Instruções ao Cozinheiro: a refeição suprema

Saberes que alimentam sonhos e métodos para um mundo mais justo


Por
Revisão: Breno Airan

A obra “Instruções ao Cozinheiro”, de Bernie Glassman, traduzida pelo monge Koho Mello, vai além de um simples livro de receitas; é um convite à reflexão sobre como podemos servir o próximo e transformar a sociedade. Cristiane Schardosim Martins, que fez a preparação da tradução, destaca que a leitura deste texto desafiou suas percepções sobre o Budismo, revelando uma filosofia que prioriza a compaixão e a ação social.


Lá estava eu com a Revista Bodisatva recém-surgida no meu fazer, me apontando uma nova profissão no horizonte e uma novíssima identidade no caminho da lucidez. 

Recebi da editora, a jornalista Lia Beltrão, o convite para fazer a preparação do texto traduzido pelo monge Jorge Koho Mello, do livro Instruções ao Cozinheiro: ensinamentos de um mestre Zen para viver uma vida com sentido, do professor Zen tradicional e ativista social estadunidense Bernie Glassman. 

Na mesma hora, surgiu na minha mente um livro de receitas e de instruções para o responsável na cozinha de um mosteiro. 

Nada poderia ser mais distante do que realmente chegou às minhas mãos. 

Não encontrei nenhuma receita de culinária, nenhuma dica de como fazer alimentos mais saudáveis, nada de instruções para aperfeiçoar a prática budista na cozinha. Encontrei, isso sim, a história de um homem que pôs em banho-maria todos os meus conceitos a respeito do Budismo, de que essa religião seria, de certo modo, elitista e individualista. 

O começo do livro me colocou no topo de um poste de 30 metros, tentando responder à pergunta proposta: como prosseguir a partir desse lugar? A resposta do autor é o que está no livro. 

Para Bernie, é preciso viver a vida plenamente e, para ele, “viver plenamente” seria “servir a refeição suprema”. Diante desse objetivo, depois de tantas leituras do livro, eu até ousaria propor outro título para esta obra lançada em 2023: “A Refeição Suprema”.

 

Capa do livro com fundo preto, uma tigela branca e dois hashis brancos. Em vermelho, à direita, está escrito o título do livro: "Instruções ao cozinheiro: ensinamentos de um mestre zen sobre viver uma vida com sentido", de Bernie Glassman e Rick Fields.

Capa do livro lançado pela editora Bodisatva (Foto: Reprodução)

Para mim, foi exatamente isso o que experimentei quando descobri que Bernie Glassman, em boa parte da vida, serviu a refeição suprema para muitos seres, em especial para as pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ele não lhes deu apenas comida, embora tenha sido essa a sua intenção primordial – dar de comer a quem tinha fome. 

Bernie viu que homens e mulheres em situação de vulnerabilidade necessitavam de um “nascimento elevado”, para usar uma expressão muito referenciada pelo meu professor, o Lama Padma Samten. 

Tendo como base os ensinamentos do Cozinheiro Zen, Bernie nos apresenta o sumário, em forma de cardápio, constituído por cinco pratos principais: Receitas para o espírito; Receitas para aprender; Receitas para a subsistência; Receitas para a transformação social; e Receitas para a comunidade.

O quarto prato, que apresenta as receitas para a transformação social, me fez sair do banho-maria, e passei a sentir o calor das panelas aumentando. Já estava derretida, e começava a borbulhar, quando li:

O meu interesse em alimentar os outros – naquilo que as pessoas chamam de ação social – tem muito a ver com o que posso aprender com as pessoas a quem pareço estar ajudando. Tornando-me um com elas, vendo o mundo, tanto quanto possível, através de seus olhos, eu aprendo quais são suas necessidades. Ao mesmo tempo, eu amplio e expando minha própria visão da vida”.

Bernie Glassman, que até hoje é estudado na Harvard Business School, nos desafia a enxergarmos além das aparências e a nos comprometermos verdadeiramente com o bem-estar dos outros, adotando uma postura de compaixão ativa. Ele nos ensina que o caminho para um mundo mais justo começa nas pequenas ações cotidianas e no reconhecimento da dignidade intrínseca de cada ser humano.

Espero que você possa se alimentar com esses pratos servidos no livro Instruções ao Cozinheiro e fazer deles fonte para a sua atividade no mundo.

Ligue o forno e fique sempre de olho. Isso também nos aquece por dentro.

A autora do texto Cristiane Martins Schardosim, mulher branca, está sentada no chão com os braços apoiados sob uma pilha de livros. Ao fundo, observamos uma porta à esquerda, uma cadeira e uma estante de livros à direita.

Autora do texto Cristiane Martins (Foto: Acervo pessoal/ cortesia)

Vale dizer que a Simple School, liderada por Jorge Koho Mello, está facilitando o estudo do livro todas as quintas-feiras, às 18h. Não há pré-requisitos para participar. Mais informações e inscrições em simpleschool.ch.

 

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