Foto: Polliana Zocche

1º Dia | Introdução ao Budismo e às Redes

O primeiro dia da 19º edição do 108 Horas de Paz do CEBB e ICM convidou a todos a pensar sobre o conceito de redes


Por
Revisão: Bruna Crespo
Transcrição: Lilian Tavares e Bruna Crespo

O 108 Horas de Paz deste ano, que aconteceu de 27 de dezembro de 2018 a 01 de janeiro no CEBB Caminho do Meio, em Viamão – RS, começou com uma palestra de introdução ao Budismo, oferecida pelo tutor do CEBB, Luis Felipe Villas Boas. Foram abordadas questões fundamentais do Budismo, como a noção de não prejudicarmos e ajudarmos todos os seres. Luis Felipe explicou as 4 nobres verdades, os 8 passos do nobre caminho, e conceitos como impermanência, coemergência, shamata, prajanapamita, entre outros.

Ele nos lembrou da importância da vivência pessoal com os ensinamentos, da meditação e as dificuldades da prática. Reforçou que precisamos compreender os ensinamentos e praticar a meditação para aprender a lidar com os fenômenos que surgem, que são inseparáveis de nós, citando uma fala importante do Lama Padma Samten (que, inclusive, estampava sua camiseta): “nós somos os co-construtores da nossa realidade”.

Na sequência houve um convite aos participantes e oferecidas instruções iniciais de meditação.

Mesa Redonda “De que Redes Estamos Falando?”

Na parte da tarde, a primeira mesa redonda do 108 Horas trouxe a pergunta “De que Redes Estamos Falando?” para abrir o tema do evento – “Ações em Rede” – aos participantes e convidados.

José Ricardo Oliveira, coordenador do Instituto Caminho do Meio, iniciou o diálogo contextualizando o porquê do budismo propor essa agenda de ações em rede. Ele lembrou a história do Buda e seu caminho na busca de trazer benefícios para todos os seres de forma equânime.

Para responder a questão de como essa visão de mundo se transforma em ação, relembrou a história do Lama Padma Santem e do CEBB, evidenciando que desde o início, o centro vem realizando movimentos em rede, desenvolvendo caminhos para os tempos que vivemos a partir da ampliação das visões de mundo que surgem. Por fim, relembrou a situação atual da nossa sociedade e a necessidade de nos auto-organizarmos e aprofundarmos nossas visões a partir disso, e que o 108 Horas é um convite para fazermos isso.

Na sequência, Euclides Mance, filósofo e autor de “A Revolução das Redes”, trouxe um relato emocionante sobre como podemos existir de maneira coletiva. Apresentou o conceito de redes como um ecossistema e os tipos de fluxos – materiais, de conhecimento, poder e dimensão ética – que nos impactam enquanto indivíduos. Euclides nos convidou a pensar em como poderíamos nos organizar de forma solidária, humana e justa, criando uma economia de libertação e de dádiva. Reforçou que o exercício da liberdade ética é aquela que promove o bem-estar de todos e está além de nós mesmos, e que o bem viver é uma noção transcendente, que pensa o ecossistema como um todo e em outras formas de vida.

“Eu não posso viver pelo outro, eu não posso viver sem o outro, eu só posso viver com o outro.” – Euclides Mance

Clemildo Anacleto (Centro Universitário Metodista – IPA) trouxe como contribuição para a mesa redonda a formação de redes sob a ótica religiosa. Na visão dele, a intolerância é o que evita conseguirmos trabalhar em rede. Como pesquisador da questão, apontou que o ponto principal da intolerância é a ideia da necessidade de conversão religiosa, reforçada por algumas tradições. Essa realidade acaba instigando comportamentos de violência. Afirmou Também que, para superarmos essa realidade, precisamos atuar com os grupos religiosos como uma rede de presença benéfica, que tenha o objetivo de transformar a sociedade e a vida das pessoas, combatendo qualquer tipo de intolerância.

“A religião tem um papel importante, fundamental e poderoso na sociedade, uma vez que atinge muita gente. E podemos aproveitar essa força e essa rede que existem para que possamos tentar mudar a situação (não apenas política), mas mudar a situação de verdade na vida das pessoas, o que passaria por combatermos a intolerância religiosa.”
– Clemildo Anacleto

E antes que fosse aberto o espaço para a conversa apreciativa entre os participantes, Sergio Sardi (PUC-RS) propôs que desenvolvêssemos um novo olhar e um novo sentir sobre a nossa percepção de que “o real” é feito a partir de uma coleção de unidades. Nos convidou a refletir sobre as nossas noções de eu, do outro e o valor do momento presente, que oferece, de maneira única, uma oportunidade de partilhar um “sentir junto”, de tecimento de uma rede, de um ecossistema de mentes, percebendo no mistério e no silêncio uma resposta:

“A rede começa no silêncio”. – Sergio Sardi

Mesa “De que rede estamos falando?”. Da esquerda para a direita: José Ricardo Oliveira (ICM), Euclides Mance (IFL), Clemildo Anacleto (IPA) e Sergio Sardi (PUC-RS), Thais Fonseca (CEBB) e Luis Felipe Villas Boas (CEBB). Foto: Polliana Zocche.

