Instruções compassivas de Tenzin Wangyal Rinpoche sobre como melhor aproveitar os ensinamentos para que se manifestem como experiência direta em nossas vidas
Tenzin Wangyal Rinpoche está no Brasil e irá oferecer o retiro intitulado Os Yogas dos Sonhos, de 17 a 21/01 (inscrições abertas), além de outras atividades, como o lançamento da 2ª edição do livro Os yogas tibetanos dos sonhos e do sono*.
Na introdução deste livro, o Rinpoche nos oferece conselhos preciosos sobre como integrar efetivamente os ensinamentos à prática. Ele alerta para o risco de deixar os ensinamentos se perderem na mera compreensão intelectual e traz uma abordagem em que eles são penetrados através da reflexão e da sua aplicação para que possam enfim se transformar em experiência direta.
A melhor abordagem ao receber ensinamentos espirituais orais escritos é “ouvir, concluir e experimentar”, isto é, entender intelectualmente o que foi dito, chegar a uma conclusão sobre que se queria dizer e aplicá-lo, na prática. Se a aprendizagem é feita deste modo, o processo de aprendizado é contínuo e ininterrupto, mas se ficar no nível intelectual, pode se tornar uma barreira para a prática.
Com relação à maneira como se ouve ou recebe os ensinamentos, o bom estudante é como um muro coberto de cola: as ervas lançadas contra ele aderem. Um mau estudante é como um muro seco: o que é lançado contra ele escorrega e cai no chão. Quando os ensinamentos são recebidos, não devem se perder nem ser desperdiçados. O estudante deve retê-los em sua mente e trabalhá-los. Os ensinamentos não penetrados pela compreensão são como as ervas lançadas contra o muro seco; elas caem ao chão e são esquecidas.
Chegar a uma conclusão quanto ao significado dos ensinamentos é como acender uma luz em uma sala escura: o que estava oculto torna-se visível. É a experiência do “a-ha” quando as peças se encaixam de repente e são compreendidas. É diferente da simples compreensão conceitual, no sentido de que é algo que sabemos em vez de alguma coisa da qual meramente ouvimos falar. Por exemplo, ouvir falar que uma sala tem duas almofadas, uma amarela e outra vermelha, é como adquirir uma compreensão intelectual delas, mas, se entrarmos na sala com as luzes apagadas, não conseguiremos distinguir uma da outra. Compreender o significado é como acender as luzes: então saberemos em primeira mão qual a vermelha e qual a amarela. O ensinamento, então, não será mais alguma coisa que somos apenas capazes de repetir, será parte de nós.
Com “aplicar-se à prática” queremos dizer transformar o que foi conceitualmente entendido — o que foi recebido, ponderado e tornado significativo — em experiência direta. Este processo é análogo a experimentar o sal. Pode-se falar sobre o sal, entender sua natureza química, etc, mas a experiência direta só se consegue quando ele é experimentado. Esta experiência não pode ser apreendida intelectualmente e não pode ser expressa em palavras. Se tentarmos explicá-la para uma pessoa que nunca provou sal, ela não conseguirá saber o que é que nós experimentamos. Mas quando falamos dela com alguém que já viveu a experiência, então ambos sabemos ao que estamos nos referindo. É a mesma coisa com os ensinamentos. É desse modo que devemos estudá-los: ouvir ou ler a respeito deles, refletir sobre eles, chegar a uma conclusão sobre o significado e encontrar esse significado na experiência direta.
No Tibete, as peles de couro novo são colocadas ao sol e esfregadas com manteiga para torná-las mais macias. O praticante é como a pele de couro nova, resistente e duro, com visão estreita e rigidez conceitual. O ensinamento (dharma) é como a manteiga, esfregada através da prática, e o sol é como a experiência direta; quando ambos são aplicados, o praticante se torna dócil e maleável. Mas a manteiga também é armazenada em bolsas de couro, e quando ela é deixada em uma bolsa durante alguns anos, o couro da bolsa se torna duro como madeira e por mais manteiga nova que venha esfregar, não conseguimos amaciá-lo. Alguém que passe muitos anos estudando os ensinamentos, intelectualizando demais com pouca experiência prática, é como esse couro endurecido. Os ensinamentos podem amaciar a pele dura da ignorância e dos condicionamentos, mas quando eles ficam guardados no intelecto e não são esfregados no praticante com a prática, nem aquecidos com a experiência direta, essa pessoa pode se tornar rígida e dura em sua compreensão intelectual. Novos ensinamentos, então, não conseguirão mais amaciá-lo, não vão mais penetrá-lo e transformá-lo. Devemos estar atentos para não acumularmos os ensinamentos apenas como conhecimento intelectual, para que ele não se torne um bloqueio para a sabedoria. Os ensinamentos não são ideias a serem colecionadas, e sim um caminho a ser seguido.
*A primeira edição brasileira do livro Os yogas tibetanos dos sonhos e do sono foi publicada pela Editora Devir em janeiro de 2010, com uma segunda reimpressão em 2015. A segunda edição atualizada e revisada será publicada em breve pela Editora Lúcida Letra, saiba mais na programação abaixo.
Tenzin Wangyal Rinpoche oferecerá várias atividades em São Paulo. Confira:
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