Entrevista com Tenzin Wangyal sobre aprofundar o caminho espiritual através da contemplação de nossas práticas oníricas
O Lama Tenzin Wangyal Rinpoche esteve no Brasil em janeiro de 2024 para a condução de um retiro e o lançamento da reedição de seu livro “Os Yogas Tibetanos dos Sonhos e do Sono”, traduzido por Jeanne Pilli e publicado pela editora Lúcida Letra. A Bodisatva conversou com o Rinpoche sobre como nós podemos aplicar as práticas dos sonhos e do sono no cotidiano. Em 2025, a sangha brasileira terá novamente a oportunidade de estar perto do mestre: haverá novo retiro dele no CEBB Sukhavati, em Quatro Barras-RS, ainda no início de 2025, em janeiro. Ao final desta entrevista especial, confira também outras publicações anteriores da Bodi contendo ensinamentos do Lama Tenzin Wangyal Rinpoche.
A Revista Bodisatva atrai muitos leitores que não são praticantes ou que estão começando no Budismo. Você poderia falar um pouco sobre o que são os yogas tibetanos dos sonhos e do sono no Oriente?
Os yogas tibetanos dos sonhos e do sono compõem um sistema de meditação ancestral. E, particularmente, meu livro é baseado na tradição Bön, do Tibete. Esse conhecimento não é exclusivo do Bön. Existe também em outras escolas do Budismo e no Hinduísmo. Então, a ideia aqui é que — como humanos — existem muitas portas diferentes para o nosso desenvolvimento pessoal e espiritual.
Durante o dia, a cada hora, a cada minuto, estamos trabalhando e tentando fazer algo: encontrar a felicidade, crescer… mas geralmente ignoramos o período da noite, a ponto de ser quase como uma perda de tempo. Pelo menos, algumas pessoas pensam dessa forma.
Ouvi uma história sobre a Netflix… eles acham que têm de lutar contra a noite para que todos assistamos a seus programas. Assim, eles ganharão dinheiro e arruinaremos nossas vidas. Então, a noite não é valorizada. As pessoas no mundo ocidental, de uma forma particular, valorizam tanto a produtividade e o trabalho que apenas dormir é visto como uma perda de tempo.
Mas, antigamente, o sono e os sonhos eram vistos como uma parte importante do desenvolvimento pessoal e particularmente espiritual. Desse modo, tudo sobre os yogas dos sonhos e sono tem a ver com esse princípio.
Parece que, hoje em dia, a falta de sono ou o sono de má qualidade é algo muito presente na vida de todos. Poderíamos ver a melhora na qualidade do sono como uma prática preliminar aos yogas dos sonhos e do sono?
Antes de tudo, é preciso separar a ideia dos yogas dos sonhos e do sono e apenas o sono. Para fazer o yoga dos sonhos e do sono, primeiro temos que dormir, certo? Dormir bem. Se não fizermos isso, não teremos uma boa prática. Mas o problema da sociedade moderna é que ela está muito privada de sono por diferentes razões. Provavelmente, a principal razão é ignorância. Não vemos o quanto o sono é importante. Na ciência, isso também é recente. Cada vez mais as descobertas científicas apontam que o sono é muito importante. Nos últimos 10, 20 anos, mais e mais têm se mostrado que o sono é o fator mais importante para a saúde humana.
Todas as doenças são desencadeadas e causadas principalmente pela falta de sono, o que está muito claro, de acordo com a ciência. Mas, na tradição antiga, não se fala da perspectiva da saúde; fala-se do uso do sono para o desenvolvimento pessoal e espiritual.
O Rinpoche veio para o Ocidente após um treinamento bastante tradicional, mas incorporou os avanços da tecnologia completamente. Como podemos unir esse conhecimento profundo do Bön com o uso da tecnologia para avançar mais rapidamente no caminho?
Acho que é da natureza humana sempre tentar melhorar de um jeito ou de outro. Conhecimento, sabedoria tradicional antiga, aplicações práticas: é da natureza humana se desenvolver cada vez mais. Mas a velocidade da evolução aumentou muito nos últimos 30, 40 anos por causa da tecnologia.
Eu me lembro da primeira vez em que fui para os Estados Unidos, em 1991. Não havia celulares — todos usavam beepers. Ou mesmo antes (talvez em 1989), quando a secretária eletrônica foi criada, as pessoas não queriam falar com ela. Achavam horrível.
