O mestre zen, vietnamita,  Thich Nhat Hanh, trouxe para o ocidente o termo “budismo engajado”. O termo se refere a uma prática socialmente comprometida somada à observância de preceitos básicos do budismo. Abaixo, a relação feita pelo mestre zen de um ética para o ativismo e a ação social. 

1. Não seja idólatra por causa de nenhuma doutrina, teoria ou ideologia, mesmo as budistas. Os sistemas budistas de pensamento são meios de orientação; eles não são a verdade absoluta.

2. Não pense que o conhecimento que você possui no presente é imutável, ou que ele é a verdade absoluta. Evite ser fechado e estar preso a opiniões presentes. Aprenda a praticar o desligamento de pontos de vista a fim de estar aberto a receber os pontos de vista de outros. A verdade é encontrada na vida e não simplesmente no conhecimento de conceitos.

3. Não force os outros, incluindo crianças, por nenhum meio, a adotar seus pontos de vista, seja por meio de autoridade, ameaça, dinheiro, propaganda, ou mesmo educação. Entretanto, através do diálogo compassivo, ajude os outros a renunciarem o fanatismo e a estreiteza de idéias.

4. Não evite o sofrimento, não feche seus olhos ao sofrimento. Não perca a consciência da existência do sofrimento na vida do mundo. Encontre maneiras de estar com aqueles que estão sofrendo, incluindo contacto pessoal, visitas, imagens e sons. Por tais meios, lembre a si mesmo e aos outros à realidade do sofrimento no mundo.

5. Não acumule riqueza enquanto milhões passam fome. Não faça o objetivo da sua vida adquirir fama, lucro, riqueza, ou prazer sensual. Viva simplesmente e compartilhe seu tempo, energia e recursos materiais com aqueles que estão passando necessidades.

6. Não mantenha a raiva ou o ódio. Aprenda a penetrá-los e transformá-los enquanto eles ainda só existem como sementes na sua consciência.

7. Não se perca nas distrações à sua volta, mas continue sempre em contacto com tudo que é maravilhoso, refrescante e curativo dentro de você e ao seu redor. Plante sementes de alegria, paz e entendimento em si mesmo, a fim de facilitar o trabalho de transformação nas profundezas da sua consciência.

8. Não pronuncie palavras que podem criar discórdia e causar a quebra da comunidade. Faça todos os esforços para reconciliar as pessoas e resolver todos os conflitos, nem que sejam pequenos.

9. Não diga coisas falsas nem por interesse pessoal, nem para impressionar as pessoas. Não diga palavras que causam divisão e ódio. Não espalhe notícias que você não sabe se são verdadeiras. Não critique ou condene coisas das quais você não tem certeza. Sempre fale a verdade, de maneira construtiva. Tenha a coragem de levantar sua voz quando vir uma situação injusta, mesmo quando ao fazer isto você coloca sua segurança em perigo.

10. Não use a comunidade budista para ganho ou lucro pessoal, e não transforme sua comunidade em um partido político. Uma comunidade religiosa, no entanto, deve tomar uma atitude clara contra a opressão e injustiça, e deve tentar mudar a situação sem se envolver em política partidária.

11. Não viva com uma vocação que é nociva aos seres humanos e à natureza. Não invista em companhias que privam outras pessoas da sua chance de viver. Selecione uma vocação que o ajude a realizar seu ideal de compaixão.

12. Não mate. Não deixe que outras pessoas matem. Encontre todos os meios possíveis de proteger a vida e impedir a guerra.

13. Não possua nada que deveria pertencer a outras pessoas. Respeite a propriedade dos outros, mas impeça os outros de lucrarem do sofrimento humano ou do sofrimento de outras espécies na Terra.

14. Não maltrate seu corpo. Aprenda a cuidar dele com respeito. Para preservar a felicidade dos outros, respeite os direitos e os compromissos dos outros. Preserve suas energias vitais (sexual, espiritual, respiração) para a realização de seu Caminho.

Para irmãos e irmãs que não são monges ou freiras: suas expressões sexuais não devem ser sem amor e comprometimento. Em uma relação sexual tenha consciência do sofrimento que pode ser causado no futuro. Para preservar a felicidade de outros, respeite seus direitos e compromissos. Esteja plenamente consciente da responsabilidade de trazer novas vidas a este mundo. Medite sobre o mundo para o qual você está trazendo novos seres.

