A Morte do Buda Histórico (Nehan-zu), pintura japonesa do séc. XIV.

Sutra da Sabedoria na Hora da Morte

No Sutra Atyayajñana, o Buda ensina sobre a mente de um bodisatva na hora da morte


Por
Revisão: Caroline Souza
Tradução: Ormando MN

Este sutra, ainda que seja breve, aborda conceitos centrais do Mahayana em relação às práticas a serem realizadas na hora da morte. Quando perguntam ao Buda como considerar a mente (ou mentalidade) de um bodisatva que está prestes a morrer, ele responde dando instruções piedosas sobre a natureza dos fenômenos e da mente, e instrui dizendo que um bodisatva deveria engendrar, portanto, entendimentos claros específicos. O Buda aponta que todos os fenômenos são puros, estão incluídos dentro da mente da iluminação e são naturalmente luminosos. As entidades são impermanentes, e a realização da mente é sabedoria.

Consequentemente, um bodisatva deveria despertar um entendimento claro de que nenhuma entidade existe de verdade, um entendimento claro da grande compaixão, um entendimento claro da não apreensão, um entendimento claro do não apego, e um entendimento claro de que o Buda não deve ser buscado em nenhum outro lugar além da sua própria mente. Apesar dele se referir a essas instruções como sendo a sabedoria da hora da morte, a consequência é que esses ensinamentos podem ser cultivados e realizados ao longo da vida do bodisatva, a fim de preparar-se para a morte e atingir a liberação.

Sutra Atyayajñana (como é chamado em sânscrito) é considerado particularmente importante em várias tradições do budismo tibetano, incluindo o Dzogchen e o Mahamudra. Roger Jackson aponta que esse sutra parece ser o único do Kangyur que está incluso nas listas indígenas tibetanas de textos indianos canônicos sobre o Mahamudra. Conforme uma pesquisa nos dados do site Buddhist Digital Resource Center revela, o Atyayajñana é citado por autores tibetanos bem conhecidos de todas as escolas – incluindo Gampopa (1079-1153), Sakya Pandita (1182-1251), Karmapa Rangjung Dorje (1284-1339), Longchen Rabjampa (1308-1364), Shakya Chogden (1428-1507), Drukpa Padma Karpo (1527-1592), Taranatha (1575-1634), e o Quinto Dalai lama, Ngawang Lobzang Gyatso (1617-1682). O trecho citado com mais frequência são os versos finais sobre a mente: 

Já que a mente é a causa para o surgir da sabedoria,
Não procure pelo Buda em outro lugar.


Bodisatva Akashagarbha (Himalayan Arts)

Sutra da Sabedoria na Hora da Morte

Homenagem a todos os budas e bodisatvas!

Assim eu ouvi uma vez. Enquanto o Abençoado estava residindo no palácio do rei dos deuses no reino de Akanishtha, ele ensinou o Darma para a assembleia inteira.

Então o bodisatva mahasatva Akashagarbha prestou homenagem ao Abençoado e perguntou: “Abençoado, como deveríamos pensar sobre a mente de um bodisatva que está prestes a morrer?”

O Abençoado respondeu: “Akashagarba, quando um bodisatva está prestes a morrer, ele deveria cultivar a sabedoria da hora da morte. A sabedoria da hora da morte é assim”:

“Todos os fenômenos são naturalmente puros. Portanto,  deve-se cultivar o claro entendimento de que não existem entidades.

Todos os fenômenos estão inclusos dentro da mente da iluminação. Portanto, deve-se cultivar o claro entendimento da grande compaixão.

Todos os fenômenos são naturalmente luminosos. Portanto, deve-se cultivar o claro entendimento da não apreensão.

Todas as entidades são impermanentes. Portanto, deve-se cultivar o claro entendimento do não apego a qualquer coisa que seja.

Quando alguém compreende a mente, isto é sabedoria. Portanto, deve-se cultivar o claro entendimento de não procurar o Buda em outro lugar.”

Então, o Abençoado disse os seguintes versos:

“Já que todos os fenômenos são naturalmente puros,

deve-se cultivar o claro entendimento de que não existem entidades.

Já que todos os fenômenos são conectados com a mente iluminada,

deve-se cultivar o claro entendimento da grande compaixão.

Já que todos os fenômenos são naturalmente luminosos,

deve-se cultivar o claro entendimento da não apreensão.

Já que todas as entidades são impermanentes,

deve-se cultivar o claro entendimento do não apego.

Já que a mente é a causa para o surgimento da sabedoria,

Não procure pelo Buda em outro lugar.”

Depois que o Abençoado falou, a assembleia inteira, junto com o bodisatva Akashagarba e outros, se alegraram e louvaram as palavras do Buda.

Isto conclui o Nobre Sutra Mahayana sobre a Sabedoria na Hora da Morte.


Para ler a introdução e a versão em inglês, ambos realizados pelo projeto 84000, clique aqui.

Agradecemos a equipe do projeto 84000: Translating the Words of the Buddha, que vem há anos se dedicando a traduzir todos os ensinamentos do Buda para o inglês, por esta iniciativa sem precedentes e por nos autorizar a traduzir este sutra para o português e publicá-lo. Que o projeto floresça e os benefícios se expandam!

Apoiadores

4 Comentários

  1. Paula de Mendonça disse:

    Agradeço o oferecimento dos ensinamentos preciosos

  2. Thiago Henrique disse:

    Muito obrigado pela tradução, pela oferta do ensinamento e por me ter apresentado um novo esforço de tradução digno de ser acompanhado e ajudado.

  3. obrigado pela explica tirei minhas duvidas quanto se a pegar as coisa eu não sou assim .

  4. Juceli Palu disse:

    Gratidão ! Transmissão concisa de grande sabedoria. Possamos todos nós alcançar o pleno entendimento e cultivo para benefício de todos os seres .

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