Iluminação do Buda

Os aspectos grosseiro, sutil e secreto da realização do Buda Shakyamuni


Por
Edição: Janaína Araújo
Transcrição: Carolina Franchi e Ademir Pereira

No dia 08 de dezembro, sangas de diferentes partes do mundo comemoram a iluminação do Buda Shakyamuni. Confira o ensinamento oferecido por Lama Padma Samten no retiro de 2021, que contou um pouco da história do Buda.


 

O tema essencialmente é a realização do Buda. O aspecto grosseiro podemos descrever pela sua própria história: ele nasce, vive e morre em lugares diferentes. Mas precisamos ver também os aspectos sutil e secreto da vida do Buda.

Em uma vida anterior, Buda Shakyamuni foi um bodisatva chamado Sumeda que encontrou o Buda daquele tempo, Dipankara. Conta-se que Sumeda cobriu a poça de lama do chão com seu próprio manto ao perceber que ela estava no caminho do Buda que, ao passar, fez uma previsão e disse a Sumeda “você vai atingir a realização na forma do Buda Shakyamuni”.

Mais adiante, Shubuti, um dos discípulos do Buda, vai perguntar a ele “O que aconteceu quando você encontrou o Buda Dipankara?” E ele vai dizer “não aconteceu nada”. Essa resposta, para nós, é uma decepção e é um ponto interessante, porque remete para o aspecto sutil. 

A natureza primordial, a grande vacuidade, não tem conteúdo dentro. Essa é a transmissão que o Buda dá, ou seja, você não vai encontrar nada grosseiro que possa ser apontado como algo separado. Surge essa liberdade lúcida natural que está descrita no Prajnaparamita também. 

Quando Sumeda encontra Dipankara, a mente livre, com energia não dual, é acessada e brota uma certeza em Sumeda, que é a manifestação de Guru Yoga que vai levá-lo pelo caminho. Por três éons o Buda Shakyamuni segue o caminho do bodisatva buscando trazer benefício aos seres, purificando sua visão até atingir a iluminação e, como ele vai dizer para Shubuti, não há nada, ele não encontra coisa alguma no aspecto grosseiro.

O nível secreto, apesar de não termos o olhar capaz de reconhecer, está ligado ao fato de que qualquer um dos seres sencientes, ou o próprio Buda, pode se manifestar de diferentes modos. 

De modo geral, nós consideramos que o mais importante é a descrição do aspecto grosseiro, que é como vemos, com olhos, ouvidos, nariz, língua e tato e compreendemos com a mente. O aspecto sutil são os referenciais que permitem aquele tipo de surgimento. Por exemplo, se tiramos uma foto do Buda, vestido como Buda, e mostramos para alguém, o Buda vai dizer “olha, se disser que aí tem um Buda, você está totalmente equivocado”, porque o Buda não pode ser reconhecido pelo fenômeno externo, ou seja, o Buda mesmo vai dizer que ele é o aspecto interno e secreto. Só que ele não diz o que são esses aspectos. 

O aspecto sutil é a própria lucidez do Buda, é a natureza primordial incessantemente presente, é aquilo que faz o aspecto grosseiro se mover pelo mundo. Ele é um Tathagata, um bodisatva totalmente realizado e voltado a trazer benefícios aos seres em todas as direções. Mas isso é uma construção, que é o aspecto sutil. 

Então qual é o aspecto verdadeiro do Buda? É o aspecto secreto. Essa descrição do Buda andando aqui e chegando ali, é descrita como o Tathagata, aquele que vem e que vai. Se vem e vai, ele não é o aspecto primordial, porque surge e cessa. O Buda Primordial é a liberdade lúcida de manifestar o próprio Buda que vem e que vai. Ele nunca pensa “eu sou o Buda que vem e que vai, que faz e que tem essa aparência”, mas sempre se vê como a natureza livre adotando um jeito de chegar aqui e ali.  

A multiplicidade dos bodisatvas e dos Budas em meio ao mundo, em diferentes tempos, é sempre o mesmo Buda primordial. Se olharmos com cuidado, todos os seres têm essa natureza e usufruem da mesma liberdade. 

