Vivência Formativa para Jovens: conexões com o céu

Iniciativa do Instituto Caminho do Meio (ICM) promoveu movimento de educação não-escolar para jovens de 16 a 30 anos


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Revisão: Carolina Franchi

Como Lama Padma Samten fala: um college em construção. Assim foi a primeira edição da vivência presencial focada em jovens no CEBB Caminho do Meio, realizada entre os dias 16 a 19 de junho. Em breve, uma nova turma será oferecida. Confira o relato de participantes e como a experiência impactou em suas vidas. 


A Vivência Formativa para Jovens, realizada pelo Instituto Caminho do Meio (ICM), faz parte de um movimento de educação não-escolar para jovens de 16 a 30 anos, estruturada em três níveis: 

  • no nível da mente, articular a percepção de como o mundo está hoje com uma visão mais profunda das sabedorias e da natureza da mente a partir de uma visão budista; 
  • no nível da energia, reforçar a inserção das pessoas em comunidades significativas e na vida em meio ao bosque, tomando como base a Aldeia CEBB; 
  • no nível do corpo, desenvolver caminhos de ação efetiva no mundo através de “laboratórios vivos”.

O momento contou com a presença de 17 jovens de várias regiões do país. Além de apoiarem cotidianamente nas atividades de cozinha e mantimento da vivência, participaram de diversos laboratórios. 

Ana Nedochetko, de Joinville, Santa Catarina, participou da primeira edição e será facilitadora na próxima vivência. Para ela, a palavra para o projeto do College é reencantamento. “O meu contato com o movimento começou com o CEBBTalks, em que pude compartilhar com outros jovens a insatisfação pessoal diante das escolhas que nos são apresentadas na época pós ensino médio e durante a graduação. Um mundo delimitado, quadrado e sem graça. O CEBBTalks e os laboratórios me deram o suspiro necessário e fiz as pazes com o lugar que eu estava no momento – cursando mestrado em Filosofia”, conta a estudante.

Para ela, a experiência foi renovadora e pacificadora. “Percebi que não apenas eu gostaria de viver aquilo, mas que todos os jovens também pudessem ter esse respiro das estruturas profissionais e sociais que tanto aprisionam. Foi então que me coloquei à disposição para ajudar na continuidade do projeto, que culminou na primeira vivência presencial no CEBB Caminho do Meio. Nos poucos dias em que ficamos juntos foi possível reconhecer em cada um, um mundo completamente novo e encantador. Ideias e sonhos se aliando e alimentando. Pessoas florescendo em um curto período de quatro dias. Da mesma forma, espero que esse projeto tenha continuidade e que novos encontros sejam possíveis, pois acredito que pode realmente beneficiar tantos jovens não mais satisfeitos em seguir um protocolo. O College e o CEBB fornecem um terreno fértil em que podemos plantar e nutrir em várias direções. Reencantar a vida e os nossos olhos, para que possamos enxergar novas direções para nosso futuro individual e coletivo”, conta Ana.

De Guaramirim, também Santa Catarina, veio Laís Kinas De Aguiar. As conexões que ela estabeleceu vão servir como referenciais para sua vida. “Eu descobri sensações mágicas no CEBB, acho que a palavra é “mágica”. Nunca tinha ido e foi minha primeira experiência. Talvez tenha sido uma admiração de iniciante, mas realmente acho que o CEBB Caminho do Meio é especial, sem contar que foi ótimo conhecer novas pessoas engajadas no florescimento humano, gente de vários lugares do Brasil. O que tocou meu coração durante os laboratórios foi conhecer o pessoal do MST (Movimento sem Terra), fiquei muito alegre por ter plantado árvores e trocado ideia com eles. Também teve a visita na escola da instituição, aprendemos bastante com a forma que a educação é abordada lá dentro, como é feito o acolhimento dos estudantes, enfim, adorei e me deixou muito inspirada para imaginar novos lugares como essa escola no Brasil inteiro”, explica.