As coisas mudam muito e mudam muito rápido. De alguma forma, as pessoas que valorizam o que eu valorizo também (os valores culturais tradicionais antigos), às vezes se sentem ameaçadas pela tecnologia, o que é compreensível. Mas, eventualmente, ou acompanhamos ou ficamos para trás… isso se aplica a qualquer coisa, até mesmo no mundo dos negócios. Temos a forma antiga de fazer negócios, a forma antiga de contabilidade, de marketing, de produzir, de processar judicialmente, de manter um registro, de tudo. Seja lá qual for a forma antiga, continuamos a fazê-la e chamamos isso de tradição: “minha velha e tradicional forma de fazer”.
Precisamos acompanhar a tecnologia e abraçá-la, tornando-a parte de nossa vida. Então, o mesmo se aplica aos negócios: se não fizermos isso, vamos à falência. Centenas de negócios quebram todos os dias somente porque não são capazes de abraçar as novas e mais eficientes formas de se fazer as coisas. Com o desenvolvimento espiritual é o mesmo: pense nos dispositivos de biofeedback, por exemplo.
Claramente, quando pensamos sobre sonho e sono em particular, existem os dispositivos de biofeedback que conseguem fazer uma distinção mesmo que os estágios do sono sejam bem semelhantes. Temos os estágios: vigília, sono leve, sono profundo e sono REM. Até mesmo esses estágios são muito semelhantes na tradição antiga, onde há muitas descrições, mas não temos certeza: “Eu dormi?”, “Foi um sono leve ou foi sonho?” e “Quanto eu sonhei?”. Difícil! Mas esses dispositivos dão uma estimativa muito boa: o fato de ter tantas horas ou minutos de sono REM, sono leve. Ele lhe fornece dados todas as manhãs. Então, quando os temos, é muito útil utilizar a tecnologia [junto] com as nossas práticas.
Pessoalmente, eu uso dispositivos como o Oura Ring. Estou usando um como este aqui, Whoop, que me ajuda muito. Particularmente, ele me ajuda a mudar as coisas para melhorar meu sono, então posso aprimorar minha prática de yoga do sonho.
Relacionado a isso, o que nós — como praticantes pouco experientes que não iniciamos na yoga dos sonhos — poderíamos trazer para a nossa prática que contribua para o caminho espiritual? Como podemos posicionar a nossa mente quando vamos dormir? Em outras palavras, há uma versão simples da prática que poderíamos fazer antes de nos deitarmos?
Existem dois temas principais para prestarmos atenção:
1) o primeiro é o contexto filosófico da prática, que eu acho bom entender — o que pode não ser muito prático, mas que é importante entender; e
2) a outra parte é uma aplicação prática, que é o que realmente vamos fazer.
Portanto, o tema por trás da prática de yoga dos sonhos é que tudo é como um sonho. Tudo o que pensamos que é real, não é real: tudo é como um sonho. Então é uma questão de descobrir… mais cedo ou mais tarde, descobrimos que o que pensávamos não é exatamente o caso.
Sabe, as pessoas continuam comprando coisas e, depois, tentando se livrar delas em “vendas de garagem”. Elas tentam doar tudo o que acumularam. Ou veem algo como muito significativo no início da vida e depois, na velhice, não veem significado naquilo. Elas investiram tanto tempo, energia, emoção e pensamento. Enlouquecem um monte de gente e depois descobrem que não havia razão para fazer nenhuma daquelas coisas… mas a ideia aqui é que é melhor descobrirmos mais cedo do que mais tarde. Então, tudo é como um sonho. Esse conceito é complicado, certo? Então, isso é o que está por trás.
E mesmo o próprio sonho, se prestarmos atenção: a história, as imagens… elas são significativas. Os significados simbólicos são importantes, mas sempre depende do quanto queremos tornar aquilo importante. Somos nós quem estamos vendo, sentindo, interpretando e dando significado àquilo. Isso depende da nossa identidade. Nos sonhos, nada importa muito. No fim, é só um sonho; é a nossa projeção. E a razão pela qual queremos saber que o sonho é a nossa projeção é para não nos perdermos naquilo, não criarmos bloqueios, não nos fazermos sofrer, não bloquearmos nossa potencialidade. Esse é o propósito.
