Matéria publicada no site Bodisatva em 2012, atualizada em abril de 2017
Sua Santidade o Dalai Lama, foi o convidado do Instituto Legatum para o Simpósio sobre Ética para um Mundo mais Próspero, em 2012, onde conversou com jovens talentos profissionais de diversas áreas, incluindo finanças, política, direito e jornalismo. Na ocasião, o Presidente e CEO do Instituto Legatum, Jeffrey Gedmin, apresentou Sua Santidade dizendo que estava encantado com seu livro, “Beyond Religion — Ethics for a Whole World”*.
“Irmãos e irmãs, a coisa mais importante é que todos nós somos seres humanos. Os problemas que tentamos minimizar hoje dizem respeito a toda a humanidade. Portanto, temos que discuti-los em um âmbito humano.
Ele explicou que tem 77 anos de idade, que perdeu sua liberdade aos 16 anos e depois perdeu seu país quando tinha 24 anos. Logo depois que nasceu, a China e o Japão estavam em guerra, houve a Segunda Guerra Mundial, Guerra da Coréia, Guerra do Vietnã e logo se seguiu a violência de conflitos na Índia. Consequentemente, durante sua vida, foi testemunha de grande violência.
Embora no século XX se tenha alcançado imensas conquistas na ciência e na tecnologia, foi também uma era de sangue e sofrimento. Para que o século XXI seja diferente é preciso que haja uma nova abordagem para a resolução de problemas, o que implica uma nova abordagem para a ética.
Há uma necessidade de promover os valores humanos fundamentais, que, juntamente com a inteligência humana, podem ser a base para a criação de um mundo melhor.
Ele reconheceu que o auto-interesse tem um papel nisso, o que é certo e apropriado, porque as pessoas atormentadas por ódio por si próprias são incapazes de sentir interesse pelo outro. Pensar que cultivar a preocupação com os outros envolve negligenciar nossos próprios interesses é equivocado.
Em relação à ética para um mundo com um todo, ele sugeriu que uma vez que se torne possível incentivar a formação em ética secular dentro de um sistema de educação secular, do jardim da infância à universidade, a apreciação popular de tais valores deve naturalmente crescer.
Ele prevê um momento em que políticos, empresários e outros, estarão mais motivados pela ética saudável. Ele esclareceu que, quando usa a palavra secular, não quer dizer que implica uma rejeição da religião, mas um respeito imparcial por todas as religiões como fonte de valores. Ele disse:
Os que compunham a mesa se apresentaram e fizeram comentários breves. Christopher Chandler, fundador do Instituto Legatum disse:
A China entrou na conversa e Sua Santidade disse que considera que o povo chinês trabalha duro, são pessoas realistas. Ele comentou que o comunismo não tem suas origens na Ásia, mas na exploração que acompanhou a industrialização no Ocidente.
Ele mencionou que em sua juventude achava que as teorias marxistas de distribuição igualitária eram muito atraentes e que ele mesmo observou como os comunistas chineses dos anos 40 e 50 estavam verdadeiramente dedicados a servir as pessoas. Na verdade, ele ainda se considera um marxista budista. No entanto, após 1956, devido a uma mistura de falta de disciplina e declínio moral, esta dedicação se tornou corrupta.
Voltando-se novamente para a necessidade de educar as pessoas sobre valores humanos positivos, Sua Santidade observou:
Ele disse que a sociedade está baseada em relações entre seres humanos.
“Se você é verdadeiro e honesto irá atrair amigos verdadeiros, e não apenas parasitas imediatistas. A confiança é o fator chave. Quando você está motivado pela preocupação com os outros, não há espaço para exploração, trapaça e corrupção. A confiança não é algo que você pode comprar, nem pode adquirir pela força. Confiança depende de abertura e honestidade. É uma fonte fundamental de auto-confiança e força interior.”
Ele concluiu a sessão da manhã, observando que as pessoas de sua idade pertencem ao século XX, e que o futuro está nas mãos daqueles que pertencem ao XXI, que têm a oportunidade de torná-lo uma era de paz e prosperidade.
Após o almoço, Jeff Gedmin conduziu uma entrevista com Sua Santidade, que foi transmitida ao vivo […]. Ele enfatizou que é a nossa motivação que determina a qualidade das nossas ações.
Entrevista de Jeff Gedmin com Sua Santidade Dalai Lama no Simpósio sobre Ética para um Mundo mais Próspero. Legatum Institute. Outubro, 2012.
Para ilustrar como a nossa própria felicidade depende de todo mundo, Jeff Gedmin perguntou,“Como você pode desfrutar de uma refeição, enquanto o resto de sua família está passando fome?”
Ele disse que é preciso ter paciência e adotar uma abordagem realista, se quisermos alcançar a mudança, acrescentando:
“No geral, é minha convicção de que o mundo está se tornando melhor.”
Durante a sessão da tarde, representantes de grupos de discussão menores relataram o que haviam discutido. Sua Santidade também foi convidado a contribuir com seus comentários, que incluíram a sugestão de que quando uma empresa é transparente, a sua imagem é boa e todos os envolvidos se beneficiam.
“Ser naturalmente generoso e ter um bom coração é um valor muito mais elevado na promoção de um bom nome do que contratar uma empresa de relações públicas. Uma coisa que este idoso aqui aprendeu “, disse ele, “é que a verdade é poderosa”.
Tendo afirmado que as instituições políticas e religiosas devem ser separadas, ele observou que, quando um eremita é corrupto, não faz muito mal à sociedade, mas quando os líderes políticos são corruptos o prejuízo é generalizado.
Ele sugeriu que algumas de nossas idéias sobre liderança podem deixar de ser relevantes; não devemos esperar que os líderes tomem a iniciativa para a mudança. Ele citou o Buda dizendo:
Você é seu próprio mestre e o seu futuro depende de você.”
Christopher Chandler agradeceu a todos pela presença, dizendo que tinha sido uma boa oportunidade para falar sobre o coração e não apenas sobre coisas que podem ser medidas, como PIB e lucro. Amor, compaixão e calor humano são difíceis de medir. Ele apreciou Sua Santidade ter enfatizado a responsabilidade individual.
Ele perguntou: “E se parássemos de perguntar quem tem riquezas? E, ao invés disso perguntássemos quem estamos nos tornando? Quem nossos filhos estão se tornando?
Ele disse que muitas vezes se sugeriu que o capitalismo é de alguma forma imoral porque é impulsionado pelo lucro, mas propôs que um negócio só é bem sucedido se resolver os problemas das pessoas.
Jeff Gedmin se juntou a ele afirmando que as discussões do dia foram um sucesso. Ele apelou aos participantes a comprarem e lerem o livro de Sua Santidade, Beyond Religion (Além da Religião – versão traduzida) e a lerem o Índice de Prosperidade Legatum. Ele terminou dizendo a Sua Santidade que sua presença havia sido o presente do dia.
Durante esta visita aos EUA e ao Reino Unido, ele falou em nove universidades e em outros fóruns públicos.
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