Relato de uma praticante sobre a construção do Templo Akanishta, no Bacupari
Neste relato profundo e inspirador, a praticante compartilha sua experiência de retiro no CEBB Bacupari e sua visão sobre a construção do novo Templo Akanishta. O texto revela as bênçãos e desafios enfrentados durante a prática intensiva, a beleza do ambiente natural e a importância da sanga. A construção do templo, guiada pela aspiração compassiva do Lama Padma Samten, é vista como um marco de generosidade e mérito, proporcionando um espaço para a prática profunda e o benefício de todos os seres. Prepare-se para uma leitura rica em sabedoria e gratidão.
A primeira vez que estive no CEBB Bacupari foi para um retiro de dois meses, que iniciou em dezembro de 2020. Estava morando, desde o início da pandemia, na aldeia CEBB Caminho do Meio, vendo toda a catástrofe ecológica, econômica e social aumentar a cada dia, os desafios pessoais e coletivos se somando e a capacidade de lidar com todo esse caos sendo muito menor do que a aspiração de gerar algum benefício para quem quer que fosse . Era como se tivesse ficado claro que não bastava mais continuar lendo, estudando, ouvindo, praticando superficialmente as instruções que recebia dos ensinamentos dos mestres e mestras que acompanhava. Era necessário mergulhar em uma rotina voltada apenas para a prática, viver um tempo com o foco no silêncio e descobrir o que surgiria dali.
Foram dois meses de prática em sanga, um grupo em constante renovação a cada ciclo de retiros. Grande parte desse tempo fomos guiados por Lama Padma Samten, iniciando pelo já clássico Retiro da Iluminação do Buda, de 1 a 8 de dezembro, no qual percorreu o ensinamento de Dudjom Rinpoche, Iluminação da Sabedoria Primordial, e o Sutra do Diamante proferido pelo Buda Shakyamuni. Em seguida, em janeiro, Lama Samten ofereceu dois retiros de 14 dias debruçando-se sobre diferentes textos do Cânone Pali, como Anapanasati, Kayagatasati, Satipatthana e Tapussa Sutta durante as manhãs. Nas tardes, tínhamos o período de prática de meditação silenciosa, à noite o puja e um momento para fazermos perguntas. Nos anos seguintes, este formato de retiro seguiu e o grupo aumentou, chegando à lotação máxima do atual templo, em torno de 25-28 pessoas.
À medida que os dias iam passando, só aumentava a certeza de que esta condição em que essas poucas pessoas estavam era algo muito precioso e que qualquer um que pudesse se dedicar à prática desta forma seria muito beneficiado em pouco tempo. O Lama presente conosco, transmitindo a visão do Buda e nos ensinando pelas costas a cada movimento, a cada fala, a cada passo. A sanga, rica em oportunidades e desafios, trazendo à tona o material que cada um precisava olhar para iluminar os obstáculos internos e externos. O ambiente natural do litoral riograndense, com céu vasto e sol caloroso, terra trabalhável e generosa, águas que acalmam e revigoram e ventos que podem levar embora até os pensamentos mais insistentes. Não tive dúvidas de que deveria continuar recebendo as bênçãos de todos aqueles que vieram antes de nós e propiciaram através de estudo e prática as condições para que, naquele momento, pudéssemos seguir praticando.
Demorei para me conectar com os ensinamentos budistas nesta vida e, após a ligação estabelecida, também foram alguns anos até realmente mergulhar na prática formal. Achava que não era pra mim. Fico silenciosamente aspirando que outras pessoas não sintam isso, que possam avançar rápido, que possam sentir que conhecer a natureza da realidade, daquilo que chamamos de vida e de nós mesmos pode ser investigada, contemplada e observada diretamente por todos e todas. Vendo como podemos ser beneficiados ao praticar em um centro voltado para retiros mais longos, focados no silêncio, como o CEBB Bacupari, aspirar que a sanga possa ser agraciada com um templo maior é algo natural.
A ação compassiva e incansável do Lama Samten e sua aspiração de ampliar o local de prática na aldeia do CEBB no Bacupari, região de Mostardas/RS, levou à oficialização da construção do novo templo no fim do Retiro da iluminação do Buda, no dia 8 de dezembro de 2023. Lá, enquanto oferecia as bênçãos para o início das obras, anunciou o novo nome pelo qual deveria ser conhecido o até então chamado CEBB Bacupari: CEBB Akanishta – o local onde a verdade mais profunda é revelada. Acredito que todos que praticaram por lá podem concordar com nosso mestre.