Laís conta que quando soube do College, tudo fez muito sentido para o que ela estava vivendo naquele momento. “Acho que após essa vivência, um hábito que comecei a incluir na minha rotina foi começar a olhar os seres com mais interesse, mais brilho, pois todos tem uma história, uma visão, inspirações e motivações diversas e acredito que seja isso que precisamos acolher nos nossos olhares cada vez mais. É bem importante ampliar nosso olhar para essa diversidade. Outra situação que observei e quero manter constante na minha vida é estar atento à necessidade e bem-estar dos outros, percebi muitas vezes as pessoas do CEBB observando os participantes. Outra experiência bem marcante na minha memória foi as conversas ao redor da fogueira à noite, onde a gente fez um bate-papo descontraído depois de um dia de atividades. Me deixou confortável, como uma amiga próxima do pessoal, mesmo o frio me pegando um pouco (fazia 1 °C). Enfim, sou muito grata ao CEBB por ter proporcionado uma vivência tão boa e construtiva quanto essa”, conclui Laís.

“Já há algum tempo tinha a aspiração de conhecer presencialmente o Templo e o Lama e, ainda que não fosse um retiro, achei bastante propício o formato”, revela Lucas Alessandro Coelho, um dos participantes. “Uma oportunidade de aprender a me relacionar com o mundo – com a aparência que ele tem hoje – de uma forma não condicionada pela aparência que ele tem hoje. Particularmente, acredito que muitos jovens também tinham, e ainda tem, uma certa desesperança na sustentação da vida como a conheceremos num futuro próximo, especialmente pelas questões ecológicas. Então, era uma oportunidade de me reencantar, de compreender que é possível ainda, e ainda, e ainda; e que sempre é possível”, reflete Lucas.

Lucas relata que se sentiu acolhido e em casa. “Estar lá, em companhia de jovens de todas as idades, de 17 a 40 e tantos, e com o próprio jovem que o Lama é, cultivando aspirações semelhantes e a mesma energia, me pareceu muito natural, como se fosse um lugar que eu sempre frequentava, como se fossem pessoas que eu sempre visse, por mais que tenha sido a primeira vez que tenha ido ao CEBB Viamão e visto aquelas pessoas. E isso me pareceu ser uma centelha de que é possível outras realidades além das que projetamos para o futuro em várias direções”, analisa.

“Todos os laboratórios foram encantadores, conhecer a forma de educação da escola do CEBB e ver como é possível aprender com mais amor e com menos dor, conhecer o assentamento e como, a partir da energia constante de todos, se pode romper paradigmas e criar outras realidades que parecem muito distantes. Até mesmo a oficina da cozinha (risos) foi preciosa para ver como, de uma forma ou de outra, as coisas acontecem quando temos a motivação correta”, enfatiza Lucas. Para ele, o mais importante foi o eixo que conduziu todas as atividades. “Olhando agora, acredito que o mais importante foi a linha que costurou todas as experiências. Essa linha que não começou no primeiro dia da vivência, tampouco deu-se um nó ao final, essa linha que é muito difícil de descrever, mas que aos poucos podemos senti-la como real. Sem dúvida as palavras do Lama sobre como podemos criar um futuro diferente simplesmente mudando a visão que temos agora – mudando a visão de hoje o futuro já mudou – coroou toda a vivência e fortaleceu o encantamento”, conclui.

A visão da família

Álvaro Rodolfo Rodrigues, de São José do Rio Preto, acompanhou seu filho Klaus durante as atividades do College. Para ele, os jovens hoje estão vivendo momentos de muita ansiedade, expectativas e medos. Por um lado, um mundo hiper conectado, com uma infinidade de informações que cada vez mais sufocam os estudantes, por outro dúvidas em relação ao futuro. “Eu percebo não só no meu filho, mas em outros jovens, essa insegurança sobre como será o futuro. Eles são muito demandados, estão em um ambiente de muita cobrança o que desencadeia ansiedade e medo. O College veio para mostrar que existem outras possibilidades”, analisa Álvaro. 

Para ele, foi o primeiro contato que o filho teve com um local que vive em comunidade e é regido por outros valores que não somente o paradigma econômico. “Achei muito interessante olhar a vida em sociedade com outros olhos. Saber que existem outras possibilidades. Para meu filho, num primeiro momento foi muito chocante estar num ambiente onde não há essa extrema cobrança por resultados e expectativas em relação ao sucesso financeiro quanto ao futuro. Esse sistema que vivemos acaba castrando as múltiplas inteligências que podem se manifestar, é uma visão limitada, meio pronta do que devemos fazer e buscar. Para mim, a riqueza desta vivência foi isso: sentar em roda, conversar com as pessoas sem ter uma meta, um objetivo, simplesmente estar com as pessoas. Foi maravilhoso”, conta.

