Madianta-Vibanga

O Discurso sobre a Discriminação entre o Meio e os Extremos


Por
Tradução: Lama Padma Samten

O texto Madianta-Vibanga, ou Discurso sobre a Discriminação entre o Meio e os Extremos, atribuído ao Bodisatva Maitréia-Asanga e comentado por Vasubandu e Stiramati é uma das obras fundamentais da escola Yogacara do Budismo do Norte. Foi traduzido do Sânscrito para o inglês por Th. Stcherbatsky. A tradução em português, feita entre março e julho de 2004, no CEBB Caminho do Meio, é de Lama Padma Samten e foi publicado na edição nº da Revista Bodisatva. 

Lama Samten citou o sutra durante o Retiro de Verão que está acontecendo no CEBB Caminho do Meio e termina no domingo. Para ter acesso as gravações dos ensinamentos e ainda participar do retiro, clique aqui.


  

1.1

Existe o Criador Universal de fenômenos

(Mas ele mesmo) não se apresenta dividido

Em duas partes (o objeto e o observador),

O Absoluto, entretanto, está contido nele,

E no absoluto ele se inclui.

 

1.2

Nem se afirma

Que torpedos (os elementos) sejam irreais,

Nem que sejam realidades completas;

Porque há existência,

E também não-existência,

E (novamente) existência:

Este é o Caminho do Meio.

 

1.3

A própria Mente aparece a nós

Como uma projeção de coisas,

Assim como de seres vivos,

de um Eu e suas sensações.

Seus objetos não existem entretanto,

E sem eles, também irreais são

Estas ideias.

 

1.4

Está então estabelecido

A mente cria ilusão.

(A realidade) não é (como aparece),

Nem é uma ausência completa.

A Ilusão pode ser extinta,

A extinção significa Salvação

Este é o nosso Postulado.

 

1.5

Objetivamente isto é totalmente imaginado

Na forma como o Construtor disso o imaginou.

É interdependente,

Como a fusão do sujeito com o objeto

Iso é chamado (o Absoluto)

O ‘non plus ultra’ da realidade.

 

1.6

Quando (o Absoluto) é considerado

Todos os objetos desaparecem

Quando desapareceram todos os objetos

Seu observador também desaparece.

 

1.7

Assim está provado que a visão desde o Absoluto

É a não-percepção.

Portanto deve ser entendido

Que visão e não-percepção são iguais.

 

1.8

As estruturas cognitivas são Construtores da Aparência

Em todos os Três Reinos dos Seres,

São elas a própria mente e seus derivados.

A Mente percebe

Suas manifestações [seis mentes sensoriais] percebem as qualidades [e aparências].

 

1.9

Uma é a Mente-Fundamental,

A outra é a própria [mente da] experiência sensorial.

As manifestações

São,

[Os órgãos dos sentidos, mente associada, objeto dos sentidos]

Elas sentem, compreendem

E ativam a experiência sensorial.

 

1.10 e 1.11

O mundo é afetado por doze Grandes Impedimentos:

1) Por ser (a natureza da mente) ‘coberta’ [avydia: cegueira — a visão fica coberta] e

2) Por ser ‘predisposta’ [samskara: predisposta devido ao depósito de resíduos] e

3) Por ser ‘conduzida’ [vijnana: surge a consciência que conduz via energia] e

4) Por ser ‘determinada’ [nama-rupa: embrião] e

5) Por ser ‘completada’ [shadayatana: embrião amadurece] e

6) Por ser ‘triplamente definida ‘[spasha: órgão, consciência e objeto] e

7) Por ser ‘experienciada’ [vedana: agradável, desagradável, indiferente] e

8) Por ser ‘sumarizada’ [trishna: desejo sexual e apego] e

9) Por ser ‘privada de’ [upadana: busca incessante dos objetos do desejo, mente polarizada] e

10) Por ser ‘completada’ [bhava: surge a experiência de existência de uma nova vida originada das marcas da vida anterior] e

11) e 12) Pelo ‘sofrimento’, (por nascimento e morte) (este mundo é atormentado).

Pelo Construtor das Aparências (surgem estes doze impedimentos). Eles podem ser divididos [de três modos, como] um grupo de três, [como] um grupo de dois e [como] um grupo de sete elementos. [jeti e jana-marana: circunstâncias da vida — nascimento, envelhecimento e morte].

 

1.12

O Absoluto, sua essência e seus nomes

Seus significados e suas divisões

As provas (de sua existência)

(Cinco tópicos) precisam ser brevemente examinados.

 

1.13

A irrealidade de ambos

(O objeto e o sujeito),

E a realidade (subjacente) a esta irrealidade,

(Isto é a essência do Absoluto).

Isto nem é asserção,

Nem é negação.

(E o Construtor dos Fenômenos)

Nem é diferente disso

Nem é de fato o mesmo.

 

1.14

Realidade Auto sustentada imutável, a Verdade Mais Elevada,

Realidade Indiferenciada, o Objeto Puro Derradeiro,

O Fundamento dos Poderes (do Buda),

Aqui estão, em resumo, sinônimos para o Absoluto.

 

1.15

Na ordem de sua citação eis o que significam:

1) Nunca diferente e 2) Nunca enganosa,

3) Extinção de (toda a diferenciação)

4) O ponto focal intuído pelo Santo.

5) A base de seus poderes (místicos).

 

1.16

Nem é fenomenalizado

Nem é o Puro Absoluto.

Nem é impura e nem é pura.

Sua pureza é admitida

Como admitimos a pureza

Da água,

Do ouro e do éter.

 

1.17

O Sujeito que tem a experiência,

Os objetos que experimenta,

Seu corpo, seu mundo circundante,

São Elementos de Reatividade

(Cujo substrato é a Realidade Absoluta).

O conhecimento que compreende isto,

O modo pelo qual isto é compreendido

A motivação pela qual ísto é compreendido,

(Este conhecimento) é também Relatividade,

(Cujo substrato é a Realidade Absoluta).

 

1.18

Para atingir a dupla felicidade.

Para ajudar de modo duradouro as criaturas vivas,

Para abandonar o mundo fenomenal,

E para atingir o Êxtase Eterno [Incessante].

 

1.19

Para a Purificação de sua Linhagem,

O Santo atinge a Salvação.

Para Pureza

Dos Poderes do Buda

O Bodisatva então segue.

 

1.20

Esta Relatividade (é dupla):

Do indivíduo e de seus elementos.

Aqui Relatividade significa irrealidade.

Mas para essa irrealidade

Esta é a contrapartida da Relatividade.

 

1.21

Se não houvesse impureza nos fenômenos

Todos os seres seriam Santos,

Mas se o Absoluto Puro e Transcendente não existisse,

O esforço para a salvação seria em vão.

 

1.22

Nem obscurecido e nem não obscurecido

Nem puro e nem não puro.

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