 

Durante todo o dia também aconteceram atividades no “108 Horinhas”, um espaço que é feito todos os anos para acolher as crianças. Pela manhã, Mariana Russo conduziu um atelier de desenho e na parte da tarde, Jean Paulo Amorim ofereceu um teatro para os pequenos.

 

Conversa aberta: Redes e Mandalas

Na parte da noite, Lama Padma Samten teve uma conversa aberta com Marcia Leal, Fernando Leão, Euclides Mance e Floridalva Cavalcanti.

Lama Samten abriu as falas contando um pouco da história do 108 Horas (que até então eram apenas 48, no ano de 1999). Relembrou que os desafios do CEBB surgiram a partir da interação com as comunidades e disso surgiu a oportunidade de aplicar o processo de mandalas, que envolve utilizar sabedorias específicas e inteligências coletivas como fatores convergente de uma visão mais ampla. E reforçou que o evento é justamente isso, uma celebração, uma possibilidade de unirmos pessoas de diferentes lugares, com diferentes pontos de vista para nos ouvirmos, nos auto-organizarmos em redes e ampliarmos a visão.

O nosso encontro está ligado à noção de auto-organização, que é assim: as circunstâncias parecem fixas, mas nós podemos, por exemplo, eleger as qualidades incomensuráveis, as perfeições, eleger referenciais elevados que possam trazer benefício às pessoas e produzir bons resultados, ajudar a equilibrar a própria biosfera, a reduzir o nosso impacto, ajudar as pessoas a viverem de forma mais feliz, com menos adoecimentos e conflitos.

A partir disso, podemos gerar auto-organização através de uma linguagem apreciativa, desenvolver diferentes visões, convergir para mandalas de ação, em que temos as ações em grupo. Eu considero essencial essa dinâmica das conversas apreciativas. Vamos praticar aqui no evento em alguns momentos. Ela é realmente muito importante porque, a partir de visões individuais chegamos a posições de pequenos grupos. E as posições de pequenos grupos nos permitem chegar a sonhos e a visões coletivas sobre o que deveríamos fazer. Quando essas visões se estabelecem, a energia aparece, a mandala se constitui e as ações seguem. – Lama Padma Samten

Na sequência, Floridalva Cavalcanti, praticante do CEBB, contou sobre a articulação do CEBB e outras organizações no momento pré-eleições, e da criação da Carta Aberta de Valores Humanos. Ela destacou que as iniciativas ligadas à questões políticas são muito frágeis, por isso a iniciativa de auto-organização é tão importante.

Márcia Leal, empreendedora social na área de educação, contou um pouco da sua experiência na criação de redes de transformação em escolas e da sua tocante missão de transformar a vida de milhares de crianças por meio da aprendizagem e alfabetização.

Seguindo o tema trazido pela Márcia, Euclides Mance (filósofo) reforçou que são as redes que possibilitam os movimentos de transformação da sociedade, pois ela compõe muitos diferentes sujeitos (coletivos) e que todos eles passam a ter uma capacidade de replicação de conhecimento e aprendizagem que são desenvolvidos a partir dessas conexões.

Por fim, Fernando Leão, da Mandala das Escolas do Instituto Caminho do Meio, fez o fechamento da noite comentando sobre a alegria, facilidade e abertura das crianças na formação de redes. Evidenciou a importância da inclusão e do diálogo, de que as redes precisam ser inclusivas, especialmente com aqueles que achamos que pensam o oposto de nós.


Confira as transmissões do primeiro dia do 108 Horas de Paz 2018-19

 

27/12 – Tarde

27/12 – Noite

 


Complemente sua leitura

  • Fizemos uma retrospectivas dos últimos anos do 108 Horas de Paz, contando um pouquinho deste evento que vai completar 20 anos em 2019. Confira neste link →
  • Confira nossa página especial sobre 108 Horas de Paz com o perfil dos convidados desta edição e a cobertura da programação neste link→.

Acompanhe o registro fotográfico colaborativo do 108 Horas de Paz 2018-19: Ações em Rede – CEBB/ICM que está sendo feito no Facebook do CEBB! Acesse aqui.

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