Enquanto estamos entendendo isso, ainda é o caminho do ouvinte, pois não quer dizer que operamos a partir do aspecto secreto, olhando a nossa expressão como aspecto sutil e nos distanciando do aspecto grosseiro, que é a nossa própria aparência, que nasce, vive e morre. Essa descrição está na mente, mas não na nossa experiência. Nosso desafio é transformar o caminho do ouvinte no do praticante e na realização do praticante. 

Quando ouvimos os ensinamentos, entendemos que todos os seres têm a mesma natureza búdica, por isso se manifestam de um jeito, depois de outro e tem manifestações sutis e grosseiras variadas. 

Ainda que nos sintamos nascendo e morrendo, não há nascimento e morte. É como se tudo pertencesse à mesma visão. Mas quando entendemos que estamos olhando os aspectos grosseiro, sutil e secreto, tudo começa a fazer sentido no seu lugar. 

Quando não distinguimos isso na linguagem, as coisas parecem muito extraordinárias, complexas e incríveis. E vem essa noção mística, extraordinária da realidade comum. 

Quando vemos essa realidade grosseira no nível sutil, temos uma tendência a criar identidades, damos a mesma solidez do mundo grosseiro. Podemos pensar que as deidades têm uma densidade, uma realidade como vemos que elas têm no aspecto grosseiro. Esse é o ambiente onde nos movimentamos. 

A história do Buda vai tratar desses três éons, que significa, literalmente, o tempo onde tudo surge, o universo inteiro surge e cessa e o Buda se mantém operando. Podemos reinterpretar para uma cultura ou era inteira que surge e cessa. Uma era significa que a cultura muda e a visão muda totalmente. Tudo muda. Essa mudança é visível, nós estamos no meio disso. Esse é o fim de uma era. 

No tempo das civilizações antigas, elas finalizavam uma era. O império muda, tem agora uma outra visão que, às vezes, incluía outras terras, que eram diferentes e outras configurações celestes. Eles encontravam outras estrelas, outros referenciais, outra forma de navegação, por vezes não tinha mais a continuidade daquele clã, daquela família imperial que era sucedida por outra e o tempo era contado novamente. Eu prefiro entender esses éons como essas eras. 

No Jataka, que são relatos do próprio Buda sobre as suas vidas anteriores, conta-se que enquanto era um bodisatva, ele viveu em muitos diferentes reinos, levado por situações cármicas, incluindo o reino dos animais e dos infernos.

Não é que ele tivesse essa liberdade de dizer “Bom, agora eu vou pra lá, agora pra cá”. Ele mantém a motivação e faz ações voltadas a produzir benefícios aos seres, mas as ações sempre tem um nível de contradição, nunca são perfeitas em meio ao mundo condicionado. Ele sofre as consequências cármicas e termina renascendo em diferentes lugares.

Para proteger seres, ele mata. Ele gera a aspiração de matar e de se livrar deles. Esse tipo de visão produz o renascimento nos infernos, porque a pessoa fica sensível à presença de seres malignos. 

O Buda esteve no reino dos animais, viu que poderia trazer benefício através de qualidades que identificou no corpo deles e aspirou por isso. Carmicamente, termina se manifestando desse modo. Também aparece no reino dos deuses, dialoga com eles no período anterior a sua iluminação.

E tem a história de quando ele surge como ser humano. Antes, ele estava em Tushita, reino dos deuses onde os bodisatvas andam. Eu acho isso muito comovente. Os bodisatvas renascem porque, fazendo ações benignas para os seres, sentem felicidade. Eles aspiram desenvolver habilidades, métodos, capacidades de trazer benefícios, então estabilizam um tipo de felicidade que é a que vem da compaixão, da não separatividade com os seres. 

Assim, quando fazemos boas coisas pelos seres e nos alegramos, estamos ganhando [méritos] para renascermos em Tushita e imediatamente nos sentimos felizes. Se tomamos os ensinamentos e, de algum modo, ensinamos e ajudamos os outros, e guardamos um sentido de identidade pessoal, temos uma boa chance de renascer em Tushita.

