Lara Decker

A mente de batata doce

Um desabafo de uma praticante confusa e deludida.


Por
Revisão: André Luís Daguerre

“Estamos precisando de ajuda para cortar os legumes”.

Essa foi a frase que me motivou a estar no refeitório às 07:40 da manhã. Estávamos em mais ou menos 10 pessoas, fizemos as preces e recebemos as instruções.

“Estes são os legumes da sopa. Lavem, descasquem e piquem em pedaços”.

Enquanto eu descascava a batata doce, notei que ao retirar as cascas ela ficava “clarinha”. Mas, em poucos segundos, a sua cor se alterava novamente. Ela voltava a ficar escura a ponto de me confundir se já havia ou não a descascado. E, na dúvida, eu descasquei de novo, e de novo, e de novo, até perceber que não adiantava repetir essa ação. A batata doce sempre escurecia mais uma vez. Então, eu pensei:

“Nossa! Essa batata doce é igual a minha mente. Não importa a quantidade de ensinamentos que eu ouça, as minhas tendências negativas sempre retornam. Pois é….”

Continuei a atividade, mas fiquei com certo incômodo, até que resolvi olhar como os outros lidavam com aquilo. Então, vi que após descascar a camada mais superficial da batata doce, eles a colocavam de molho na água e, em seguida, a cortavam em pedaços.

Imaginei que a minha mente poderia ser descascada com os ensinamentos, para depois receber um banho de meditação e posteriormente ser dividida em pedaços. Esses pedaços de batata doce (ou da minha mente), poderiam ser expostos ao calor de um determinado recipiente (ou ao amor de uma Terra Pura), e misturados com pedaços de outros legumes (ou com as mentes de outros praticantes), e gradualmente ganhar aparência atraente e deliciosa de uma sopa (ou de uma ação coletiva), que alimentaria e beneficiaria muitos seres.

““Taí”, gostei disso! Parece bom ter uma mente de batata doce!”

Minha 7ª consciência aprovou, e a 8ª associou essa história às memórias confortáveis do passado. Então, minha 6ª consciência resolveu juntar todas essas informações e escrever um texto para compartilhar com a sanga.

Se vão gostar, eu não sei. Depende de como isso vai surgir na mente de cada um.

Mas, gostando ou não, existe algo que nos conecta profundamente. Eu não sei o que é, não consigo sentir direito. Nem cheirar, nem ver, nem ouvir… Eu só sei que é muito forte, pois, só de pensar, quase sempre sinto vontade de chorar.

E esse choro, essa emoção exagerada, me faz desconfiar que esta sensação de conexão nada mais é do que apego às manifestações que me fazem bem. É algo que eu deveria me afastar, mas nego abandonar, seja por amor ou apego. A vida não teria sentido sem aquilo que me dá o brilho. Então, resolvi seguir a instrução e na Prajnaparamita buscar algum conforto para me acalmar. Sem saber exatamente por onde começar, tentei timidamente recitar:

Forma é vazio. Vazio é forma.

Conexões são vazias. Vazias são as conexões.

Do mesmo modo, as emoções, os choros e as lembranças são todos vacuidade.

Todas as manifestações ou expressões são vacuidade.

Não tem fundamentos.

Não há ligação e nem não ligação.

Não há conexão e nem não conexão.

Não há com que se conectar, pois não existe EU e nem OUTRO.

Sendo assim, também não há o que compreender ou ser compreendido.

E, seja como for, ou o que quer que ocorra, a Prajnaparamita segue sempre disponível pelo mantra:

OM GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SAVHA

 

Apoiadores

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *