Atenção no inspirar e expirar. Foto: Banco de Imagens

Respiração Atenta

Neste trecho do Sutra Anapanasati o Buda relaciona dezesseis maneiras de abordar a prática de respirar conscientemente


Por
Revisão: Fábio Rocha
Transcrição: Wimerson Gomes

Em um trecho do Sermão sobre a Respiração Atenta, conhecido como Sutra Anapanasati, o que literalmente significa “atenção no inspirar e expirar”, o Buda relaciona, com quatro grupos, dezesseis maneiras de abordar a prática de respirar conscientemente.

Os quatro grupos de prática

No primeiro grupo, as quatro práticas relacionadas à atenção do corpo: primeiro observa-se a sensação física da respiração e se ela é curta ou longa. Em seguida observa-se a respiração em relação a todo o corpo, usando-a como âncora de um estado de consciência mais amplo. Pode-se falar em “atenção com a respiração” em vez de “atenção na respiração” para manter essa diferença. Finalmente, medita-se na atenção do corpo inteiro para obter calma física e alívio, ou relaxamento.

Isto leva ao segundo grupo de quatro práticas, que lidam com sentimentos e emoções. Ao relaxar, o corpo libera uma energia capaz de induzir diferentes estados de êxtase. Entre as manifestações mais comuns observam-se fluxos de energia, formigamentos ou sensações agradáveis em várias partes do corpo. Ao surgirem tais sensações, o meditador deve apenas observá-las, sem se deixar levar por elas.

Para conseguir isto, o sutra recomenda que se preste atenção ao êxtase em relação à respiração. A respiração, utilizada como âncora, impede que as ondas de prazer desviem o meditador de seu curso. Quando a energia física é liberada sentem-se emoções positivas e, mais uma vez, usa-se a respiração como âncora para que tais experiências possam ser absorvidas com equanimidade. Prazer e êxtase são consequências naturais da meditação e acontecem quando começamos a relaxar.

A pessoa que medita torna-se também mais consciente da aversão às sensações desagradáveis e do apego às sensações agradáveis demonstrados pela mente.

Mais conscientes desses processos mentais, podemos então largar o apego e a aversão para simplesmente experienciar o que estamos experienciando. Isto conduz à calma emocional que chamamos de equanimidade.

terceiro grupo de quatro práticas lida com a mente e as emoções. Na medida em que paramos de reagir à nossa experiência, começamos a sentir mais felicidade. Primeiro notamos a mente, depois que ela se torna mais alegre. A alegria da mente diminui sua tendência a vagar e a mente então torna-se mais estável. Assim que desenvolvemos a concentração desta maneira, podemos fazer com que nossa mente se libere, pois a mente se transformou numa poderosa ferramenta de reflexão.

quarto grupo mostra-nos quatro maneiras de refletir a fim de libertar a mente.


A atenção do inspirar e do expirar

Para esta publicação, resolvemos alterar a tradução do Sutra no início de cada prática para “Ele se exercita para inspirar” para “Ele pratica inspirar”.

Agora como se desenvolve e se busca a atenção do inspirar e do expirar até a completude dos quatro módulos de referência?

‘Expansion’, escultura de Benjamin Shine

Há o caso do monge que se retira e, num lugar tranquilo, senta de pernas cruzadas coluna ereta, em plena atenção. Conscientemente ele inspira e conscientemente expira.

Primeiro grupo

1. Com uma inspiração longa ele verifica que está fazendo uma inspiração longa; ou com uma expiração longa ele verifica que está fazendo uma expiração longa.

2. Ou como uma inspiração curta ele verifica que está fazendo uma inspiração curta; ou, com uma expiração curta, ele verifica que está fazendo uma expiração curta.

3. Ele pratica inspirar sentindo o corpo inteiro e expirar sentindo o corpo inteiro.

4. Ele pratica inspirar acalmando o corpo e expirar acalmando o corpo.

Segundo grupo

5. Ele pratica inspirar sentindo êxtase e expirar sentido o êxtase.

6. Ele pratica inspirar sentindo prazer e expirar sentindo prazer.

7. Ele pratica inspirar sentindo o processo mental e expirar sentindo o processo mental.

8. Ele pratica inspirar acalmando a fabricação mental e expirar acalmando a fabricação mental.

Terceiro grupo

9. Ele pratica inspirar sentindo a mente e expirar sentindo a mente.

10. Ele pratica inspirar satisfazendo a mente e expirar satisfazendo a mente.

11. Ele pratica inspirar estabilizando a mente e expirar estabilizando a mente.

12. Ele pratica inspirar liberando a mente e expirar liberando a mente.


Quarto grupo

13. Ele pratica inspirar focando a impermanência e expirar focando a impermanência.

14. Ele pratica inspirar focando o desapego e expirar focando o desapego.

15. Ele pratica inspirar focando a cessação e expirar focando a cessação.

16. Ele pratica inspirar focando o abandono e expirar focando o abandono.


O texto  foi publicado originalmente na Revista Bodisatva nº 11, em 2005. 


Acervo Bodisatva

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5 Comentários

  1. Lucas Guimaraes Silva disse:

    Maravilhoso, obrigado!

  2. Marcia Maria Hammes disse:

    Agradecida!

  3. Lídice Garcia Chaves disse:

    Que lucidez !! Não é à toa que é o Buda !!! Tão simples e tão útil e verdadeiro …Grata.

  4. João Emilio de Melo disse:

    Cara muito bom, isso me faz querer se aprofundar cada vez mais no budismo. ^-^

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