Rinpoche, eu estava lendo o livro do Lama Alan Wallace sobre o yoga dos sonhos e comecei a escrever os meus sonhos e a tentar encontrar um padrão neles. Não encontrei padrões de objetos, mas encontrei padrões emocionais com os quais não me sentia capaz de lidar. Então parei, porque tinha a sensação de que aquilo ou ia me deixar louca ou muito triste. Como podemos fazer quando estamos bem de frente para o carma (mesmo sabendo que é um sonho)? Como podemos clarear?
É uma boa pergunta. Eu acho que o principal objetivo da prática de yoga dos sonhos é reconhecermos isso. Então, tendo um padrão, as imagens e a história podem ser variadas. Podemos estar em situações completamente diferentes, mas as emoções subjacentes são muito semelhantes, porque é isso que está produzindo essas histórias.
Por exemplo, se estivermos com medo: se a emoção subjacente for o medo, ele pode interferir nos nossos relacionamentos; vai surgir neles. Ou se estamos tentando começar um novo projeto, ele vai aparecer lá. Ou se estamos procurando um emprego com o qual não estamos familiarizados, vai surgir lá.
Pode surgir na saúde pessoal, na família, nos relacionamentos, na profissão, em todo lugar. Vai surgir em lugares diferentes com histórias diferentes. A emoção subjacente é uma: o medo. Mas o medo é algo que nós temos; não algo que somos. É diferente! Não somos o medo, mas temos medo. Quando alguém é capaz de ver isso: “Oh, eu tenho medo! É por isso que não consigo me envolver em uma relação íntima. É por isso que não sou capaz de procurar um emprego que mereço. É o meu medo”. Quando reconhecemos isso — mesmo apenas reconhecendo —, isso nos ajudará a mudar. Faz sentido? Então, não é como às vezes as pessoas dizem: “Oh, posso ter medo… eu não quero lidar com isso quando vejo”. Mas quando estamos vendo isso, já é um começo de mudança. Muitas pessoas não são capazes de ver, então dizem “eu” em vez de “meu medo”.
Somos diferentes do nosso medo. É importante estar consciente disso. Sonhamos com histórias parecidas, relacionadas ao nosso medo. Não apenas nos sonhos, mas também experimentamos isso em nossa vida desperta. Então vemos: “Na minha vida, é assim que me comporto” e “Nos meus sonhos, é isso o que está acontecendo.” Vemos que eles estão conectados. Subjacente a eles, há a mesma emoção: o medo. Há muitas formas de lidarmos com essa emoção: práticas de purificação, estar consciente do medo, respirar, análise. Esse é o trabalho do sonho. Faz sentido?
É uma continuação da nossa prática ao longo do dia, certo? E acho que é mais deixar ir, sem uma pressão do tipo: “Eu preciso resolver isso!” É mais respirar, olhar para isso e fazer as coisas no seu tempo.
É isso. E nós não somos o nosso medo! E dizemos: “Eu consigo, eu vou superar isso!” Porque muitas pessoas dizem que isso é quem eu sou e não confiam que podem mudar. Elas não confiam em si mesmas, que conseguem superar. Elas sentem que têm de viver com isso para o resto de suas vidas, o que não é verdade.
Então, há muitos processos diferentes que podem ser mais eficazes dependendo do caso. Para alguns, pode ser um trabalho energético, enquanto, para outros, a análise pode ajudar mais. Algumas pessoas pensam mais, outras sentem mais.
O livro de yoga dos sonhos do Rinpoche faz uma distinção entre os sonhos cármicos e os sonhos de Clara Luz (aqueles que podem trazer alguma informação nova). Então, como fazer essa distinção? Podemos ter um sonho e achar muito significativo, achar que devemos fazer algo, mas pode ser apenas um reflexo do nosso próprio carma. E os sonhos cármicos — como estávamos falando — também têm a importância de trazer à tona coisas durante o sonho, certo?
Com certeza. Os sonhos sobre os quais estávamos falando, podemos considerá-los mais como sonhos cármicos. É o tipo de sonho que tem traços cármicos (bag chags, em tibetano), que podemos chamar de impressões cármicas: marcas em nós que podem ser da vida passada, da nossa infância. A psicologia diz que poderia ser mais sobre a infância. Algo aconteceu. Seja o que tiver acontecido, aquelas marcas estão apenas se manifestando posteriormente. Então, esses sonhos são causados por essas condições, essas impressões cármicas.
