Projeto de construção do Templo do CEBB Akanishta

A arquitetura deste novo templo busca resgatar a estética dos templos tibetanos


Por
Revisão: Fabio Rocha

A arquiteta Mari Girardi conta sobre o processo de construção do Templo do CEBB Akanishta, que acolherá até 250 pessoas para retiros de ensinamentos budistas e práticas de meditação sob a orientação do Lama Padma Samten, em Bacupari, município de Mostardas, Rio Grande do Sul.


Com muita alegria, em 2019, recebi o convite do querido professor Lama Padma Samten para fazer o projeto do templo do CEBB Akanishta, em Bacupari. A vocação do CEBB Akanishta é ser um centro de retiros e acolher os praticantes para aprofundamento da prática do Darma, apoiados pelo modo de vida contemplativo em meio à natureza. Conto um pouco através deste texto sobre como esse projeto surgiu e tem se desenvolvido. 

Em um final de semana deste mesmo ano, acompanhada do engenheiro Rodrigo e sua esposa Graziela, fomos até o Bacupari para conhecer aquela área tão especial que fica próxima à Lagoa do Bacupari, um santuário de águas limpas e fauna preservada, localizada entre os municípios de Mostardas e Palmares do Sul. 

Rossano, Priscila, Pellegrini e o construtor Pedro nos receberam. Lama carinhosamente nos guiou pelo terreno e, com sua visão lúcida e generosa, expressou sua aspiração de fazer o templo e outras pequenas unidades para retiros longos individuais. Foi um encontro lindo no qual sonhamos juntos sobre como melhor conduzir este grande e auspicioso projeto.   

Seis pessoas estão de pé sorrindo para a foto, sendo três praticantes mulheres e três homens, incluindo-se o lama Padma Samten, à direita. Ao fundo pode-se avistar as dependências do CEBB Akanishta, à esquerda e um céu amplo ao fundo

Visita ao CEBB Akanishta, em Bacupari, Mostardas – RS (Foto: Raquel Oliveira)

A primeira aspiração do Lama era fazer um templo menor, com aproximadamente 150 metros quadrados internos e a varanda coberta para meditação kinhin em contato com a natureza.

Ao longo do processo, esse sonho cresceu e tomou outra forma. O Lama passou a aspirar que o templo acolhesse cerca de 250 pessoas, o que necessitaria de um espaço interno maior do que o pensado anteriormente. 

Pelegrini e ele já haviam acompanhado a construção do templo em formato de octógono, no CEBB Alto Paraíso, e manifestaram a intenção de também usar essa geometria, que possibilita estabilidade estrutural, em função das dimensões maiores do projeto. E, dessa inspiração, nasceu o projeto do templo do Bacupari!

O formato octogonal da planta permitiu a abertura de janelas para diferentes visuais do entorno, integrando o espaço interno à belíssima natureza do local.

Desenho arquitetônico do templo Akanishta, que tem a cor vermelha, duas portas amplas com uma faixa azul, escadas e lâmpadas à frente. Ao redor do templo uma área com árvores pode ser observada ao fundo

Vista frontal do acesso principal ao templo Akanishta (Foto: Reprodução)

Ao expressar suas aspirações para o projeto, o Lama relatou que gostaria que o espaço do templo oferecesse ao praticante a oportunidade de ouvir ensinamentos, fazer as refeições e descansar, de modo que haja menos distrações nos períodos de retiros e maior foco na prática.

O projeto arquitetônico do templo procurou expressar essa motivação, com o acolhimento do praticante desde a chegada no hall de entrada, onde ele deixa o calçado e se prepara para entrar no templo. 

Com essas premissas, o projeto foi se desenvolvendo e ganhando forma. O maior desafio foi o projeto da cobertura, pois a área octogonal está inscrita em uma circunferência de quase 20m. 

O projeto inicial da cobertura foi elaborado com toras de eucalipto citriodora, pela sua disponibilidade de peças com comprimentos maiores e pela sua durabilidade e resistência. O engenheiro Alberto foi o calculista responsável pela concepção dessa estrutura primorosa: ele desenhou uma linda mandala — do centro da figura, nascem as conexões com os 8 vértices, através de cabos de aço e de encaixes em madeira no eixo principal da cumeeira. Uma riqueza de projeto.

