Dalai Lama, 2005. Foto: Chuck Close

A compaixão e o indivíduo: o propósito da vida

Tenzin Gyatso, Sua Santidade o XIV Dalai Lama


Por
Revisão: Dirlene Ribeiro Martins e Cristiane Schardosim Martins
Edição: Carol Franchi
Transcrição: Ormando N.M.
Tradução: José Fonseca

Hoje é aniversário de Sua Santidade, o XVI Dai Lama e em sua homenagem, trazemos um ensinamento publicado na Revista Bodisatva nº 4, intitulado Compaixão e o indivíduo, o propósito da vida.

A Bodisatva agradece por este artigo a Wisdom Publications, da Fundação pela Preservação da Tradição Mahaiana (FPMT), que o publicou originalmente em Boston, em 1991. 


Uma grande questão subjaz em nossa experiência, quer pensemos nela conscientemente ou não: qual o propósito da vida? Considerei essa questão, e gostaria de compartilhar meus pensamentos, na esperança de que eles possam ser, prática e diretamente, benéficos a quem os ler.

Creio que o propósito da vida é ser feliz. Desde o momento em que nasce, todo ser humano deseja felicidade e não deseja sofrimento. Nem condicionamento social, nem educação, nem ideologia afetam isso. Do lugar mais profundo do nosso ser, simplesmente desejamos o contentamento. Não sei se o universo, com seus incontáveis planetas, estrelas e galáxias, tem ou não um significado mais profundo, mas pelo menos está claro que nós, humanos, vivendo nesta terra, enfrentamos a tarefa de construir para nós mesmos uma vida feliz. Logo, é importante descobrir o que trará o maior grau de felicidade.

Como alcançar a felicidade

Para começar, é possível dividir todo tipo de felicidade e sofrimento em duas categorias principais: mental e física. Das duas, é a mente que exerce a maior influência sobre a maioria de nós. A menos que estejamos gravemente doentes ou privados de necessidades básicas, nossa condição física tem um papel secundário na vida. Se o corpo está contente, nós praticamente o ignoramos. A mente, no entanto, registra todo acontecimento, por menor que seja. Por isso, deveríamos devotar nossos mais sérios esforços para alcançarmos a paz mental.

A partir de minha limitada experiência, descobri que o mais alto grau de tranquilidade interior vem do desenvolvimento de amor e compaixão. Quanto mais cuidamos da felicidade dos outros, maior se torna o nosso próprio sentimento de bem-estar. Cultivando um sentimento de carinho para com os outros, a mente automaticamente se tranquiliza. Isso ajuda a remover qualquer medo ou insegurança que possamos ter, e nos dá força para lidar com qualquer obstáculo que encontremos. É a fonte suprema de sucesso na vida.

Enquanto vivermos neste mundo, estamos fadados a encontrar problemas. Se em tais momentos, perdemos a esperança e ficamos desencorajados, diminuímos nossa capacidade de enfrentar dificuldades. Se, por outro lado, recordamos que não somos os únicos a ter sofrimentos, mas que todos os experimentam, essa perspectiva mais realista aumentará nossa determinação e capacidade de sobrepujar nossos problemas. Sem dúvida, com essa atitude, cada novo obstáculo pode ser considerado uma valiosa oportunidade para melhorar nossa mente!

Assim, podemos fazer um esforço gradual para aumentar nossa compaixão, o que quer dizer que podemos desenvolver tanto uma genuína simpatia em relação ao sofrimento alheio como o desejo de remover sua dor. O resultado disso será o aumento de nossa própria serenidade e força interior.

Nossa necessidade de amor

No final das contas, a razão pela qual amor e compaixão trazem maior felicidade é simplesmente porque nossa natureza os preza acima de tudo. A necessidade de amor está na própria base da existência humana. É o resultado da profunda interdependência que todos compartilhamos. Por mais capaz e hábil que um indivíduo possa ser, ficando só, ele ou ela não sobreviverá. Por mais vigoroso e independente que se sinta durante os períodos mais prósperos da vida, quando se está doente, ou se é muito jovem, ou muito velho, há dependência dos outros.

Interdependência, é claro, é uma lei fundamental da natureza. Não apenas as mais altas formas de vida, como também muitos dos menores insetos, são seres sociais. Sem nenhuma religião, lei ou educação, eles sobrevivem através da cooperação mútua baseada num reconhecimento inato de seu inter-relacionamento. O nível mais sutil dos fenômenos materiais também é governado pela interdependência. Todos os fenômenos do planeta que habitamos — como os oceanos, nuvens, florestas e flores — e que nos rodeiam, surgem na dependência de modelos sutis de energia. Sem a interação própria, eles se dissolvem e entram em declínio. Nossa existência humana depende tanto da ajuda de outros a ponto de a nossa necessidade de amor estar na base de nossa existência. Portanto, precisamos de um verdadeiro senso de responsabilidade e uma sincera preocupação pelo bem-estar dos outros.