Quando estamos trabalhando com esses sonhos, somos capazes de esclarecer um pouco disso. Podemos conscientemente saber por que estamos sonhando isso, o que aconteceu. Entendemos o cenário. Já estamos um pouco além daquelas condições. Somos a pessoa que está vendo a condição, a história, o que está acontecendo. Assim, já estamos elevando a nossa consciência. E quando essa consciência (lucidez) desempenha um papel mais importante, ela se torna Clara Luz. Quanto mais nos tornarmos conscientes, mais essa condição de sonhos cármicos não vai nos afetar.
Isso faz sentido uma vez que, neste momento em minha vida, não é possível explicar todos esses sentimentos. Então, tenho certeza de que vem de vidas passadas. Aí o Rinpoche fala de causas e circunstâncias… mas quando alguma coisa acontece e vejo que estou apenas tentando me proteger e eu nem sei o porquê, pois na minha vida está tudo bem: família, amigos, relacionamentos. Então, essa é a dificuldade.
Às vezes, quando dizemos que está tudo bem, temos que olhar de perto para a situação. Podemos fazer com que o que não está bem parecer estar bem, por causa do condicionamento social. Assim: “Está tudo bem?”, “Realmente tudo bem?”, “Mais ou menos tudo bem?” e “Tudo bem, porque você está fazendo ficar tudo bem?” Temos que entender mais profundamente. Se realmente está tudo bem, então podemos dizer: “Talvez seja verdade. Talvez tenha algo a ver com uma vida passada”. Mas é difícil afirmar.
Os sonhos têm um papel muito importante na cultura tibetana, assim como nas culturas indígenas aqui na América do Sul. Ao ponto de, entre alguns povos indígenas, a primeira coisa que eles falam uns para os outros de manhã é sobre o que cada um sonhou. E eles não fazem nada antes de analisar os sonhos: não saem para caçar, para plantar. O Rinpoche vê alguma conexão?
Eu não sei sobre os povos indígenas daqui… falando de uma forma geral, as tradições [originárias] no mundo todo e os trabalhos antigos com sonhos, como o junguiano… analisando da perspectiva budista, basicamente olhamos de duas formas diferentes: uma trabalha com o sonho, com uma história, e a outra tenta ir além da história. É a mesma coisa se temos pensamentos: ou dizemos que temos muitos pensamentos ou podemos dizer que os pensamentos são apenas pensamentos e que estamos livres deles, que estamos além disso. Essa é a melhor solução.
Se não conseguimos fazer isso, significa que estamos presos às histórias. Então, todos os dias, quando acordamos de manhã, temos que lidar com elas: “Qual é a minha história hoje?”, “Qual é a minha dor hoje?”, “O que me incomoda hoje?”, “O que eu espero hoje?” e “Qual é o meu desejo hoje?” São coisas com as quais temos que lidar, porque elas vão nos assombrar. Podem nos fazer sorrir, chorar, ter esperança, perder a esperança. Temos que lidar com isso.
Seja em uma tradição nativa ou outra, os sonhos são nossas expressões condicionais — nossas expressões condicionadas de personalidade — que estão se manifestando como pensamentos, emoções e sonhos. E nós temos que lidar com isso, porque elas vão tirar a nossa paz! A menos que sejamos muito brincalhões com elas, temos que lidar com isso, nos libertar delas.
“Oh, tenho um pensamento horrível, mas estou livre dele! Ah, é só um pensamento! Vou só ignorar e eu me sinto livre dele. Estou bem, meu coração está tranquilo. Meu humor está legal. Meu corpo está respondendo, está tudo bem”. Mesmo que seja um pensamento muito ruim, um pesadelo, podemos cortar as histórias bem rápido.
Acho que este é o segredo: ou estamos livres da nossa história, do nosso sonho ou não estamos livres da nossa história, do nosso sonho. Estamos livres ou temos que lidar com isso? Se estamos livres, não temos que lidar com isso. Se não estamos livres, temos que lidar com isso. Temos de encontrar qualquer meio que possamos imaginar: compartilhar os sonhos com os outros, fazer análise, fazer uma prática de purificação. Fazer o que for preciso para processar isso.