O problema é que tem uma identidade, por isso ocorre o renascimento em algum dos três mundos, onde os seres existem e se sentem separados do ambiente ao redor. Eles não têm uma compreensão final de vacuidade que faça com que repousem na realização do aspecto primordial. Eles se mantêm nos aspectos sutil e grosseiro.

Os bodisatvas — essa é a parte dura da história — podem renascer nos infernos. Isso acontece quando fazemos coisas boas, trazemos benefício aos seres, mas temos uma expectativa de resultado, uma cobrança que produz fragilidade, que é a semente para o renascimento nos infernos. É fácil ver. Imediatamente ao ato, não estamos bem, achamos que tem algum problema. Fizemos tudo certo, trouxemos benefício. Como é que o outro não reage? Tendo uma construção, tem um aspecto sutil que dá origem a uma identidade que já tem o pé no sofrimento.

Dudjom Rinpoche relembra isso dizendo que o bodisatva Cherenzig surge como uma manifestação do Buda Amitaba e ganha o mesmo nome, porque tem uma identidade grande com a mente compassiva do Buda da compaixão, mas ele é um bodisatva, não um Buda.

Então, o bodisatva começa a trazer benefício aos seres e num certo momento pensa “Bom, acho que agora está tudo arrumado”. Ele olha pra trás e vê que está tudo igual. Vocês imaginem um dirigente de clube de futebol que se dedicou os últimos cinquenta anos, fez um esforço grande para que o time andasse super bem mas, de repente, olha pra trás e vê que está tudo completamente igual, ou seja, ele pode perder os campeonatos e ser rebaixado para a série B. A pessoa pensa “Me dediquei por cinquenta anos e não deu em nada”. 

Chenrezig dedicou um tempo cósmico para o benefício dos seres e quando olha para trás, vê que estão envolvidos em campeonatos iguais, que podem perder a qualquer momento e terem as mesmas sensações de aflição, sofrimento e inferno. Mas como guardou essa expectativa e produziu benefícios — porque ele era a emanação de um ser iluminado mas não tinha a realização — se diz que Chenrezig é tomado de aflição e seu corpo se quebra totalmente. 

Amitaba, o Buda da Luz Infinita, vai até Chenrezig e diz “Refaça os votos”. Chenrezig se restabelece com onze cabeças, mil braços e, dentro de cada braço, um olho. Isso significa a multiplicidade de métodos de produzir benefícios aos seres.

Os mil braços são mil budas, ou seja, infinitos budas que virão sucessivamente manifestando a aspiração de produzir benefícios aos seres. Eu acho muito comovente que os bodisatvas que estejam em Tushita possam ter esse tipo de aflição. Nós, naturalmente seres humanos fazendo esforços para produzir benefícios aos seres, talvez tenhamos alguma fragilidade também, alguma expectativa e talvez passemos pelo reino dos infernos, porque essas expectativas se dissolvem e são frustradas. É inevitável.

O Buda nasceu nesse tempo. Se diz que ele estava em Tushita e os outros deuses, ao olharem para os seres humanos, dizem “Olha, a situação não está boa, vai lá e tenta dar uma arrumada”. Então o Buda Shakyamuni, que ainda era um bodisatva, diz “Ok, eu vou. Ho! Mas é minha última vez, eu vou e não volto mais”. E Maitreya diz “Ok, pode deixar que eu arrumo depois”. 

Então, o Buda entra pelo lado direito do ventre da sua mãe que sente que está grávida. Quando ela está a caminho da casa dos pais, ele nasce como um bebê que já caminha nas quatro direções. Onde pisa, surgem flores de lótus, e ele já avisa para Mara “Vim derrotá-lo!”

O Buda tem essa lucidez e vai se esquecer disso, começa a andar como um ser humano em meio ao mundo. Mas, enquanto criança, tem vários fenômenos que surgem e o pai fica sempre muito preocupado que ele termine sendo um sábio e não um rei. 

Tem o conselho dos ministros, que têm uma conexão com Mara, aconselhando pra dentro do samsara, que propõe que Sidarta se case. Os pais organizam uma festa, convidam todas as meninas que estão em idade de casar, e Sidarta e Yasodhara se conectam. 

Os pais dele se alegram e vão falar com os pais dela, que são do reino vizinho, e propõem uma disputa com um oponente competindo arco e flecha, lançamento de dardo e equitação. Tem várias histórias dessas, vou contar a versão que é a que gosto, do herói. O oponente vai lá e acerta a flecha no centro do alvo. Entregam um arco para o Sidarta (Buda Shakyamuni), que puxa e o arco se quebra porque ele é muito forte. Dão a ele um outro arco maior e mais pesado, que também quebra. Com o terceiro arco, Sidarta lança uma flecha que penetra por trás da flecha do oponente e rompe o alvo e mais a árvore. 

Tem o lançamento de dardo. O opositor acerta o alvo e racha a árvore. Eles colocam outro alvo em uma outra árvore e o Sidarta acerta no centro do alvo, racha a árvore e mais duas árvores. De novo, ganha.

Tem a prova de equitação. Trazem um cavalo furioso. O oponente sobe no cavalo que corcovia, vira pra lá e pra cá, mas ele não cai. Trazem um cavalo para o Sidarta, que domina o cavalo e vence. Assim, Sidarta se casa com Yasodara.

Por volta de seus trinta anos, ele pensa “Será que é só isso a vida?” Essa pergunta é fatal, terrível. Sidarta diz “Já que eu vou herdar o reino, queria conhecê-lo todo”. Ele sai três vezes: na primeira encontra um velho, na segunda um doente, na terceira um morto. Ele fica desolado com o fato de que as pessoas envelhecem, percebendo que todo mundo, mesmo ele e a Yasodhara vão envelhecer e ele acha aquilo péssimo.

Sidarta vê que todos podem adoecer e morrer. Ele pensa que não tem habilidades como um rei, no futuro, para lidar com isso e que está perdendo seu tempo. Ele se vê muito frágil. Isso já eram os deuses em Tushita dizendo “E aí, Sidarta, você se esqueceu?”.

 Ele sai pela quarta vez e encontra um monge brâmane, que diz estar praticando para atingir a liberação das aparências e a iluminação, ultrapassar o reino do sofrimento. Isso é profundo. Então Sidarta decide ir embora. O rei tem um pressentimento e manda fechar todos os portões.

Sidarta estava sentado no salão e as dançarinas começaram a dançar. Ele as viu envelhecendo, adoecendo, morrendo, sendo queimadas e achou aquilo péssimo. Estava com o olhar perdido… Pelo poder dos deuses, elas foram parando de dançar, se sentando,  se encostando umas nas outras e dormiram. Apenas Sidarta ficou acordado. Ele foi até o quarto onde estavam a esposa e o filho Rahula e não se despediu, foi embora.

Os deuses levantaram o cavalo Kanthaka, abriram os portões e ele foi embora junto com seu fiel amigo, o cocheiro que tinha levado Sidarta nas várias saídas. Foram até a beira da floresta e, ali, Sidarta cortou o cabelo, trocou de roupa e entrou na floresta. O cavalo se ajoelhou e pediu para ir junto, assim como o cocheiro, mas ele não deixou.

Se conta que o Buda, em uma vida anterior, tinha sido um rei muito generoso e por isso desenvolveu uma autoimagem de poder e de compaixão como os bodisatvas. Nessa vida anterior, cinco demônios resolveram testar o rei. Eles se transformaram em aparências de sábios, foram até a frente dele e disseram “Viemos lhe fazer um pedido, nós queremos sua carne, seu sangue e seus ossos”. O rei, que era um bodisatva, ofereceu sua carne, sangue, ossos e morreu. Mas nessa conexão, os cinco demônios estabeleceram um vínculo com o bodisatva e, na vida seguinte, eles eram os guardas dentro do palácio do Sidarta. 

O rei mandou os cinco guardas atrás do Sidarta e, ao localizarem-no dentro do bosque, rodearam-no, olharam-no, fizeram prostrações e pediram para ficar junto com ele, que deixou. Eles se tornaram seus primeiros cinco companheiros.

As primeiras práticas que Sidarta fez foram de austeridade. Tem um momento em que ele está para morrer, porque fez um jejum muito rigoroso. Surge uma praticante que aspirava ter um filho homem, então ela fez uma super oferenda de iogurte com granola e frutas, entra com aquele creme no bosque para oferecer para os deuses, mas vê Sidarta caído e oferece a ele, que come e se recupera. Os cinco companheiros vêem o Sidarta comendo e o abandonam. 

