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Familiarizando-se com as próprias emoções

Dzogchen Ponlop Rinpoche mostra como podemos nos libertar da posição de vítima de nossas emoções ao nos tornarmos íntimo delas


Por
Tradução: Eduardo Pinheiro

O grande mestre Dzogchen Ponlop Rinpoche chegará no Brasil em agosto, de 16 a 25, com tour nas cidades de Petrópolis, Rio de Janeiro, São Paulo, Três Coroas (RS), e retiro no Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), de 23 a 25, em Viamão (RS).

Conhecido pelos seus livros Buda Rebelde e Resgate Emocional, o sétimo Dzogchen Ponlop Rinpoche é reconhecido como um dos maiores mestres e estudiosos das escolas Nyingma e Kagyu do Budismo Tibetano. Tradicionalmente, as encarnações de Dzogchen Ponlop tem guardado os ensinamentos a partir do Monastério Dzogchen; em sua forma atual, Rinpoche tem se dedicado a trazer a essência da mensagem do Buda para audiências modernas, com humor e praticidade.

Nascido em 1965, Rinpoche fez sua formação tradicional na Índia, antes de vir para o Ocidente. Residindo nos Estados Unidos, é o fundador e presidente da Nalandabodhi, uma comunidade internacional de centros budistas, e do Instituto Nitartha para Altos Estudos Budistas, uma organização educacional dedicada à preservação dos textos filosóficos e religiosos tibetanos. Amante da música, arte e cultura popular, Rinpoche também é um poeta, fotógrafo e artista visual.

Em 2019, Rinpoche faz sua primeira visita ao Brasil, sob o título “A Revolução da Lucidez”, trazendo seus preciosos ensinamentos para as sangas brasileiras.

A Bodisatva publica parte do texto do livro Resgate Emocional, cedido gentilmente pela editora Lúcida Letra, que nos mostra como podemos nos libertar da posição de vítima de nossas emoções ao nos tornarmos íntimo delas.
Estamos nos preparando para chegada deste grande mestre!

Mais sobre o tour no site Dzogchen Ponlop Rinpoche e no site do CEBB.


Seja você mesmo. Os outros já têm quem ser.
— Oscar Wilde

Como seria a vida sem as nossas emoções? Meio chata? Como refrigerante sem gás? Sem o barulhinho e as bolhas não teríamos grande interesse em sorver a vida. As emoções trazem energia, cor e variedade, mas também nos fazem perder muito tempo confundidos por elas. Podem nos transportar para estados de pico cheios de êxtase e nos arrastar às profundezas da ilusão e do desespero – com todas as gradações intermediárias.
Levadas pelas emoções, as pessoas casam-se umas com as outras ou assassinam umas às outras (e, infelizmente, às vezes matam a mesma pessoa com quem se casaram!).

Todos os dias entramos na fila dessa montanha-russa emocional, que num momento nos deixa animados e no outro nos revira de cabeça para baixo. O que são estes sentimentos imprevisíveis e por que parecem estar no controle ao invés de nos deixarem controlá-los?

A resposta vai variar conforme o sujeito a quem perguntamos. Ela será diferente se partir de um cientista, um terapeuta, um sacerdote, um artista ou dos beneficiários comuns de nosso amor ou aversão – nossa família e amigos/ inimigos. Um provérbio asiático diz que as emoções são “remédio se tomadas com conhecimento; veneno se mal utilizadas”. Caso aprendamos a lidar habilidosamente com nossos sentimentos, eles serão como remédio, portadores de grande sabedoria; mas caso não possuamos essa compreensão, acabaremos envenenados, em grande sofrimento e cheios de danos.

Enquanto estamos enfeitiçados por nossas emoções, é como se estivéssemos doentes. Não conseguimos por mera força de vontade evitar mal-estares, dores e febre. É preciso que deixemos a doença seguir seu curso ou intervir com algum tipo de tratamento. Caso entendamos nossa enfermidade, podemos tomar os passos para alcançarmos a cura e terminarmos com o sofrimento. Porém, se não soubermos o que estamos fazendo, se tomarmos o remédio errado, acabaremos ainda mais doentes.

Da mesma forma, quando entendemos nossas emoções e o que as energiza podemos trabalhar com sua potência intensa e começar a curar o sofrimento. Para realmente conseguir ajuda para lidar com as emoções precisamos ir além de uma mera compreensão intelectual. Não é suficiente saber quantos tipos de emoções existem. Quando vamos além do que achamos que sabemos e olhamos diretamente para nossa experiência pessoal com a raiva, a paixão ou o ciúme, o que descobrimos? Não se trata apenas de reconhecermos os tipos de pensamento que estamos tendo. Diz mais respeito a descobrir as emoções em sua essência. Reconhecermos que a raiva nos faz querer revidar ou que o desejo nos faz querer agradar é só o início. Conhecer de fato as emoções é desafiador, mas também é uma fonte de inspiração. Quando reconhecemos que estamos sendo continuamente surrados por nossos sentimentos, podemos desenvolver a determinação necessária para aprender como nos resgatarmos.

Antes de alcançarmos a compreensão real ou sabedoria sobre nossas emoções, precisamos primeiro ter uma ideia clara sobre o que elas são e como funcionam. O poder das emoções vem de uma fonte simples, ainda que profunda: nossa falta de autoconhecimento. É por isso que, quando nos conscientizamos mais da experiência do sentir, algo realmente fantástico acontece: os sentimentos perdem o poder de nos fazer sofrer. Portanto, é vital reconhecer como as emoções operam em sua vida e o quanto a sua influência pode ser devastadora quando estão no controle. Com esse conhecimento começamos a ser novamente independentes. Começamos a reconhecer rotas alternativas para todos os velhos padrões de medo, dúvida, raiva, orgulho, paixão e ciúme, que nos roubam tanta felicidade. Obtemos novamente poder para navegar nossa vida com autonomia.

