Conselhos de Roshi Norman Fischer sobre como podemos nos relacionar com os ensinamentos únicos e peculiares do Mestre Dogen, monge japonês do século XIII
Poeta, tradutor e sacerdote zen budista há quase 30 anos, Roshi Norman Fisher também é um dos mais respeitados professores Zen da América. Em 2022, a comunidade O Lugar recebeu Norman online, para falar sobre seu livro O mundo poderia ser diferente — Imaginação e o caminho do bodisatva, que foi tema de estudo da comunidade. A equipe da Bodisatva traz aqui a resposta do Roshi, quando perguntado sobre como podemos praticar os ensinamentos do Mestre Dogen.
“Tenho estudado Dogen durante muitos e muitos anos e realmente aprecio o caminho de Dogen. Na verdade, muito do que digo aqui realmente vem do caminho do Zen do mestre Dogen e, claro, para apreciar alguma coisa você precisa realmente mergulhar naquilo, não pode reduzi-lo a algumas ideias, mesmo que elas sejam precisas. Como quando você vai fazer chá: você não pega o saquinho de chá e fica girando só na água, você tem que colocar a bolsinha de chá dentro da xícara, deixar aquilo ser absorvido.
Dito isso, vou dizer algumas ideias sobre Dogen.
Na verdade, o principal pensamento de Dogen é muito parecido com o que acabei de citar de Shantideva. O pensamento que Shantideva expressa neste capítulo diz que nossa frustração é trabalhar em direção a um objetivo e talvez alcançá-lo, e isso é decepcionante; ou você não atinge o objetivo e é frustrante.
Portanto, a ideia principal de Dogen, realmente, é que o despertar, a iluminação, o objetivo do Budadharma é a prática. Prática é despertar, despertar é prática. Então, assim como Shantideva disse, cada passo do caminho é alegria, cada passo do caminho está completo.
O segundo ensinamento do Mestre Dogen que está relacionado a esse, é que o tempo inclui tudo. Então, cada momento do passado e do futuro está em cada momento do presente. Isso significa que quando você está sentado em zazen, você está sentado no mesmo momento da iluminação do buda
E quando você passa o dia interagindo com outras pessoas, esses são momentos do buda, também interagindo com outras pessoas.
Então isso significa, como disse no começo, você não é quem você pensa que é, e seria um crime se reduzir a algo tão pequeno quanto o que você pensa que é.
Então na forma de pensar do Dogen nós vamos além do buda. Ser um buda não é suficiente, é limitado demais. Ele diz que tem seres comuns como nós e os budas, e nós vamos além de ambos.
E como é isso? É como eu e você. Isso é muito lindo pra mim porque significa que quando a gente se apaixona um pelo outro, quando ferimos o sentimento do outro, quando desejamos bem para o outro, quando sofremos porque um de nós morreu, quando estamos com medo, quando enviamos nossos filhos para o mundo e esperamos o melhor para eles, quando ficamos incrivelmente felizes quando um neto nasce, ou um filho, nós temos orgulho dele. Todos esses sentimentos são sentimentos do buda.
Toda prática de ser humano é realmente a prática do buda nos céus. Nós não estamos tentando eliminar esses sentimentos humanos.
Portanto, não estamos tentando ser um buda no altar com um sorrisinho, que vê tudo e não tem sentimentos, não estamos tentando ser isso
Todos esses sentimentos humanos surgem em nós com esse pano de fundo do caminho do bodisatva.
E ainda que sintamos essas emoções aflitivas, nós as entendemos e as colocamos de lado. Não tentamos ser diferentes do que somos, estamos tentando ser realmente quem somos.
Eu acho que é isso que o Dogen está ensinando
As pessoas dizem pra mim que o Dogen é muito difícil de entender, mas depois de ler por cinquenta, sessenta anos os ensinamentos do Dogen, não acho que ele seja muito difícil de entender. Acho que a única parte difícil é que a gente não consegue acreditar que seja tão simples.
Quando você lê com cuidado, vê que é bastante simples e muito, muito inspirador.
Um último conselho de coração para podermos sempre lembrar, para apoiar o nosso caminho:
Rezo para que todos nós, de mãos dadas, sentados juntos e respirando esta respiração humana que vem da terra, voltemos juntos para beneficiar todos os seres, vida após vida, no silêncio e na luz.”
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