Desenho arquitetônico da vista superior da estrutura de madeira para a cobertura

Vista superior da estrutura de madeira para a cobertura (Foto: Reprodução)

Ao longo do processo, reavaliamos o material da cobertura, optamos pelo uso da madeira laminada colada (técnica construtiva que usa várias lâminas de eucalipto tratado e colado) que permite peças de comprimento maior e com melhor acabamento. Além disso, esse material foi escolhido por ser obtido de fonte renovável, de florestas plantadas ou manejadas, conceito que buscamos manter como diretriz do projeto.

Na escolha da telha, buscou-se uma solução que se adequasse às particularidades climáticas da região: fortes ventos e intensidade de chuva. Optou-se, então, pela telha Shingle, que oferece uma melhor vedação, com menor manutenção, além de valorizar a forma da cobertura.

Desenho da vista da fachada lateral sem telhado para visualização da estrutura da cobertura em madeira

Vista da fachada lateral sem telhado para visualização da estrutura da cobertura em madeira (Foto: Reprodução)

A arquitetura do templo busca resgatar a estética dos templos tibetanos com fachadas pintadas em vermelho rubi, molduras azuis no contorno das esquadrias e, no ponto alto da cumeeira, um pináculo dourado. Internamente, o piso será em assoalho de madeira, pelo seu conforto térmico e acústico. 

As paredes foram montadas com blocos de concreto por causa de sua resistência, economia, passagem das tubulações elétricas sem cortes e otimização do tempo na montagem. Posteriormente, estudaremos a execução de painéis com as pinturas das deidades e arte tibetana para as paredes internas do templo.

O projeto do altar – posicionado na ala oeste e voltado para a entrada principal a leste – prevê que ele será montado com uma base central em alvenaria para as imagens e os thankhas. Nas laterais, haverá armários com portas de vidro para os sutras e ensinamentos preciosos do Buda, sempre seguindo as instruções do Lama.

Desenho arquitetônico da entrada da porta principal, com cervos e a roda da vida simbolizando os ensinamentos do Buda e o ato de recebê-los

Sobre a porta principal, Lama expressou a vontade de colocar os cervos e a roda da vida, simbolizando os ensinamentos do Buda e o ato de recebê-los (Foto: Reprodução)

Sobre a porta principal, o Lama expressou a vontade de colocar os cervos e a roda da vida, simbolizando os ensinamentos do Buda e o ato de recebê-los. Externamente, contornando o templo, decks em madeira e uma rampa de acessibilidade facilitarão o acesso ao local.

Pela ação compassiva e incansável do querido Lama, em 8 de dezembro de 2023, foi oficializada a construção do Templo do CEBB Akanishta. Desde então, o sonho está se concretizando gradualmente. Neste momento, a obra está com as paredes montadas e rebocadas, prontas para a próxima etapa da montagem da cobertura (confira logo abaixo).

Na foto observamos a atual etapa de construção do templo Akanishta, que ainda está no cimento, sem o telhado e demais acabamentos

Atual etapa de construção do Templo do CEBB Akanishta (Foto: Andiara Paz)

Esse projeto é um sonho e trabalho coletivo de mandala. O engenheiro Rodrigo Terra foi responsável pelo projeto estrutural, acompanhamento e suporte da obra; o engenheiro Ricardo Pellegrini, pelo planejamento e diretrizes da obra; o engenheiro Alberto de Oliveira Rodrigues, pelo projeto e cálculo da cobertura; Victor Cury, pelo projeto de saneamento ecológico; o engenheiro Wagner Augusto Meurer, pelo projeto elétrico; a arquiteta Silvia Dighero, pelo projeto luminotécnico; Andiara Paz, pela cuidadosa gestão da obra e o construtor Pedro Machry e sua equipe, pela execução da obra; e minha contribuição, com o projeto arquitetônico. 

Aos poucos e com muitas mãos, esse sonho tem se transformado em realidade. Há muitas pessoas que não foram citadas aqui, mas que, de alguma forma, também participaram das rodadas de sonho para a concretização do templo. 

Nossos agradecimentos a toda a sanga que aspira e contribui amorosamente para essa realização tão auspiciosa. Que o templo possa ser construído pela generosidade e pelas intenções auspiciosas da sanga. Que incontáveis benefícios aos seres possam ser gerados com mais este espaço de prática, retiros e contemplação dos ensinamentos do Buda. 

 


Clique aqui se você deseja saber mais sobre as diversas maneiras de apoiar a construção do Templo do CEBB Akanishta. Que todos os seres sejam beneficiados!

Apoiadores

2 Comentários

  1. Thais Fernanda Rosa de Oliveira disse:

    Que lindo está ficando o templo. Que tudo continue acontecendo a seu tempo. Como participar dessa benção ?

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