Essa coisa de não nos vermos enganchados em um pensamento é muito difícil, porque, às vezes, sinto que posso fazer isso: simplesmente cortar. Mas, às vezes, quando é muito profundo, é meio que: “Tá, eu não sou essa coisa que estou sentindo no meu peito, mas está aqui”. E eu começo a respirar, mas está lá. Então sento com isso. Às vezes, isso vai embora, às vezes, não. Daí, com base na nossa conversa, acho que preciso dar um tempo para que isso vá embora.
Sim, uma das melhores maneiras de lidar com isso é primeiro perceber: quando estamos sentindo essas coisas, procuramos não ficar introvertidos, não nos isolar, não repetir aquele pensamento várias vezes. Engajar nosso corpo com exercícios, yoga… certo? “Não estou tendo um bom pensamento esta manhã, mas tudo bem. Vou dar uma corrida, me exercitar, fazer a minha caminhada”. Em vez de ficarmos deitados com as janelas fechadas… não, não vamos fazer isso! Levamos nosso corpo para fora.
Em segundo lugar, fazer alguns exercícios de respiração profunda. Essencialmente, quando estamos ansiosos, a respiração fica mais curta, superficial, menos profunda. Respiramos mais rápido. Quando a mente está relaxada, respiramos diferente. Então, quando não conseguimos relaxar, podemos manipular a respiração e isso afetará a nossa mente. Se mudarmos a respiração, mudaremos a mente.
Em terceiro lugar, precisamos nos engajar, pois não é de tudo que não gostamos. Fizemos um pequeno exercício: meia hora. Fizemos 15 ou 20 minutos de respiração e já somos uma pessoa diferente de quando começamos. Agora estamos sentindo que podemos nos engajar em algum processo criativo. Podemos fazer um pouco de pintura, alguma obra de arte, conversar com os amigos para algum novo projeto e vamos tomar um café. Só vamos em frente e fazemos.
Essa é a terceira parte: nos engajarmos socialmente com alguém, com algo que amemos fazer. No início da tarde, já estaremos 50%, 75% livre daqueles pensamentos. Se não fizermos esses três passos, estaremos muito mais mergulhados nesses pensamentos até à tarde. Então, se os mudamos gradualmente, talvez à noite, não apenas vamos ter esquecido como estávamos nos sentindo mal com eles, mas também estaremos muito animados com aquela energia que nos inspirou a fazer algo. Então, essa inspiração, esse fogo ou criatividade ajudam a superar a depressão ou a ansiedade advindas desses pensamentos. É uma rotina diária para abordar as práticas.
Sim, é muito prático. E esta é a forma de ver a vida como um sonho?
Eu não diria que é dessa forma. Na verdade, trata-se de encontrar formas mais hábeis exatamente quando não vemos a vida como um sonho. Se realmente vemos a vida como um sonho, não temos que seguir nenhum daqueles métodos. Estamos livres!
Quando não somos capazes de ver tudo como um sonho, temos uma história com a qual trabalhar. Esta é a forma de lidarmos com as nossas histórias energeticamente: talvez, em algum momento, vermos o mundo como um sonho e este processo possam [ser coisas a] andar juntas. Talvez, à tarde, nós sintamos: “Oh, estou livre daqueles pensamentos!” e “Sei lá o que estava se passando na minha cabeça com aqueles pensamentos e o que estava acontecendo no meu coração com aquelas emoções… não faz sentido nenhum! E nem preciso fazer essas respirações, exercícios ou quaisquer coisas criativas para me libertar daquilo”. Mas de qualquer forma, isso ajuda.
Estamos nos divertindo fazendo algo, estamos fazendo uma obra de arte, porque gostamos de fazer obras de arte. Não estamos fazendo isso porque estamos tentando nos livrar daqueles pensamentos, certo? Ou qualquer outro engajamento criativo. Às vezes, o engajamento criativo ajuda a proteger a nossa vida. Às vezes, não precisa proteger a nossa vida. Ele expande a nossa existência, o nosso senso de si mesmo; é uma expansão do nosso senso de si. Não estamos tentando libertar nosso senso de eu. Faz sentido?
Isso nos leva a um ponto em que talvez possamos ficar livres de pensamentos, certo?
Sim. Talvez possamos processar até o ponto em que eles possam estar juntos.
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