Em carta publicada no seu mais recente livro, o Dalai Lama pede urgência à humanidade
Buda nasceu enquanto sua mãe se agarrava a uma árvore para se apoiar. Ele alcançou a Iluminação sentado debaixo de uma árvore e faleceu enquanto as árvores testemunhavam lá de cima. Se o Buda voltasse ao nosso mundo, portanto, ele certamente estaria conectado com a campanha para proteger o meio ambiente.
Falando por mim, não hesito em apoiar iniciativas relacionadas à proteção ambiental, pois as ameaças ao meio ambiente colocam em risco nossa própria sobrevivência. Este lindo planeta azul é o nosso único lar. Ele provê moradia para comunidades únicas e diversas. Cuidar do nosso planeta é tomar conta da nossa própria casa.
É verdade que, se compararmos os danos ambientais à guerra e à violência, é claro que a violência tem um impacto mais imediato. O problema é que o dano ao meio ambiente acontece de maneira mais silenciosa, então frequentemente nós não o vemos até que seja tarde demais. Já alcançamos um ponto crítico no aquecimento global.
A educação ambiental a respeito das consequências da destruição de nosso ecossistema e a diminuição dramática da biodiversidade tem que receber prioridade máxima. Mas gerar consciência não é o suficiente; temos que encontrar maneiras de realizar mudanças no modo como vivemos. Eu apelo à geração mais jovem: sejam rebeldes ao exigir proteção e justiça para o clima, porque é o seu futuro que está em jogo.
Uma das manifestações recentes mais positivas foi a consciência crescente de que temos que agir. Greta Thunberg, a ativista ambiental adolescente de dezesseis anos que insiste para que prestemos atenção aos avisos dos cientistas e partamos para a ação direta, me inspira. Milhões de jovens se sentiram tocados pelo seu exemplo de protestar contra a inação dos governos em relação à crise climática. Ela está certa em dizer: “Ninguém é pequeno demais para fazer a diferença”. Eu apoio de todo o coração o Fridays for Future (Sextas-Feiras para o Futuro), o movimento que ela iniciou.
Estou encorajado de ver a determinação dos jovens para realizar mudanças positivas. Eles estão confiantes em fazer a diferença, porque seus esforços são baseados em evidências e na razão. Cada vez mais pessoas entendem que a sobrevivência da humanidade está em jogo. Apenas meditar ou orar por mudanças não é o suficiente. Deve haver ação.
Já não é mais suficiente pensar somente em “meu país”, “meu povo”, “nós” e “eles”. Todos nós temos que aprender a trabalhar para o benefício de todos os seres humanos.
Os humanos são animais sociais nascidos com um sentimento de pertencimento a uma comunidade. Nós temos que entender que, assim como nosso futuro depende de outros, o futuro dos outros depende de nós. Nosso mundo é profundamente interdependente, não apenas em termos de nossas economias, mas também em ter de enfrentar o desafio das mudanças climáticas.
Devemos observar que os problemas locais têm ramificações globais desde o momento em que eles começam. A crise climática afeta a humanidade como um todo.
Países insulares como Fiji, as Ilhas Marshall, as Maldivas e as Bahamas mostraram que, coletivamente, podemos fazer a diferença. O Acordo de Paris de 2015 para combater as mudanças climáticas, que foi assinado por 196 países, foi um bom começo, mas tem que ser levado a cabo com ações.
Precisamos de um senso de responsabilidade universal como nossa motivação central para reequilibrar nossas relações com o meio ambiente e com nossos vizinhos. Compreender a unicidade da humanidade em face do desafio do aquecimento global é a verdadeira chave para a nossa sobrevivência.
Estou agora com 84 anos e testemunhei muitas das transformações sociais do século 20: a destruição e o sofrimento trazidos pela guerra, bem como os danos sem precedentes ao ambiente natural. A geração mais jovem de hoje tem a habilidade e a oportunidade de criar um mundo mais compassivo. Eu os apresso a fazer deste século 21 uma era de mudanças enraizadas no diálogo e um século de compaixão por todos os habitantes deste planeta.
A exploração excessiva de nossos recursos naturais resulta da ignorância e da ganância, e de uma falta de respeito pela vida na Terra. Salvar o mundo da crise climática é nossa responsabilidade comum. Nós temos que encontrar modos de exercer a liberdade com responsabilidade.
Precisamos de uma revolução da compaixão baseada na bondade, que contribuirá para um mundo mais compassivo com um senso de unicidade da humanidade. A família humana inteira deve se unir e cooperar para proteger nosso lar comum. Eu espero que os esforços para alcançar um modo de vida mais sustentável sejam bem-sucedidos.
Este texto é a tradução do Cap. 3 do livro Our Only Home: A Climate Appeal to the World, escrito por Sua Santidade o Dalai Lama e Franz Alt
Apoiadores
5 Comentários
muito bom… obrigado pela tradução!!!
eu já imaginava q a mente compassiva do Buda só poderia ser ambientalista no mundo de hoje. ouvindo do Da Lai Lama fica mais evodente a missão comum da humanidade.
namastê
A foto penso que é da Greta não sara…
Gratidão pelo texto
Isso! Sarah é a fotógrafa 🙂
O DESENVOLVIMENTO DA COMPAIXÃO , É A BASE PARA A AUTOTRANSFORMAÇÃO E CONSEQÜENTEMENTE TRANSFORMAÇÃO DO PLANETA .
Amo ler as sábias palavras de Sua Santidade o Dalai Lama. Gratidão.