 

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19 Comentários

  1. GEORGES disse:

    grato pelas

    vivencias no CBB e pelo bom trabalho no blog …. luz

  2. […] Texto extraído do blog, Bodisatva. […]

  3. […] viaThich Nhat Hanh: Os 14 preceitos do budismo engajado | Bodisatva: um olhar budista. Share this:TwitterFacebookCurtir isso:Curtir Carregando… […]

  4. passagem disse:

    Estão faltando as ultimas partes, e polemicas, do ultimo preceito:

    “Preserve suas energias vitais (sexual, espiritual, respiração) para a realização de seu Caminho. (Para irmãos e irmãs que não são monges ou freiras:) Suas expressões sexuais não devem ser sem amor e comprometimento. Em uma relação sexual tenha consciência do sofrimento que pode ser causado no futuro. Para preservar a felicidade de outros, respeite seus direitos e compromissos. Esteja plenamente consciente da responsabilidade de trazer novas vidas a este mundo. Medite sobre o mundo para o qual você está trazendo novos seres.”

    Espero que não tenha sido deliberado.

  5. Luara Lobaz disse:

    Este 4 preceito não está claro para mim:
    Dizer “Não evite o sofrimento, não feche seus olhos ao sofrimento” ou até “Não perca a consciência da existência do sofrimento na vida do mundo” reconheço que é necessário; mas “Encontrar maneiras de estar com pessoas que sofrem, com contato pessoal etc…” farão de mim um sofredor também. “Lembrar a si e aos outros a realidade do sofrimento”. Penso que os que sofrem, já sabem da realidade do sofrimento pelo fato de sofrerem. Se tudo depende da paisagem, do olhar, porque vou estar de olho no sofrimento e ajudar os outros a estarem olhando. Ou seja, eu tenho acreditado que o sofrimento também existe sustentado pela visão do sofrimento. Venho pensando nesse quarto preceito…!
    Quem sabe um de vocês amigos, possam dizer o que eu não estou vendo sobre este quarto preceito.

    • Este é um mundo de provas e expiações. Se você puder, deve ajudar as pessoas e diminuir-lhes o sofrimento. Seja com uma palavra ou simplesmente estañdo ao seu lado, ouvindo-as. Jesus também nós orientou à amar o próximo como à si mesmo. Com todas essas lições, podemos concluir que a aproximação de sofredores não à fará sofredora, mas um anjo de caridade, amor e compaixão. Dessa forma, vc acumulara bons méritos, expiara faltas de vidas passadas e criará condição para um renascimento ainda mais auspicioso. Por auspicioso entenda agraciado com água limpa, alimento, abrigo, funções vitais perfeitas, lar espiritualidade, capacidade de aprendizagem, inteligência. Sendo portanto, cada vez mais capaz de realizar-se é assim ajudar milhares de seres humanos no planeta. Assim como esse monge de luz faz. Um abraço irmã!

  6. Miguel Berredo disse:

    Oi Laura, acho que tem a ver com não nos alienarmos, não nos tornarmos frios em relação ao que surge. Podemos estar em meio ao sofrimento sem estar na paisagem de sofrimento. Só poderemos ajudar os outros se não entrarmos, não nos perturbarmos com uma paisagem, um cenário de sofrimento. Se estivermos em paz, poderemos ajudar. Se não, poderemos reforçar uma ação ou circunstância que gera mais sofrimento.

  7. Luara Lobaz disse:

    Oi Miguel
    Entendo…
    Por suas palavras, imagino então que busquemos de propósito ver o sofrimento e estar com pessoas sofridas, mas para ajudar, sem se envolver
    e tornar-se sofrida também.
    Agradeço Miguel, por sua gentileza em responder tão logo.
    Um abração.
    Luara…….. não é Laura.

  8. miguel disse:

    Oi Luara, essa é a questão. Só iremos ajudar de forma eficaz se tivermos lucidez, não agindo por impulso. Compreender o mundo do outro sem ser engolido por ele. Para isso é treinar nossa energia, mente, fala e corpo, através da meditação. A função da meditação é essa.

    Abç
    Miguel

  9. Luara Lobaz disse:

    OK Miguel. Muito boa a expressão “compreender o mundo do outro sem ser engolido por ele” .

    Abraço. Luara

  10. […] Leia sobre os 14 princípios do budismo engajado. […]

  11. Sonia Alves disse:

    passagem: esta tudo la sim, nao falta nada,

  12. Grata, Miguel! Abraço, querido!

  13. […] Berredo é editor do Blog Bodisatva. Mídias sociais digitais: Shiva Ashram Brasil, Espaço Shiva, Centro de Cultura Tibetana e […]

  14. […] como a política, relacionamentos, autoconhecimento e gestão das emoções e pensamentos. Aqui tem um artigo com os 14 preceitos do budismo engajado. O monge defende que as práticas budistas […]

  15. Altemar Barros disse:

    Gostei muito do Texto acima… Achei ele escrito de uma forma Coloquial mas profunda também! Fiquem em Paz meus Irmãos… O Mi To Fo.

  16. Lourival Soares da Silva Filho disse:

    Bom dia. Existe local na cidade do Rio de Janeiro para a prática do Budismo Engajado?

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