Temos que considerar o que nós, seres humanos, realmente somos. Não somos semelhantes a objetos fabricados por máquinas. Se fôssemos meramente entidades mecânicas, então as próprias máquinas poderiam aliviar todos os nossos sofrimentos e satisfazer nossas necessidades. No entanto, como não somos apenas criaturas materiais, é um erro depositar todas as nossas esperanças de felicidade no desenvolvimento externo e nada mais. Em vez disso, deveríamos considerar nossas origens e natureza para descobrir do que precisamos. Deixando de lado a complexa questão da criação e evolução do nosso universo, podemos pelo menos concordar que cada um de nós é produto de nossos pais. Em geral, nossa concepção se deu não só no contexto do desejo sexual, mas da decisão de nossos pais de ter uma criança. Decisões como essa são baseadas em responsabilidade e altruísmo — o comprometimento compassivo dos pais de cuidar da criança até ela conseguir cuidar de si mesma. Assim, desde o momento de nossa concepção, o amor de nossos pais está diretamente envolvido na nossa criação.

Além disso, somos completamente dependentes dos cuidados de nossa mãe desde os primeiros estágios de nosso crescimento. Segundo alguns cientistas, o estado mental de uma mulher grávida, seja calmo ou agitado, tem um efeito direto sobre a criança por nascer. A expressão amorosa também é muito importante na hora do nascimento. Como a primeira coisa que fazemos é sugar o leite do seio de nossa mãe, sentimo-nos naturalmente próximos dela, e ela deve sentir amor por nós a fim de nos alimentar corretamente; se ela está irada ou ressentida, seu leite pode não fluir livremente. Vem então o período crítico do desenvolvimento do cérebro, do nascimento até a idade de pelo menos três ou quatro anos, durante o qual o contato físico amoroso é o fator mais importante para o crescimento normal da criança. Se a criança não é colocada no colo, abraçada, ninada ou amada, seu desenvolvimento será prejudicado e seu cérebro não amadurecerá corretamente.

Como uma criança não pode sobreviver sem o cuidado de outros, o amor é a sua nutrição mais importante. A felicidade da infância, o apaziguamento dos vários medos e o desenvolvimento sadio da autoconfiança da criança dependem, todos eles, diretamente, do amor.
Hoje em dia, muitas crianças crescem em lares infelizes. Se não recebem a devida afeição, elas raramente amarão mais tarde os próprios pais, e com frequência terão dificuldades em amar outras pessoas. Isso é muito triste. Ao chegarem à idade de entrar na escola, as crianças precisam encontrar apoio para suas necessidades, nos professores e professoras. Se um professor ou professora não oferece apenas educação acadêmica, mas também assume responsabilidade de preparar os alunos para a vida, seus alunos sentirão confiança e respeito, e aquilo que foi ensinado deixará uma impressão indelével em suas mentes. Por outro lado, assuntos ensinados por um professor ou professora que não mostrem verdadeiro interesse pelo bem-estar geral de seus alunos e alunas serão tidos como temporários e não serão retidos de maneira duradoura.

Da mesma forma, o doente tratado em um hospital por um médico ou uma médica que transmite caloroso sentimento humano sente-se mais à vontade. E o próprio desejo deste último, de dispensar o melhor tratamento possível, já é curativo, seja qual for seu grau de habilidade técnica. Por outro lado, se falta ao médico sentimento humano e ele ou ela carrega uma expressão pouco amistosa, de impaciência ou desinteresse, o paciente fica ansioso, mesmo que o médico seja o mais altamente qualificado, que o diagnóstico esteja correto e o remédio receitado adequado. Inevitavelmente, os sentimentos do paciente fazem diferença na qualidade e no alcance da recuperação. Mesmo numa conversa comum no nosso dia a dia, se alguém fala com sentimento humano, gostamos de ouvir, e respondemos de acordo; toda a conversa torna-se interessante, por menos importante que seja o assunto. Por outro lado, se uma pessoa fala fria e asperamente, sentimo-nos pouco à vontade e desejosos de encerrar logo a interação. Do mais insignificante ao mais importante dos acontecimentos, a afeição e o respeito dos outros são vitais para nossa felicidade.

