A Rede de Indra

Esse trecho do livro Instruções ao Cozinheiro, lançamento da Bodisatva, trata da interdependência no trabalho de um cozinheiro ou cozinheira zen


Por
Revisão: José Ovidio Copstein Waldemar, Rosana Folz e Dirlene Martins
Edição: Lia Beltrão
Tradução: Monge Koho Mello

É com muita alegria que anunciamos o novo livro Instruções ao cozinheiro – Ensinamentos de um mestre Zen sobre viver uma vida com sentido, de Bernie Glassman e Rick Fields, que está em pré-venda pela Bodisatva. O lançamento oficial acontecerá no dia 25.02, às 20h, presencialmente no CEBB Caminho do Meio e online, no canal do youtube do Lama Padma Samten , com a presença do Lama Samten, Monge Koho Mello, tradutor do livro, e Roshi Eve Myonen Marko. Para mostrar um pouco da sabedoria que esse livro destila, sendo útil igualmente como um manual para negócios ou para a prática espiritual, trazemos aqui o capítulo “A Rede de Indra”, trecho que fala sobre a interdependência.


A Rede Indra

“Um dos princípios-chave do cozinheiro ou cozinheira Zen é que nada existe por si mesmo. Tudo é interdependente.

Ainda que todos sejamos responsáveis por nossas próprias vidas e trabalhos, ao mesmo tempo nenhum de nós pode realizar isoladamente o trabalho que devemos fazer. Isso é especialmente verdadeiro se queremos ajudar as outras pessoas. Nós precisamos trabalhar todos juntos para preparar a refeição suprema.

A forma de a cozinheira Zen trabalhar em equipe baseia-se na visão da Rede de Indra, que é o modelo de vida do Zen. Indra era um antigo rei na Índia que se considerava muito importante. Um dia, ele foi ao arquiteto do reino e disse que queria deixar um monumento — algo que todas as pessoas poderiam apreciar.

O arquiteto do rei criou uma imensa rede que se estendia por todo o espaço e o tempo. E o tesoureiro do rei colocou uma pérola brilhante em cada nó da rede, de modo que todas as pérolas se refletissem umas nas outras. E cada pérola — cada pessoa, cada evento — contém toda a Rede de Indra, incluindo todo o espaço e o tempo.

Quando percebemos que somos todos como pérolas brilhantes na Rede de Indra, vemos que dentro de cada um de nós está contida a totalidade do universo. Uma vez que já estamos todos conectados na Rede de Indra, não há limites para as possibilidades de nos conectarmos com outras pessoas em nossas vidas e em nossos trabalhos.

Ainda assim, é natural para a maioria de nós começarmos a “nos conectarmos” com as pessoas mais próximas, pelos nossos interesses e necessidades. Contadores se conectam com outros contadores, poetas com outros poetas, e budistas com outros budistas. Esse tipo de rede certamente tem sua utilidade. É especialmente efetiva, por exemplo, quando precisamos de ajuda para resolver algum problema muito difícil. Mas não é uma estratégia muito eficaz no sentido mais amplo, porque leva a um estreitamento, em vez de a uma ampliação da sua rede. Resulta em retornos progressivamente reduzidos. Os auditores fiscais acabam falando apenas com outros auditores; os poetas concretistas terminam falando apenas com outros poetas concretistas; e os Zen-budistas de uma escola acabam partilhando somente com Zen-budistas da mesma escola.

Quando nos conectamos de acordo com a visão da Rede de Indra, por outro lado, começamos a moldar a maior rede possível. Nós fazemos isso definindo nossa missão da forma mais ampla que pudermos. Se eu me defino de maneira mais limitada, por exemplo, como um monge Zen-budista que está envolvido em gerenciar uma padaria e prover moradia para pessoas desabrigadas, eu posso limitar minha rede aos Zen-budistas, padeiros e trabalhadores sociais.

Mas eu também posso definir minha missão — ou votos, para usar o termo Zen-budista — de forma muito mais ampla. Eu posso dizer, por exemplo, que a minha missão é preparar a suprema refeição para o benefício de todos os seres vivos. Eu agora estou projetando uma rede muito mais ampla, uma rede imensa, na verdade, porque agora eu posso trabalhar com qualquer ser que queira melhorar a qualidade de vida neste planeta. (Claro, à medida que define as questões e formas específicas com as quais quer trabalhar, você naturalmente se perceberá trabalhando com um segmento particular da rede. Mas mesmo assim — especialmente assim — é importante lembrar que você ainda é parte de uma rede maior.)

Quando construímos uma rede dessa forma, de acordo com a visão da Rede de Indra, nós naturalmente acabamos incluindo todos os tipos de pessoas. Quando formamos a diretoria do Albergue da Família Greyston, procuramos incluir a maior participação possível da comunidade de Yonkers. Pelo fato de termos projetado uma rede assim ampla, conseguimos incluir dois ex-prefeitos de Yonkers: Al DelBello e Angelo Martinelli. Angelo era republicano e Al era democrata, e eles haviam concorrido um contra o outro mais de uma vez no passado. De fato, numa das campanhas havia ocorrido certa dose de insultos. Mas ambos estavam comprometidos com a melhoria da qualidade de vida em Yonkers, e ambos podiam ver que nós estávamos tentando fazer a mesma coisa. E é claro que faziam parte de redes diferentes. Suas conexões se estendiam da cidade à região e ao estado, possibilitando que conseguíssemos que as coisas acontecessem com muito mais facilidade.

Quando havia um atraso ou quando algo saía errado, podíamos sempre contar que Al ou Angelo saberia quem deveríamos procurar.

Cada um de nós também tem pessoas que não querem trabalhar conosco. Mas nós podemos olhar isso como um tipo de rede negativa. As pessoas que não trabalhariam conosco poderiam querer trabalhar com Al, e as pessoas que não trabalhariam com Al poderiam estar dispostas a trabalhar com Angelo, e assim por diante. Então, ao estarmos em uma rede com Al e Angelo — ou com quaisquer outras pessoas que representam pontos de vista distintos —, nós não estamos simplesmente duplicando a nossa rede, nós a quadruplicamos.”

 

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Para acessar o evento de lançamento oficial do livro, acesse https://www.youtube.com/user/lamapadmasamten

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