Foto: Instituto de Permacultura da Pampa

Seção Praticantes | Ricardo Pellegrini

Conhecido por Pêlle, esse gaúcho tem se dedicado a dar vida às construções sonhadas pela sanga e pelo Lama Padma Samten


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Revisão: João Yuri

Normalmente, uma visão mais elevada e profunda da vida nos é transmitida pelos mestres de sabedoria. No entanto, se diz que tão importante quanto ouvirmos os ensinamentos, é nós recontarmos os ensinamentos para nós mesmo, nos perguntarmos se eles fazem sentido em nossa vida e, caso entendamos que sim, fazê-los virarem ação. Nesta nova seção da Bodisatva, vamos trazer relatos de praticantes sobre como, ao seu próprio modo, eles aplicaram esse método e deram vida às instruções de seus professores.

Para a inauguração da seção, Ricardo Pellegrini.

Ele é carinhosamente conhecido pelos CEBBs afora por Pêlle. Esse gaúcho de Porto Alegre tem se dedicado a colocar em prática as aspirações do Lama Padma Samten, ajudando a levantar templos, escolas, refeitórios e locais de prática. “Tenho isso de ir olhando para as coisas e as transformando. São quinze anos trabalhando assim”, relata Ricardo Pellegrini.

Esse entrever apurado para encontrar soluções vem, em grande parte, da faculdade de engenharia mecânica que ele fez, mas não concluiu. Nesta época, Pellegrini trabalhava numa fábrica de tratores como analista de processos e fazia o controle de qualidade. “Fui convocado para implantar uma fábrica em Bagdá (Iraque), mas quando voltei ao Brasil fui diagnosticado com um problema grave de saúde e achei que não valeria mais a pena voltar para a universidade. Aproveitando a experiência que eu tinha na fábrica, montei uma empresa na área de segurança eletrônica. Resolvi seguir a vida.”

O Caminho do Meio

E a vida seguiu. Em 2001, Pellegrini resolveu passar o feriado de Carnaval num ritmo diferente. “Vim conhecer o CEBB Caminho do Meio, porque naquela época o CEBB cedia espaço para os praticantes do Zen. Eu já conhecia algo sobre o budismo, já havia lido a Arte da Felicidade de Sua Santidade, o Dalai Lama e outros livros dele. Nesse retiro, pedi uma orientação para ler um livro do Lama Padma Samten e me indicaram o Meditando a Vida.” A partir daí, Pêlle foi se aproximando dos estudos e das práticas no CEBB Porto Alegre. “Em 2005, eu fui convidado para fazer um projeto de segurança no CEBB Caminho do Meio. Trouxe essa minha experiência com equipamentos e acabei ficando por aqui. Eu havia me separado, estava passando por uma fase bem difícil. O Lama me ofereceu uma casa para ficar por um tempo aqui na comunidade. Em 2006 eu conheci Sua Santidade, o Dalai Lama… e não fui mais embora. Passei a cuidar da manutenção da área do Caminho do Meio. Na época, a cozinha do refeitório estava recém inaugurada e eu também ajudava a fazer as compras para retiros que aconteciam somente aos finais de semana.”

Ricardo Pellegrini

Foto: Instituto de Permacultura da Pampa

Construindo aldeias

Pêlle fechou sua empresa e passou a se dedicar à implantação de um projeto do Instituto Caminho do Meio na área de saúde. O projeto acabou não saindo, mas ele continuou com a intenção de trabalhar para o CEBB.

Por sua conexão natural com construções, decidiu fazer cursos nas áreas de bioconstrução, permacultura e também de agricultura ecológica. “Foi então quando o Lama me convidou para ajudar na implantação da Aldeia CEBB em Alto Paraíso (GO). É o que eu tenho feito nestes cinco anos: eu vou para uma das Aldeias e ajudo na implantação das construções e a criar formas de reutilização da água e cuidados dos afluentes.”

Atualmente são oito Aldeias no Brasil . Leia mais aqui →

Ricardo Pellegrini

Foto: Instituto de Permacultura da Pampa

Construindo relações

As características ambientais, sociais e culturais de cada região moldam esse grande mosaico multifacetado que é o Brasil. O mesmo acontece nas Aldeias CEBB. Perguntei a Pêlle como ele imagina uma futura aldeia quando olha para um terreno: “Procuro interpretar para virar uma área de convívio e prática, aproveitando a cultura local e os aprendizados já presentes na região. Analiso o clima, como as pessoas do local moram, o que elas pensam. Utilizando os princípios da permacultura, usamos os saberes locais para adaptarmos às novas tecnologias. Assim, procuro avançar na visão a partir do Darma (ensinamentos de Buda). Eu não vou para os locais para construir prédios. Vou para construir relações de acordo com as quatro formas que nós nos relacionamos: do encontro da gente com a gente mesmo, da gente com o outro, das relações comunitárias — políticas e sociais — e a partir da biosfera.

“O movimento geral das Aldeias trabalha com o conceito de Terras Puras, onde as melhores qualidades das pessoas de todas as idades podem se desenvolver em harmonia com visões orgânicas de educação, arquitetura, geração e uso de energia, sustentabilidade, e presença equilibrada no ambiente natural, tratamento biológico dos efluentes, saúde e alimentação equilibradas, bons relacionamentos e convívio. Gerando tais méritos, teremos a base adequada para aprofundar nossa ação na forma dos estudos do Darma do Buda, buscando a superação das nossas limitações e o pleno desenvolvimento do nosso potencial búdico”
— Lama Padma Samten

Praticando no cotidiano

A forma como Pellegrini vem trabalhando é baseada principalmente no cultivo das relações e na conexão que ele tem com os ensinamentos e a metodologia do Lama Samten. Nessa metodologia, ele trabalha com pessoas envolvidas no projeto por meio do sistema de Mandalas: uma forma de organização que acontece “graças à energia vinda dos corações conectados ao brilho autônomo e incessante dos Budas e suas bênçãos ilimitadas”, segundo explica o Lama Samten. Implantar as Aldeias CEBB é criar a possibilidade de um modelo de vida mais simples: um movimento que vai na contramão do atual sistema econômico voltado para o consumo desenfreado.

A abordagem Mahayana introduz o ideal do Bodisatva, cujo compromisso é de se iluminar para ser capaz de conduzir todos os outros seres sencientes à iluminação. O treinamento para isso se dá especialmente a partir da prática das quatro qualidades incomensuráveis: compaixão, amor, alegria, equanimidade; e das seis perfeições: generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria.
Ricardo Pellegrini

Foto: Instituto de Permacultura da Pampa

Para Pellegrini, “isso nos possibilita olhar para nosso mundo interno, abrindo mão da aparente felicidade externa inserida num modelo de obsolescências das coisas que são feitas com um prazo curto de durabilidade para a gente sonhar com novas coisas. Quando a gente percebe que um carro novo não nos traz mais felicidade, a indústria lança um novo modelo para a gente achar que o modelo antigo não trazia felicidade, mas que o novo sim. Por meio da meditação e todos os outros recursos que nós temos aprendido com esse método do Lama, podemos olhar para nosso mundo interno e ver o que está realmente ocorrendo para, a partir daí, fazer as mudanças. Graças ao Caminho Mahayana que nos mostra como aplicar os ensinamentos budistas no nosso dia a dia, é que eu sigo na prática.


Para saber mais

Terras Puras→

Iogue do cotidiano→

Por uma vida mais simples→

Prática dos cinco elementos→

O mundo é de um jeito, ou pode ser de outro

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