Recentemente encontrei um grupo de cientistas nos Estados Unidos que me falaram da alta taxa de doença mental em seu país — cerca de 12% da população. Ficou claro durante nossa discussão que a causa principal de depressão não era a falta de necessidades materiais, mas a privação do afeto de outros. Então, como podem ver em tudo que escrevi até agora, uma coisa me parece clara: estando nós conscientes disso ou não, desde o dia em que nascemos, a necessidade de afeto humano está no nosso próprio sangue. Mesmo se o afeto vem de um animal ou de alguém que normalmente consideraríamos como inimigo, tanto crianças como adultos gravitarão naturalmente em sua direção.

Creio que ninguém nasce livre da carência de amor. E isso demonstra que embora algumas modernas escolas de pensamento assim o queiram, seres humanos não podem ser definidos como somente físicos. Nenhum objeto material, por mais lindo e valioso, pode nos fazer sentir amados, porque nossa identidade mais profunda e o nosso verdadeiro caráter estão na natureza subjetiva da mente.

O desenvolvimento da compaixão

Alguns dos meus amigos me disseram que, embora o amor e a compaixão sejam bons e maravilhosos, não são realmente relevantes. Nosso mundo, dizem eles, não é um lugar onde tais crenças têm muita influência ou poder. Eles afirmam que raiva e ódio são uma parte tão integrante da natureza humana que a humanidade será sempre dominada por eles. Eu não concordo.

 

Nós, humanos, existimos na nossa forma atual há cerca de cem mil anos. Creio que se durante esse tempo a mente humana tivesse sido controlada principalmente por raiva e ódio, a nossa população teria, em geral, decrescido. Mas hoje, apesar de todas as nossas guerras, vemos que a população humana é maior do que nunca. Isso indica claramente para mim que amor e compaixão predominam no mundo. E é por isso que acontecimentos desagradáveis são “notícia”, e atividades compassivas que fazem parte da vida cotidiana sendo tidas como evidentes, muitas vezes, são ignoradas.

Até aqui, venho discutindo principalmente os benefícios mentais da compaixão, mas ela contribui também para a boa saúde física. De acordo com minha experiência pessoal, estabilidade mental e bem-estar físico estão diretamente relacionados. Sem dúvida, raiva e agitação nos deixam mais suscetíveis à doença. Por outro lado, se a mente está tranquila e ocupada com pensamentos positivos, o corpo não cairá facilmente nas garras da doença.
Mas, claro, também é verdade que todos temos a tendência inata de nos centrarmos em nós mesmos, inibindo nosso amor pelos outros. Assim, como desejamos a verdadeira felicidade, que só uma mente calma pode trazer, e como tal paz de espírito só chega por meio de uma atitude compassiva, como podemos desenvolver isso? Obviamente, não basta simplesmente pensarmos em como a compaixão é bela! Precisamos fazer um esforço harmônico para desenvolvê-la; devemos usar todos os eventos de nossa vida cotidiana para transformar nossos pensamentos e comportamentos. 

Antes de tudo, devemos deixar claro o que entendemos por compaixão. Muitas formas de sentimentos compassivos estão misturados com desejo e apego. Por exemplo, o amor que os pais sentem por sua criança está com frequência fortemente associado com as necessidades emocionais deles mesmos, não sendo, pois, completamente compassivo.  Também no casamento, o amor entre marido e mulher — especialmente no começo, quando cada parceiro pode ainda não conhecer muito bem o caráter profundo do outro — depende mais do apego do que do amor genuíno. Nosso desejo pode ser tão forte que a pessoa à qual estamos apegados parece ser boa, quando de fato ele ou ela é muito negativo. Além disso, temos a tendência de exagerar as pequenas qualidades positivas. Assim, quando a atitude de um parceiro muda, o outro parceiro, muitas vezes, fica desapontado e a atitude dela ou dele também muda. Essa é uma indicação de que o amor foi motivado mais por necessidade pessoal do que por genuína atenção para com o outro. Compaixão verdadeira não é somente uma resposta emocional, mas um firme compromisso baseado na razão. Logo, uma atitude realmente compassiva para com os outros não muda nem mesmo quando eles se comportam negativamente.