Se por um lado o medo de ser julgado em seu ambiente escolar deixou Klaus apreensivo no início da vivência, com o tempo a experiência transformou sua visão, segundo seu pai. “Ele entendeu muitas coisas que nunca tinham passado pela cabeça dele. Ele pode enxergar outras possibilidades de ver a realidade não apenas pelo paradigma econômico. Foi uma experiência muito rica e reencantadora. E toda a equipe foi muito cuidadosa, o que fez com que nos sentíssemos acolhidos e em casa”, finaliza. 

Saiba mais sobre as atividades que permearam a vivência

Dentre os laboratórios vivos, o grupo participou de atividades no Sistema Agroflorestal do CEBB, na Escola Caminho do Meio e no Assentamento Filhos de Sepé. Durante as atividades, os jovens puderam entrar em contato com formas diferentes de cultivar a terra e de organização comunitária.

Foram oferecidos também laboratórios de estudo voltados para a contemplação da visão. Foram discutidos diferentes sistemas de organização e ação no mundo, além da compreensão da operação por mandalas.

Um dos grandes momentos da vivência foi uma palestra oferecida pelo Lama Padma Samten aos jovens, em que foi possível, além de ouvir os ensinamentos, realizar perguntas e conversar abertamente com o Lama.

Também aconteceram momentos não curriculares com conversas ao redor do fogo para compartilhar experiências e ideias e conectar o grupo. Assim, cultivando a visão ampla e nutrindo todos os participantes com relações significativas, agindo de forma a estimular os pontos de pressão corretos para transformar os sistemas do mundo, é possível dizer que a atividade ajudou os jovens a reencantar a visão sobre como é possível, mesmo diante das crises sistêmicas da sociedade, viver uma vida com sentido.

“As coisas parecem sólidas, mas elas não são sólidas, elas brotam sólidas junto com a nossa mente. Nossa mente é livre, ela pode construir outras coisas. Quando nós vemos a destruição ambiental e temos dificuldades de imaginar um futuro favorável, são simplesmente as categorias mentais que estão aparecendo, porque eu posso construir luminosamente outras realidades. Esses mundos que estamos vivendo agora são criações mentais das gerações anteriores. Então nós temos a capacidade, nessa geração, de olhar de outro jeito e construir um mundo de um jeito totalmente diferente. Nós estamos nesse processo muito acelerado de redefinição do mundo inteiro” .

Lama Padma Samten (Vivência Formativa para Jovens em junho de 2022)

Segunda edição deve ocorrer em 2023

A próxima vivência deve acontecer em maio do próximo ano. Também está sendo estudado um tempo maior de atividades. As inscrições e informações serão divulgadas nos canais de comunicação do CEBB. “Nós ficamos tão empolgados com essa experiência que já estamos planejando mais uma! Em maio de 2023, traremos 15 estudantes do Programa de Sustentabilidade da Universidade do Novo México para o Caminho do Meio para 17 dias de imersão. Teremos um intercâmbio profundo com os jovens da comunidade do CEBB e de sua rede – assim como com jovens do Instituto Federal de Viamão e da Escola do MST. Nossa esperança é que essa seja apenas a primeira de muitos intercâmbios e imersões internacionais que virão”, conta Andreas Hernandez, um dos organizadores da experiência.

Segundo Andreas, os quatro dias de imersão foram transformadores. “Para mim, e acredito que para muitos dos jovens que se juntaram a nós e aos facilitadores no CEBB, foi uma experiência de profunda transformação. É o carinho e a energia do CEBB que criam as bases e o foco para todos esses eventos. Os jovens que vieram não apenas ganharam capacidades e imaginação para transformação social e ecológica, mas saíram com a sensação de conexão e comunidade, que eu espero que levem consigo ao navegarem e abordarem as grandes questões do nosso tempo”, avalia.

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