Yongey Mingyur Rinpoche esteve na cidade de São Paulo em maio de 2017, e, entre um ensinamento e outro, reservou uns minutos para conversar sobre as coisas de vida e morte com a Revista Bodisatva
“Quando fiz um retiro na montanha (Mingyur Rinpoche ficou por quatro anos em retiro solitário meditando nas cavernas dos Himalaias) conheci um nômade que ia levar suas ovelhas pastar por ali. Ele me viu meditando na caverna, contou-me que era budista também e ficou muito feliz de me conhecer. Volta e meia, o pastor me levava queijo e iogurte que ele mesmo fazia. Uma das minhas maiores dificuldades era fazer fogo para cozinhar. Só para ferver água demorava umas duas horas e, no final, a água tinha um gosto de fumaça. Um dia, quando eu estava tentando fazer fogo ele perguntou se poderia me ajudar. Usando um pauzinho ele remexeu umas poucas brasas e… puff! Acendeu a fogueira! Até parecia uma varinha de condão.
E eu ali, há horas tentando acender a fogueira… Meu amigo nômade insistia em querer saber de onde eu era, o que eu havia estudado etc. Eu não dizia quem eu era, somente falava que eu tinha muitos nomes. E ele retrucava que eu era estudado e esperto, que eu era uma pessoa muito especial. “Não sou nada de especial. Eu simplesmente estou aqui nessa caverna, mais nada”. E ele insistia. Finalmente, eu disse que, em alguns aspectos, eu poderia até ser melhor por ter estudado, mas que, em outros, ele era muito mais sábio. Sabia fazer fogo, escolher a lenha certa, cuidar dos animais e fazer queijo. Eu não sabia nada disso.”
Os mestres gostam de contar histórias. Rinpoche diz que todos – sem exceção – temos qualidades. Cada um de nós tem habilidades, sabedoria e capacidade. Mas normalmente não sabemos. “É muito importante apreciar o que temos e sentirmos gratidão. Esse é o primeiro passo para encontrarmos a felicidade.”
A mente está propensa à fixação mesmo que a realidade esteja mudando o tempo todo diante de nós e em nós. É isso que, no Budismo, chamamos de impermanência.
“Se nós aceitarmos e aprendermos mais sobre a morte, nossa mente ganha abertura, nós ficamos mais otimistas e a qualidade da nossa vida melhora. Algumas pessoas cometem o suicídio, porque não conseguem aceitar o real significado da morte, por isso não podem aceitar real o significado da vida. Para aquele que não compreende isso, viver perde o sentido. E, então, só deseja morrer. No Budismo, nós respeitamos a nós mesmos, ao nosso corpo, à nossa vida e à nossa verdadeira natureza. Por isso, não é uma boa coisa cometer suicídio.”
“Normalmente, temos muitos questionamentos sobre nós mesmos. Estudos científicos mostram que, se uma pessoa possui dez características, sendo nove positivas e uma negativa, ressaltamos a negativa e esquecemos as positivas. E, assim, passamos a não ver boas qualidades em nós.
Desde a minha infância eu faço uma prática de morrer. Isso realmente me ajuda a aceitar a natureza impermanente da realidade e a seguir o ritmo da natureza. Assim, eu consigo enxergar que a vida é colorida e que há tantas coisas a serem vividas.”
“O sentido da vida é diferente para cada um.”, explica o Rinpoche. “O meu sentido da vida pode ser diferente do seu sentido da vida, mas de, uma forma geral, todas as pessoas estão procurando a felicidade.
E como alcançar a verdadeira felicidade? Paz interior. Por reconhecer que temos amor, compaixão, sabedoria, paz e consciência podemos ajudar aos outros e influenciar positivamente as pessoas. Isso é uma vida significativa.”
Gratidão. É com essa sensação que conseguiremos alcançar a tão sonhada paz interior e uma vida com sentido.
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2 Comentários
[…] como ele lidou com a crise de pânico e o medo da morte. A contemplação da impermanência e da morte é uma forma de introduzir os Quatro pensamentos que transformam a […]
Muito bom.
Penso que a Felicidade é um estado de paz e serenidade e que está além dos condicionantes diários. Felicidade tem a ver com a qualidade de nossa mente. Felicidade e prazer são duas coisas muito confundidas.