Claro, desenvolver esse tipo de compaixão não é fácil, absolutamente! Para começar, consideremos os seguintes fatos: as pessoas podem ser lindas e amigáveis, ou feias e desagregadoras, mas, no fundo, são seres humanos, exatamente como a gente. Assim como nós, elas querem a felicidade e não querem o sofrimento. Além disso, o direito delas de vencer o sofrimento e ser feliz é igual ao nosso. Agora, quando você reconhece que todos os seres são iguais tanto no desejo de felicidade quanto no direito de obtê-la, automaticamente você sente empatia e proximidade com elas. Acostumando sua mente com esse sentido de altruísmo universal, você desenvolve um sentimento de responsabilidade para com os outros: o desejo de ajudá-los ativamente a superarem seus problemas. E esse desejo não é seletivo, ele se aplica igualmente a todos. Enquanto houver seres humanos experimentando prazer e dor, exatamente como você experimenta, não há nenhuma base lógica para discriminar ou alterar a preocupação com eles ao se comportarem negativamente.

Deixe-me enfatizar que está em nosso poder, com paciência e tempo, desenvolver esse tipo de compaixão. É claro que nosso caráter autocentrado, nosso peculiar apego ao sentimento de um “eu” independente e autoexistente, funciona basicamente como inibidor de nossa compaixão. Na realidade, a verdadeira compaixão só pode ser experimentada quando esse tipo de autocentramento é eliminado. Mas isso não significa que não podemos começar e progredir agora.

Como podemos começar

Deveríamos começar removendo os maiores empecilhos da compaixão: raiva e ódio. Como nós todos sabemos, essas emoções são extremamente poderosas e podem arrasar a nossa mente. Todavia, elas podem ser controladas. Porém, se não o forem, essas emoções negativas se tornarão uma praga para nós — sem o menor esforço da parte delas! — e impedirão nossa busca da felicidade de uma mente amorosa. Sendo assim, é um bom começo investigar se a raiva tem ou não tem valor. Algumas vezes, quando estamos desanimados por alguma situação difícil, a raiva pode ser útil, dando a impressão de trazer com ela mais energia, confiança e determinação. Aqui, no entanto, devemos examinar nosso estado mental cuidadosamente. Embora seja verdade que a raiva traz energia extra, se observarmos a natureza dessa energia, descobriremos que se trata de energia cega: não podemos ter certeza se seu resultado será positivo ou negativo. Isto porque a raiva ofusca a melhor parte do nosso cérebro: sua racionalidade. Assim, a energia da raiva raramente é confiável. Ela pode causar uma enorme quantidade de comportamentos destrutivos e infelizes. Ademais, se a raiva chegar ao extremo, a pessoa fica como louca, agindo de maneiras danosas tanto para si quanto para os outros.

É possível, no entanto, desenvolver uma energia igualmente forte, mas muito mais controlada para lidar com situações difíceis. Essa energia controlada vem, não apenas de uma atitude compassiva, mas também da razão e da paciência. Esses são os antídotos mais poderosos para a raiva. Infelizmente, muitos consideram essas qualidades, erroneamente, como sinais de fraqueza. Creio que o oposto é verdade: elas são os verdadeiros sinais de força interior. A compaixão é gentil por natureza, pacífica e suave, mas é também muito poderosa. Aqueles que facilmente perdem a paciência é que são inseguros e instáveis. Logo, para mim, o surgimento da raiva é um sinal direto de fraqueza. Então, logo que o problema surgir, tente permanecer humilde e manter uma atitude sincera e cuide para que o resultado seja justo. Claro, outros podem tentar se aproveitar de você, e se seu desapego apenas encorajar injusta agressão, adote uma posição firme. Isso, no entanto, deve ser feito com compaixão, e se for necessário expressar suas opiniões e tomar fortes medidas contrárias, faça-o sem raiva ou má intenção.

Você deve se dar conta de que mesmo se seus oponentes estiverem aparentemente lhe prejudicando, no fim, as atividades destrutivas deles apenas a eles causarão danos. A fim de controlar seus próprios impulsos egoístas de retaliação, você deveria se lembrar do desejo de praticar a compaixão e assumir a responsabilidade de ajudar a evitar que a outra pessoa sofra as consequências dos seus próprios atos. Assim, tendo as medidas que você emprega sido escolhidas com calma, elas serão mais eficazes, mais acuradas e mais enérgicas. A retaliação baseada na energia cega da raiva raramente atinge o alvo.

Amigos e inimigos

Devo enfatizar novamente que apenas pensar que compaixão, razão e paciência são coisas boas não será suficiente para desenvolvê-las. Precisamos esperar que venham as dificuldades e então tentar praticá-las. E quem cria tais oportunidades? Não os nossos amigos, é claro, mas nossos inimigos. São eles que nos dão mais problemas. Então, se realmente quisermos aprender, devemos considerar que os inimigos são nossos melhores mestres! Para quem preza compaixão e amor, a prática de tolerância é essencial, e, para tanto, um inimigo é indispensável. Portanto, devemos ser gratos aos nossos inimigos por serem quem podem melhor nos ajudar a desenvolver uma mente tranquila! Além disso, como acontece, tanto na vida privada, quanto na pública, com uma mudança de circunstâncias, inimigos tornam-se amigos.

