Dalai Lama

Ecologia, Cultura e Direitos Humanos



Sua Santidade o Dalai Lama foi o convidado de honra da Conferência Internacional dos Grupos de Apoio ao Tibete, realizada em Sarajkund, perto de Nova Delhi, Índia, entre os dias 5 a 7 de novembro de 2010. O encontro reuniu 57 delegações de todo o mundo (um total de 258 participantes), entre elas o Centro de Cultura Tibetana (CCT), fundado no Brasil em 2008. Em seu discurso, o líder espiritual do Tibete expressou que a questão tibetana deve ser considerada a partir de três perspectivas diferentes: ecológica, cultural e dos direitos humanos.

Esse texto foi publicado na edição número 22 da revista Bodisatva, em 2011, e está sendo divulgado hoje no site, em homenagem ao aniversário do Dalai Lama. 


Sobre a perspectiva ecológica, Sua Santidade destacou que meio bilhão de pessoas na Ásia depende da água dos rios que nascem no território tibetano. Ele citou que cientistas chineses que consideram o platô tibetano como o terceiro polo do mundo, sugerem que seu status ecológico é tão importante quanto os do Polo Norte e do Polo Sul. “As pessoas que vivem nas regiões da Ásia favorecidas pela água vinda dos Himalaias sofrerão diretamente os impactos da transformação no meio ambiente tibetano”, alertou. Segundo ele, essas pessoas têm o direito de expressar sua preocupação sobre o futuro do Tibete. “Isso não tem nada a ver com política. A preservação do meio ambiente tibetano também é importante para a China”, acrescentou.

O Dalai Lama ressaltou que Ahimsa (não violência) é ação e ação depende de motivação, que por sua vez, tem como chave a compaixão. Ele considera a cultura budista tibetana como cultura de paz e de compaixão e vê que atualmente muitos cientistas têm demonstrado grande interesse em pesquisas sobre o impacto da meditação no cultivo da compaixão entre os indivíduos, seus estados mentais e nas comunidades. Instituições como as universidades de Wisconsin Madison, Stanford e Emory, nos Estados Unidos, desenvolvem esse tipo de projeto e vêm obtendo resultados bastante animadores.

Nos últimos anos, mais e mais chineses têm observado a questão tibetana, demonstrando que é uma causa justa e moral. O processo de diálogo com o governo chinês pode ser comparado com uma mão direita e o apoio da comunidade internacional com uma mão esquerda. Sua Santidade disse que se existisse um concreto resultado para a mão direita, a mão esquerda não teria nada para fazer. “O bloqueio que impede a solução para a questão tibetana está na falta de transparência, na existência de propaganda distorcida e na censura na China. Se esses elementos não estivessem presentes e se existisse um poder judiciário independente, a questão seria resolvida imediatamente”, afirmou.

A mudança na China deve ser gradual, de acordo com o Dalai Lama, não uma transformação para a democracia que ocorra da noite para o dia, o que poderia resultar numa situação caótica. Ele sugeriu que, assim como tem pensado em se aposentar, o Partido Comunista que dirige a China deveria, com graças e honras, pensar em uma aposentadoria gradual. O ex-primeiro-ministro da Índia Lal Krishna Advani apoiou o discurso do Dalai Lama sobre a democratização gradual da China, acrescentando que uma China democratizada é igual a um Tibete livre, caso contrário isso não será possível.

Durante o evento, o professor Samdhong Rinpoche, que ocupa o cargo de Kalon Tripa, equivalente à figura de primeiro-ministro do governo tibetano no exílio, mencionou que a natureza da composição do movimento mundial de apoio ao Tibete é voluntária e inspirada pelo amor à justiça. Citou o ativista Liu Xiaobo, uma das muitas vozes chinesas que clamam por democratização. Professor chinês de literatura e de direitos humanos, Liu Xiaobo foi preso em 23 de junho de 2009 acusado de “instigar a subversão do poder de estado” e sentenciado a 11 anos de prisão e 2 anos de privação de direitos políticos.

Por fim, Sua Santidade sugeriu que todos os grupos de apoio ao Tibete e ao Darma no mundo marcassem um dia em seus calendários para rezarem, como símbolo de solidariedade e comprometimento com o movimento de Ahimsa.

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