O sonho de Lama Samten é que o templo possa ser construído pela generosidade da sanga, ou seja, passando a tigela – o mesmo método de sustentação ensinado pelo Buda e que mantém os ensinamentos e praticantes vivos até hoje. Para muitos é uma operação por milagres, mas para quem reconhece o funcionamento dos méritos e como eles operam, não há surpresas: se os méritos estão presentes, os benefícios são reconhecidos e naturalmente surgem os meios para que a ação se concretize. As pessoas se engajam no sonho da forma que podem, oferecem o que lhes nasce do coração e o que lhes é possível e se alegram em participar dessa construção coletiva feita a muitas mãos para o benefício de todas. E de fato todas sabem que não são elas em seus corpos transitórios que estão apoiando a construção do templo, é o que há de mais profundo e amplo em cada uma delas que se move para essa realização.
Com capacidade para receber aproximadamente 250 pessoas e, em torno de 100 para praticar, comer e dormir no local, a fundação do templo feita em concreto já foi concluída. Durante o mês de fevereiro estive por lá e pude acompanhar uma parte desse processo. Depois que terminávamos o puja da manhã, ia tomar o café na frente da casa de apoio, ao lado do templo atual, olhando o nascer do sol e vendo à frente a movimentação diligente do Pedro, do Luís e do Joecir. Via maravilhada as barras de ferro que chegavam inteiras e eram cortadas, curvadas, unidas, uma a uma, para formar as sapatas de concreto da fundação pelo Pedro e pelo Joecir. As pedras de alicerce carregadas no carrinho de mão e colocadas em seus lugares, uma a uma, pelo Luís. A Andiara, sempre cuidadosa e perseverante, atenta a todos os detalhes, indo conversar com o Pedro sobre o que era necessário, não apenas para a continuidade da obra no momento, mas para a manutenção e a melhoria das estradas de acesso à própria área do CEBB e da vizinhança local. Via e agradecia mentalmente também tantas outras pessoas que já participaram, direta ou indiretamente, dessa e de outras mandalas auspiciosas que mantêm as atividades do Darma se expandindo. E visualizava o templo concluído, repleto de praticantes com os olhos brilhando, felizes por estarmos em sanga e com nosso mestre incansável e disponível para nos orientar até que não haja mais caminho.
O surgimento de um templo em meio a uma área natural, com capacidade para acolher centenas de pessoas focadas no silêncio e em tudo o que se abre ao olharmos a própria mente, não é algo comum. Ter um mestre que ensina o Darma nas palavras do próprio Buda e guia no caminho para o despertar das qualidades básicas de cada ser não é algo banal. Existir uma sanga que veja sentido em fazer nascer, brotar da terra-céu um templo em que ela possa seguir aprofundando os estudos e as contemplações das palavras do Buda e dedicando suas vidas, seu tempo e sua energia para manifestar a sabedoria natural disponível a todos os seres não é algo trivial. Poder apoiar uma iniciativa como essa é algo raro e ver valor nisso, mais raro ainda.
Que cada um, cada uma, que passar os olhos por essas palavras possa se sentir tocado, tocada pelas bênçãos desse momento maravilhoso que é o surgimento de uma expressão nirmanakaya do Buda na estrutura de um templo em terras brasileiras. Que este templo possa ser concluído rapidamente para que mais e mais pessoas possam receber os ensinamentos compassivos e claros oferecidos por Lama Samten, que nos guiam do início ao fim do caminho, até a completa liberação. Que sejamos capazes de praticar as instruções dos seres de sabedoria de forma ardente e lúcida e transformá-las em algo vivo em nossa mente, energia e ação. Que incontáveis benefícios sejam gerados com a construção deste templo no CEBB Akanishta e que eles se derramem sobre todos os seres.
Se você vê mérito na construção do Templo no CEBB Akanishta, pode apoiar inscrevendo-se nos retiros de 14 dias que serão oferecidos em janeiro e fevereiro de 2025 na inauguração do templo; patrocinar o retiro de outra pessoa; fazer uma oferenda diretamente ou adquirir um espaço pessoal nesta aldeia do CEBB. Veja todas as informações sobre como apoiar aqui.
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1 Comentário
Estou comovida com o relato de Polliana sobre a construção do templo Akanishta. A energia intensa, compassiva, lúcida e bem-humorada do Lama Samten paira ao longo desse texto como uma chama de fogão a lenha no café da manhã e assim parece que tem sido todos os dias dos membros da Sangha de Bskupari a caminho do Templo Kanishta! Que todos os seres possam se beneficiar desse testemunho búdico.