Imagem de Padmasambhava em uma parede de pedra no Butão. Foto por Juliette’s (Flickr).

Apontando o bastão para o velho homem

Instrução oferecida por Padmasambhava a um velho homem à beira da morte


Por
Tradução: Editora Makara

Este trecho foi publicado em português no livro Ensinamentos do Mestre que Nasceu do Lótus, pela Editora Makara (em inglês, Advice From The Lotus Born, Rangjung Yeshe Publications).
P
admasambhava, que literalmente significa “aquele que nasceu do lótus”, foi o mestre que levou o budismo para o Tibete por volta do ano 800 d.c.


“Quando o grande mestre Padmasambhava estava no Eremitério da Grande Rocha, em Samye, Sherab Gyalpo de Ngog, um homem inculto de 61 anos que tinha a mais alta fé e grande devoção pelo mestre serviu-o por um ano. Enquanto isso, Ngog não pediu qualquer ensinamento, nem o mestre lhe deu qualquer um. Quando, depois de um ano, o mestre decidiu partir, Ngog ofereceu-lhe um prato de mandala, sobre o qual colocou uma flor de uma onça de ouro. Então ele disse: ‘Grande mestre, pense em mim com bondade. Em primeiro lugar, eu sou inculto. Em segundo, minha inteligência é pequena. Em terceiro, estou velho, então meus elementos estão fatigados. Peço que você dê um ensinamento a um velho homem à beira da morte, que seja simples de entender, que possa cortar totalmente a dúvida, que seja fácil de realizar e de aplicar, que tenha uma visão efetiva, e que me ajude em vidas futuras.’

O mestre apontou seu bastão de andarilho para o coração do velho homem e deu esta instrução: Ouça aqui, velho homem! Olhe para a mente desperta de sua própria consciência! Ela não tem forma nem cor, nem centro nem borda. Primeiro, ela não tem origem, mas sim é vazia. Depois, ela não tem lugar de permanência, mas sim é vazia. No fim, ela não tem destinação, mas sim é vazia. Esta vacuidade não é feita de qualquer coisa, e é clara e cognitiva. Quando vir isto e a reconhecer, você conhecerá seu rosto natural. Você entenderá a natureza das coisas. Você verá então a natureza da mente, determinará o estado básico da realidade e cortará completamente as dúvidas sobre tópicos do conhecimento.

Esta mente desperta da consciência não é feita de qualquer substância material, é autoexistente e inerente a você mesmo. Esta é a natureza da mente que não é fácil de realizar porque não é encontrada em qualquer lugar. Esta é a natureza da mente que não é constituída por um observador concreto e por algo percebido sobre o qual se fixar. Ela desafia as limitações da permanência e da aniquilação. Nela não há qualquer coisa a despertar; o estado desperto da iluminação é a sua própria consciência, que é naturalmente desperta. Nela não há qualquer coisa que vá para os infernos; a consciência é naturalmente pura. Nela não há qualquer prática a ser conduzida; sua natureza é naturalmente cognitiva. Esta é a grande visão do estado natural presente em você mesmo: saiba que isto não é encontrado em qualquer lugar.

Esta mente desperta da consciência não é feita de qualquer substância material, é autoexistente e inerente a você mesmo.

Quando você entender a visão deste modo e quiser aplicá-la na sua experiência, onde quer que você esteja será o retiro na montanha de seu corpo. Qualquer aparência externa que você perceber será uma aparência naturalmente ocorrente e uma vacuidade naturalmente vazia; deixe-a ser, livre de construções mentais. As aparências naturalmente livres se tornarão suas ajudantes e você poderá praticar enquanto toma as aparências como caminho.

No interior, o que quer que se mova em sua mente, o que quer que você pense, não tem essência, mas sim é vazio. As ocorrências de pensamento serão naturalmente liberadas. Quando lembrar da essência de sua mente, você poderá tomar os pensamentos como caminho e a prática será fácil.

Como conselho mais interior: não importa que tipo de emoção perturbadora você sinta, olhe para a percepção e ela cessará sem deixar rastros. A emoção perturbadora é assim naturalmente liberada. Isto é simples de praticar.

Quando você puder praticar deste modo, seu treino de meditação não será confinado a sessões. Conhecendo que tudo é um ajudante, sua experiência de meditação será imutável, a natureza inata será incessante e sua conduta será inabalável. Onde quer que permaneça, você nunca está separado da natureza inata. Uma vez que você tenha realizado isto, seu corpo material poderá ser velho, mas a mente desperta não envelhecerá. Ela não conhece qualquer diferença entre jovem e velho. A natureza inata está além da inclinação e da parcialidade. Quando você reconhecer que a consciência, o despertar inato está presente em você mesmo, não haverá diferenças entre faculdades aguçadas ou fracas. Quando você entender que a natureza inata, livre da inclinação ou parcialidade, está presente em você mesmo, não haverá diferença entre um aprendizado grande ou pequeno. Mesmo que o seu corpo, o suporte da mente, caia, o Dharmakaya da sabedoria da consciência será incessante. Quando você obtiver estabilidade neste estado imutável, não haverá diferença entre um tempo de vida longo ou curto.

No interior, o que quer que se mova em sua mente, o que quer que você pense, não tem essência, mas sim é vazio.

Velho homem pratique o verdadeiro significado! Leve a prática ao coração! Não permita a fala inútil e tagarelice sem objetivo! Não se envolva em metas comuns! Não se perturbe com a preocupação de ter prole! Não almeje excessivamente comida e bebida. Pretenda morrer como um homem comum! Sua vida está correndo, então seja diligente! Pratique esta instrução para um velho homem à beira da morte!

Por ter apontado o bastão para o coração de Sherab Gyalpo, isto é chamado ‘A Instrução do Apontar o Bastão para o Velho Homem’. Sherab Gyalpo de Ngog foi liberado e atingiu realização.”

(Isto foi anotado pela princesa de Kharchen [Yeshe Tsogyal] para o bem das futuras gerações. É conhecido pelo nome “A Instrução do Apontar o Bastão”.)

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3 Comentários

  1. Luiz Otavio disse:

    Obrigado!

  2. Alessia DUCASSE disse:

    Gratidão Plena!!!

    DEDICAÇÃO DO MÉRITO

    Ofereço este Auspicioso e Maravilhoso Ensinamento para O Benefício de todos os seres, sem exceção. E dedico O Mérito para A Iluminação Perfeita de todos os seres, como fizeram Todos Os Budas.

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