Arquivo CEBB. Foto: Luiz Bettoni

Conselho precioso de Alan Wallace

Num breve ensinamento, Lama nos ensina a essência do budismo e como superar as aflições


Por
Tradução: Fábio Valgas
Entrevista por: Fábio Rodrigues e Gustavo Gitti

O Lama Alan Wallace retorna ao Brasil, de 13 a 20 de outubro de 2017, para oferecer um retiro no CEBB Caminho do Meio, em Viamão (RS), e a Bodisatva aproveita o momento de chegada de um dos mais renomados autores e tradutores do budismo tibetano no Ocidente para resgatar a publicação da transcrição de um vídeo com um breve conselho dele voltado para quem deseja superar aflições, mas que não necessariamente tem conexão com o budismo.

Alan Wallace foi monge budista durante 14 anos nas décadas de 70 e 80. Mais tarde, recebeu o título de Ph.D. pela Universidade de Stanford e atualmente dirige o Instituto Santa Barbara para Estudos da Consciência.

A entrevista foi feita por Gustavo Gitti e Fábio Rodrigues no final do retiro de nove dias de Shamata, em janeiro de 2011, no CEBB Caminho do Meio. A vinda dele ao Brasil é uma oportunidade rara de aprofundar o estudo e prática dos ensinamentos do Budismo Tibetano.


Pergunta: “Existem muitos brasileiros interessados na prática da meditação, mas que não têm conexão com o budismo. O que o professor tem a dizer para elas e outras pessoas que não veem sentido em meditar ou se engajar em alguma prática espiritual?”

“Todos nós queremos encontrar felicidade. Queremos ter menos frustrações, insatisfações, problemas no coração e na mente. Todos nós queremos isso. Cada um de nós deseja paz, menos ansiedade, uma felicidade maior. Todos nós queremos isso.

De forma geral, muitos de nós, na maior parte do tempo, estamos sempre olhando para fora, pensando: “Alguém vai me fazer feliz”, “Algum trabalho vai me fazer feliz”, “Algum lugar vai me fazer feliz,” “Alguma posse vai me fazer feliz”. Mas na medida que crescemos e amadurecemos, vemos que nada daquilo é verdade. Ninguém lá fora pode nos fazer felizes de verdade. Nenhuma aquisição, nenhum emprego…

É óbvio. E quanto mais cuidadosamente nós olhamos, mais óbvio se torna. Se realmente queremos ser felizes, encontrar contentamento, liberação da ansiedade e assim por diante… realmente só há uma maneira. Você não tem que ser religioso, não tem que ser espiritual. Você tem que ser realista!

E isso é reconhecer que a única forma de você realmente encontrar satisfação, um maior sentido na vida, maior felicidade na vida, realização, é cultivando seu próprio coração e mente. Isso é apenas realista. Você não tem que acreditar em nada. É apenas bom senso.

Agora, nós podemos perguntar, antes de tudo: será que há maneiras com as quais estamos nos comportando (com nosso corpo, com nossa fala, mesmo com nossa mente) que estão prejudicando aos outros desnecessariamente?

Às vezes crianças tem que ser disciplinadas, talvez. Elas não gostam, mas estamos fazendo isso apenas pelo seu bem. Então, às vezes é assim. Mas, estamos nós prejudicando alguém, de alguma forma que não está sendo útil, mas apenas prejudicando?

Quando nós reconhecemos isso, vemos que causa dano para outras pessoas, mas também causa sofrimento a nós mesmos. Sempre. Então a primeira coisa é: realmente viver uma vida suave, sem causar danos. É o mais importante. Assim você não prejudica a si mesmo e não prejudica aos outros. Pelo menos isso!

E então se você quer realmente começar a cultivar as causas verdadeiras da felicidade, uma maior liberdade do sofrimento, da ansiedade, do medo, da aflição, então, é para isso que serve a meditação.

Meditação, em sânscrito, é “bhavana”. E “bhavana” significa cultivar, como um agricultor cultiva o campo. Ele não sai, simplesmente, e pega alguma comida aqui e lá, mas ele realmente se dedica ao solo, ele o lavra, o fertiliza, irriga, planta a semente, ele cuida, tira as ervas daninhas e então faz a colheita.

Então, em vez de sair por aí tentando achar alguma felicidade externa, nós a cultivamos com nossos próprios corações e mentes. E meditação é uma forma de fazer isso. Há muitas maneiras para meditar. Para muitas pessoas que estão começando, um tipo de meditação chamado shamata é muito útil.

O essencial dela, antes de tudo, é aprender como relaxar, aprender como relaxar o corpo muito profundamente. Sem tensão, sem estresse, sem contração. Saber como relaxar a respiração, respirar sem esforço. E aprender como deixar a mente relaxada. Então, primeiro de tudo, aprender como relaxar.

E então, gradualmente, por meio da meditação, cultivar uma calma interna, uma serenidade interna, quietude interna, uma presença. De forma que não estamos sempre distraídos, inquietos, agitados, excitados, mas realmente temos alguma paz mental. Isso pode ser cultivado por meio da meditação. E então, gradualmente, com base em relaxamento e estabilidade, podemos desenvolver clareza e vivacidade.

Portanto, com essas três qualidades, através da meditação, da atenção plena sobre a respiração e outros métodos, nós podemos ter maior presença, maior paz mental. E também quando estamos nos relacionando com outras pessoas. Porque as nossas mentes, internamente, estão quietas. Então nós podemos realmente focar nos outros com muito mais proximidade. E não ficar sempre sendo pegos pelos nossos próprios pensamentos, esperanças, medos, mas realmente focar nas necessidades dos outros.

Dessa forma, naturalmente, quando começamos a expandir nossas mentes e corações para focar outras pessoas, outros seres sencientes, nós também encontramos felicidade, uma felicidade maior.

Porque nossas mentes e corações se ampliam há maior paz e maior felicidade.”


Essa transcrição foi originalmente publicada por Gustavo Gitti no site da Bodisatva em maio de 2011.


Assista o vídeo:


Saiba mais

retiro com o Alan Wallace já está com as vagas esgotadas, mas você poderá acompanhar o evento pelo canal do CEBB no YouTube onde será transmitido.

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