Nesse ponto, Sidarta vê passar um barqueiro que está dando aula de citar para o seu aluno, que orienta: “Se apertar a corda assim, como é que fica o som? Não fica direito. E se afrouxar, como fica? Não fica direito. Como é que tem que fazer?”. E o Sidarta “Sim! Claro! Nem muito apertado, nem muito frouxo! Caminho do Meio. É isso!” É como se ele abandonasse a busca através da disciplina e do esforço. Esse equilíbrio é um caminho que está além do esforço comum, esse que é o ponto. O caminho do meio é a introdução da lucidez frente às aparências, junto com a própria prática da meditação. 

A partir desse ponto, o treinamento muda. É como se ele tivesse entendido agora o aspecto de visão. Ele vai para baixo da figueira sagrada, senta e desafia Mara, que é o regente do reino do desejo, acima de Tushita, ou seja, Tushita está sob o poder de Mara. Mara significa “aquele que vem com as coisas prontas”. Por exemplo, entra alguém aqui e diz, “nós estamos precisando de alguém, o salário é doze mil reais e você trabalha só meio turno”. Aquilo já vem pronto e engatamos. Isso é Mara. 

Engatar significa originação dependente: aquilo serve de base contaminada, construída, artificial para o raciocínio seguinte, que serve de base para o raciocínio seguinte e surge um encadeamento de ações mentais e de energia. Quando Mara vem e oferece aquilo, a nossa energia se mobiliza imediatamente. Esse ponto é super importante, porque os bodisatvas não se movem por uma energia que dependa de alguma coisa artificial que serve de base para uma outra, mas por uma energia autônoma, não dual, esse é o critério que nos permite ver como é que se dá a operação da mente. 

         Ele, então, invoca Mara e se dispõe a ultrapassá-lo, mas Mara produz imagens que Sidarta não conseguiria superar. Aparecem exércitos ao longe e chuvas de flechas. Aquilo é como se fosse a sua morte. Se diz que quando as flechas se aproximam dele, elas se transformam em flores e perfume.

Então Mara emana cinco dançarinas que são emanações dele mesmo. Sidarta sabe que são filhas de Mara, então quando elas percebem que foram vistas e reconhecidas, se afastam rapidamente. 

Naturalmente, isso não é para se tomar de forma literal. Essencialmente ele entende como essas emoções e todas  essas coisas surgem e se mantém no equilíbrio que está além dos três mundos. As filhas de Mara então, desaparecem. 

Na sequência aparece a esposa Yasodhara com o filho. Esse é um ponto interessante,  porque Sidarta poderia ter um sentimento de culpa e poderia não ultrapassar aquilo. Ela diz “Você está com uma aparência horrível! Volte para casa, seu pai já está velho, você precisa voltar, assumir seu lugar, está esperando o quê? Seu filho está crescido, estou sozinha!”.

Então ele não dá sequência cármica à originação dependente, não fica construindo outras realidades a partir das experiências oníricas que surgem provenientes de Mara. Agora, se olharem com cuidado, Mara não é alguém. É inseparável da mente do Buda. Por isso, Mara é super próximo de nós, porque é inseparável de nossa mente. É assim que somos arrastados por esses padrões.

Mara diz a Sidharta “Você me venceu, mas, só você”, assim, do tipo, “Você é o bom, conte para sua mamãe”. Se diz que Sidarta não diz nada e que não embarca nessa abordagem da construção da identidade de alguém que é maior. Mas se diz que Mara não desiste, então, de tanto em tanto, Mara aparece durante a vida do Buda que lhe diz “Mara, eu te vejo!”, no sentido de que alguma coisa vem e quer o arrastar para uma certa direção. 

O Buda vence as várias aparências de Mara que não o perturbam, que vê dessa região estável e lúcida. Ele vai ficar quarenta dias e quarenta noites nesse lugar, meditando. O Buda entra em um período de contemplação após a iluminação, e se levanta para trazer benefício aos seres.

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