Então raiva e ódio são sempre prejudiciais, e a menos que treinemos nossas mentes e que trabalhemos para reduzir sua força negativa, eles continuarão a perturbar e a atrapalhar nossas tentativas de desenvolver uma mente calma. Raiva e ódio são nossos verdadeiros inimigos. Essas são as forças que mais precisamos confrontar e vencer, e não os “inimigos” temporários que aparecem ocasionalmente pela vida. Claro, é certo e natural que todos queiramos amigos. Muitas vezes digo, brincando, que se você realmente quer ser egoísta, você deveria ser muito altruísta! Você deveria cuidar bem dos outros, preocupar-se com o bem-estar alheio, ajudá-los, servi-los, criar novos amigos, criar novos sorrisos. O resultado? Quando você precisar de ajuda encontrará muitos ajudantes! Se, por outro lado, você negligenciar a felicidade alheia, a longo prazo, será você o perdedor. E a amizade se produz por meio de brigas e raiva, ciúme e competitividade intensa? Acho que não. Apenas o afeto nos traz amigos íntimos genuínos.

Na sociedade materialista de hoje, se você tem dinheiro e poder, você parece ter muitos amigos. Mas eles não são amigos seus; eles são amigos do seu dinheiro e poder. Quando você perder sua fortuna e influência, terá muita dificuldade para descobrir o paradeiro dessas pessoas. O problema é que quando as coisas no mundo vão bem para nós, ficamos confiantes de que podemos nos arranjar sozinhos e pensamos que não precisamos de amigos, mas quando nossa situação e saúde decaem, logo compreendemos o quanto estávamos errados. É nesse momento que conhecemos quem realmente ajuda e quem não serve. Então, para nos prepararmos para esse momento, para fazer amigos genuínos que nos ajudarão quando for necessário, nós mesmos devemos cultivar o altruísmo!

Embora algumas vezes as pessoas riam quando digo isso, eu pessoalmente sempre quero mais amigos. Adoro sorrisos. Por isso sei como fazer mais amigos e como conseguir mais sorrisos, especialmente sorrisos genuínos. Há muitos tipos de sorriso, como o sorriso artificial, o diplomático, o sarcástico. Muitos sorrisos não produzem nenhum sentimento de satisfação, e às vezes, eles podem até criar suspeita ou medo, não podem? Mas um sorriso genuíno nos dá um real sentimento de frescor e é, creio, exclusivo dos seres humanos. Se esses são os sorrisos que queremos, então nós mesmos precisamos criar as razões para que eles surjam.

Compaixão e o mundo

Em conclusão, eu gostaria de rapidamente expandir meus pensamentos além do tópico deste breve artigo e fazer uma observação mais ampla: a felicidade individual pode contribuir de uma maneira eficaz e profunda para a melhoria geral de toda a nossa condição humana.

Porque todos nós compartilhamos de uma idêntica necessidade de amor, é possível sentir que qualquer pessoa que encontramos, seja em que circunstância for, é um irmão ou irmã. Não importa quão nova é a sua face ou quão diferentes o comportamento e a roupa, não existe divisão significativa entre nós e as outras pessoas. É tolice examinar diferenças externas, pois nossas naturezas básicas são as mesmas. Em última análise, a humanidade é uma só, e este pequeno planeta é nosso único lar. Se formos proteger este nosso lar, cada um de nós precisa experimentar um senso vívido de altruísmo universal. Apenas este sentimento pode remover os motivos autocentrados que levam as pessoas a abusarem e enganarem umas às outras. Se você tem um coração sincero e aberto, sente-se naturalmente confiante e consciente do seu próprio valor, não é necessário temer os outros.

Creio que em todos os níveis da sociedade — familiar, tribal, nacional e internacional — a chave para um mundo mais feliz e bem-sucedido é o crescimento da compaixão. Não precisamos nos tornar religiosos, nem temos de acreditar numa ideologia. Só é necessário que cada um de nós desenvolva suas boas qualidades humanas. Tento tratar quem encontro, seja quem for, como um velho amigo. Isto me dá um sentimento de felicidade genuína. É a prática da compaixão.

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1 Comentário

  1. Gabriela disse:

    As mensagens de Sua Santidade são sempre simples e profundas, assim como as práticas propostas ! Grata por compartilharem! Vida longa a SSDL _/\_

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