Carta Fé na Democracia reúne esperança de muitas entidades e pessoas quanto ao futuro do Brasil
O lançamento da Carta Fé na Democracia reuniu, de modo presencial em Viamão (RS) e virtual através da plataforma zoom, nesta segunda-feira, 24 de outubro, centenas de pessoas e instituições engajadas na promoção de uma cultura de paz. Elas apresentaram o documento com propostas, em especial, aos candidatos ao segundo turno da eleição presidencial, que acontecerá dia 30, próximo domingo, mas também a toda a sociedade brasileira. Trata-se de um diagnóstico do presente e de uma pedagogia a ser adotada a partir do pleito, como definiu o professor Luiz Gonzaga de Souza Lima.
Até o momento, assinaram a Carta Fé na Democracia 97 instituições e 3.602 cidadãos e cidadãs. Para ler e assinar o documento, basta acessar https://www.fenademocracia.org.br/.
Segundo o Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), o Instituto de Estudos da Religião (ISER) e a Iniciativa Fé no Clima – entidades organizadoras do documento – a finalidade é gerar a consciência da interdependência entre toda a vida na Terra e assim desenvolver a cultura de paz.
Em roda com alegria
A interpretação de “Tempos Modernos”, canção de Lulu Santos, pelos estudantes da Escola Caminho do Meio deu o tom de alegria e harmonia do evento realizado no templo budista. Na sequência, o anfitrião Lama Padma Samten enfatizou o significado da reunião para o lançamento da Carta Fé na Democracia: “É significativo esse impulso de estarmos juntos, vibrando boas conexões, porque todos temos a mesma natureza divina, ainda que pessoas façam ações muito agressivas e tenham um comportamento limitado”.
Samten apontou o necessário acolhimento aos responsáveis pela criação de situações ainda mais difíceis às distintas camadas da sociedade brasileira nesses últimos anos, aludindo à parábola cristã do Filho Pródigo. “O mundo não vai melhorar pelo autocentramento e acirramento das diferenças, nem pela acumulação. No budismo percebemos a liberdade natural de construir nossas realidades: se podemos ser autocentrados, também podemos ser amorosos, compassivos e celebrar a nossa amizade ao sonhar e construir mundos. Essa é a visão budista, desta possível construção de mundos melhores. Com certeza somos virtuosos. Se existe humanidade é porque as pessoas se associaram em diferentes tempos, sentaram-se em roda e se alegraram. E assim vamos seguir.”
Para Clemir Fernandes (ISER), “Fé na democracia” é uma afirmação corajosa sobre a aposta na liberdade, na justiça, no respeito pela diversidade, laicidade e diversidade religiosa. “Acreditamos em uma democracia mais que formal, efetiva para quem nunca a teve, como os povos indígenas e os povos marcados pelo racismo. Queremos construir, através da democracia, um país onde a dignidade seja para todos, onde todos os entes possam ser reconhecidos. Vamos caminhar assim para que no domingo, 30 de outubro, apostemos num futuro maravilhoso às crianças, aos adultos e melhor a todos os seres”, disse.
O cacique geral Mbyá Guarani do Rio Grande do Sul, Cirilo Morinico, enalteceu o encontro em Viamão e a urgência de diálogo em torno do tema democracia no país e dignidade para todos os povos. “Nós lutamos porque, se ficarmos parados, ninguém escuta. Desde que os brancos invadiram nossos territórios, continuamos em resistência vivendo em paz e com alegria porque os xamãs nos ensinaram assim. Apesar dos ataques contra nosso povo, temos esperança de que nossos filhos voltem a viver bem, a ter espaço para plantar, a ter a mata e os lugares sagrados preservados,” disse. Cirilo explicou que os povos em geral não terão muitas felicidades sem a mudança nos rumos do país. “Nós sempre agradecemos ao criador do mundo pelas condições de todos viverem bem. Mas, a ganância não deixa. Todo ser humano precisa ser livre, nosso pai é único, e se continuarmos a não enxergar nem ouvir o potencial das matas, das terras, da natureza, vamos perder a força que possuímos”, analisou.
O professor Luiz Gonzaga de Souza Lima, autor do livro “A refundação do Brasil: rumo à sociedade biocentrada” destacou diversos aspectos da “Carta Fé na Democracia”. Para ele, representa a oportunidade – diante da gravidade no contexto político brasileiro – de diagnosticar os efeitos da barbárie, da violência, da fome, da desconexão com a natureza, da degradação da vida material e espiritual. “A Carta oferece uma pauta para a superação; é sobre como reconstruir as conexões com a natureza, a justiça social, a participação horizontal ampla. Ela traz uma pedagogia para unir de novo o Brasil e sairmos do racismo, da desigualdade, da discriminação de todas as diferenças. As propostas estabelecem um campo em torno do qual vamos tocar a alma da população brasileira. Essa mobilização irá além do dia 30, precisaremos criar formas de atração pelos valores do humanismo e a vontade de sermos uma sociedade de seres humanos que respeitam a vida.”
A Carta também recebeu apoio da candidatura de Lula. Em vídeo enviado, Geraldo Alckmin salienta o comprometimento com os valores do documento: “Iniciativas como a que vocês tomam, fazem a diferença e somam a esta corrente pela democracia e pela prosperidade. O candidato Lula tem compromisso com cada um dos temas elencados. Corrupção: liberdade para investigar e punir possíveis desmandos. Economia: prioridade total para a geração de empregos de qualidade e valorização do salário mínimo para combater a miséria. Florestas e biomas: interromper o estado de ilegalidade que se colocou na Amazônia e promover uma transição para a economia verde. Diversidade religiosa: o presidente Lula sancionou a Lei de Liberdade Religiosa e é defensor de que cada um e cada uma possa expressar sua religião sem medo de ser perseguido ou retaliado”.
Em mais de três horas de live, que pode ser conferida no canal do CEBB no Youtube, dezenas de lideranças e autoridades abordaram os temas da Carta Fé na Democracia desde os seus lugares de fala, exprimindo interesses comuns motivados pelo exercício da cultura de paz. Entre outros, ouvimos Frei Betto, Adão Preto Filho (deputado eleito), Dionísia Machado Oliveira (da Comunidade do Castelinho), juíza Ana Inês Latorre (Associação Juízes pela Democracia), Monge Jorge Koho Mello, Cláudio Fioreze (Coordenador do curso de extensão do IFRS), Sergio Kumpfer (Professor e secretário de aposentados e assuntos previdenciários da CNTE), Edite Faganello (Instituto Nhandecy e Carta da Terra), Mauricio Barcellos Degelman (Instituto GT3 – Grupo de Trabalho do Terceiro Setor e Movimento Nacional ODS Paraná), Fábio Bento (Sociólogo, Teólogo e membro do ReUnir (Rede Unidade e Resistência), Johnson Pinto (Copresidente Nacional do MPpU (Movimento Político pela Unidade), Sandro Sergio Rolim Câmara (Facilitador do CEBB, fundador e confrade da Comunidade RIOZEN Brasil, representando aqui o Fórum DIÁLOGOS da Diversidade Religiosa em Pernambuco), Monja Jigme Chodzin (Drukpa Kagyu), Sidney Rocha (NEIMFA – Diretor do Núcleo Educacional Irmãos Menores de Francisco de Assis, Recife PE), Aurino Lima (ABRAPET – Associação Brasileira para o Ensino e Pesquisa em Psicologia Transpessoal), Maria Lala Aché (Instituto Cy), Ananias Viana (liderança dos quilombos da Bahia) e Francisco Milanez (ex-presidente da Agapan).
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