eliminar todos os “Resíduos mentais” que este externo em consonância com o Qui. Vai afetar este interno; O Ré.
A Mente humana equilibrada a Koere de Ang. A Coerência ou Ciencia de Humanidade. É isto. Muito bom.
Excelente
Me ajudou imensamente ler este artigo. Isto é como um combustível enque temos sempre que questionar nossos pensamentos. Tenho consciência de meu pensamentos mas hora ou outra me encontro no modo sabotagem e preciso retomar a consciência.