Ainda assim, nossas emoções estão aí há muito tempo, são como velhas amigas. Se não aparecerem, sentiremos falta de seus rostos tão familiares. Mas também sabemos como elas podem nos enganar, vez após vez, com suas promessas: Ouça aqui, desta vez será diferente! Desta vez explodir de raiva certamente é seu direito! Você se sentirá tão melhor! Desta vez isto vai preencher de verdade o seu vazio interior.

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O programa de resgate emocional em três passos

Quando atormentados pelas emoções, o que fazemos? Provavelmente buscamos uma saída. Porém não conseguimos ver as emoções da mesma forma que identificamos fumaça ou fogo, e então onde você as procura?

Não é possível decidir com precisão. Minha raiva está batendo à porta, então vou fugir pelos fundos. Caso nossa reação venha do pânico, sem reflexão, podemos acabar escapando da frigideira, mas caindo no fogo. Não dá para saber o que vamos encontrar no quintal. Em vez de deixarmos nosso bem-estar ser decidido pelo acaso, uma ideia melhor é ter um plano de resgate emocional para os momentos em que nos depararmos com uma situação emocional incerta, quando estivermos em busca de ajuda.

O programa de resgate emocional em três passos apresentado neste livro pode ajudar no aprendizado das habilidades necessárias para abandonar velhos hábitos em favor de formas novas e mais alegres de se expressar.

Os três passos são: Atenção ao Vão, Visão Clara e Soltar. São métodos progressivos – cada um surge do anterior – que aos poucos nos fortalecem para o trabalho com as emoções mais difíceis, inclusive para transformá-las.

Em resumo, a Atenção ao Vão é a prática de criar uma distância segura entre você e suas emoções, o que abrirá um espaço psicológico para o trabalho com a energia delas. Visão Clara é a prática de olhar tanto para as emoções quanto para a paisagem circundante. Tentamos ampliar nossa visão panorâmica até incluirmos a identificação de nossos padrões de comportamento. Soltar é a prática de liberar a energia do estresse, seja ela física ou emocional, com exercícios físicos, relaxamento e principalmente através da consciência plena.

A cada passo do aprendizado nos familiarizamos mais com o funcionamento das emoções. Começamos a ver além das camadas externas e densas que mascaram nossa verdadeira natureza. Num dado ponto, reconhecemos diretamente o coração da raiva, da paixão, da inveja e do orgulho. Até mesmo a ignorância e o medo se tornam transparentes.

Tomados em conjunto, o domínio dos três passos pode produzir uma profunda cura emocional. Cada um dos passos pode ser um ponto de transformação em que o relacionamento com as próprias emoções se transforma e evolui. Em vez de simplesmente passarmos dificuldades com emoções, é possível o desenvolvimento de uma parceria criativa com elas. Com tempo e prática, a ansiedade e a dúvida dão lugar à certeza e à confiança. Aos poucos, descobrimos que as emoções são a porta para a própria liberdade que buscamos – são elas que abrem o caminho, em vez de criarem obstáculos.

De certa forma, este livro não vai ensinar nada totalmente estranho à experiência que já temos. Já possuímos dentro de nós a maior parte do conhecimento necessário para nos libertar das formas habituais de reagir às emoções. Estes hábitos são, afinal de contas, nossos. Quem estaria mais familiarizado com eles do que nós mesmos? Porém é útil aprender formas novas de utilizar esse conhecimento – o próprio bom senso, bem como o discernimento que cada um de nós já possui – para ver o que nos está impedindo e o que pode nos mover em direção à liberdade.

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O que há em um nome?

Antes de entrar em detalhes quanto ao Plano de Resgate Emocional em Três Passos (para abreviar, vamos chamá-lo de Plano RE de agora em diante), seria útil examinarmos a definição de “emoção”. O que dizem os dicionários? Uma vez que tivermos essa definição básica, podemos analisar o que chamamos de “emoção” do ponto de vista do Plano RE, o que acrescenta outra dimensão de entendimento. Se a definição de dicionário dissesse tudo, talvez fosse possível aprender ali todo o necessário para controlar e minimizar a dor causada pelas emoções, mas o fato é que ainda é necessário procurar em outros locais além do dicionário para obter um lampejo da experiência transcendente.

A definição básica do Oxford English Dictionary ao FreeDictionary. com, nos diz que uma emoção é um estado mental intensificado que vivenciamos como agitado, perturbado ou ansioso, e que surge em conjunto com sintomas físicos igualmente aflitivos – batimentos cardíacos e respiração acelerados, talvez choro ou tremores. Até mesmo a origem do termo “emoção” (do francês antigo e do latim) significa excitar, movimentar, mexer. Esses estados de sensação são geralmente descritos como estando além de nosso controle consciente ou do poder da razão.

E quanto às emoções que causam sentimentos de felicidade? O amor e a alegria também não seriam emoções? Sim. Mas estados mentais como amor, alegria e compaixão não estragam nosso dia. Devido a eles, nos sentimos melhores, mais serenos e com mais clareza.


Este trecho faz parte do livro Resgate emocional: Como trabalhar com suas emoções e transformar o sofrimento e a confusão em energia que te fortalece, publicado pela editora Lúcida Letra.


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