Foto: Kurt Cotoaga (Unsplash)

Como cultivar um coração mais expansivo

O professor e tradutor Erik Pema Kunsang nos ensina como superar a visão limitada e levar a vida com maior abertura


Por
Tradução: Victor Roithmann e Paula Rozin

Há tanta necessidade de corações mais expansivos, mentes vastas, de mais tolerância, gentileza e atitudes que incluam a todos. Temos suficiente racismo e tantas outras maneiras de excluir os outros. Todos nós sabemos o quão doloroso é ser o ignorado, o excluído ou até mesmo a minoria reprimida. Às vezes, sem nenhuma razão aparente. É absurdo esperar que outra pessoa resolva esse dilema que é tão humano, pois a espera pode ser interminável. Individualmente podemos cuidar de resolver esse problema, e por sorte temos muitos recursos em mãos. Podemos cultivar um coração mais expansivo.

Coração é atitude e força de vontade. É como direcionamos nosso espírito e nosso foco. O ponto interessante não é bombear o coração físico, mas sim nos desapegar do hábito de limitá-lo. É fácil e é difícil, mas não há outra escolha. O egoísmo machuca, e machuca bastante. Ele nos machuca, magoa as pessoas que amamos e cria um mundo horrível. É um mau hábito e um vício estúpido, porque dá uma falsa sensação de segurança, enquanto nos torna perdedores ao invés de vencedores. É fácil ficar arrependido após expor uma atitude egoísta e mesquinha, e depois pedir desculpas. Honestamente, isso talvez seja útil nessa situação, mas não há uma mudança de hábito.

Podemos nos flagrar no exato instante em que o coração pequeno sequestra nosso espírito natural. Podemos prender o encrenqueiro durante o crime. Quando estamos conscientes, podemos ver que essa atitude não é somente estúpida, é também muito destrutiva. Ela arruína a harmonia e nossa felicidade na vida diária. Sentimentos como “eu preciso ganhar esta discussão”, “preciso levar minha opinião adiante” e coisas do gênero prejudicam amizades e relacionamentos. Um amigo a menos, mais solidão do lado de dentro e à nossa volta. O mundo se torna frio e incolor. O que ganhamos com isso?

No momento em que houver um endurecimento em torno do chacra do coração e a autoimportância estiver a ponto de assumir o controle, faça uma pausa, diga não a essa atitude, reconhecendo que “eu já percorri esse caminho antes e ele não leva a lugar algum”. Em vez disso, dê um passo atrás por alguns momentos e permita à sua inteligência básica assumir o controle. Cada vez que o hábito limitador se desmantela, seu coração se expande mais e mais e a disposição de incluir e valorizar se torna possível. É fácil assim. Com um pequeno passo de cada vez, permita que a boa vontade e a caridade vivam e respirem. À medida que o mau hábito enfraquece pouco a pouco, começamos a perceber que a tolerância vem com mais frequência e facilidade, mudando de lugar o peso da balança. Não há outra maneira; temos que trabalhar com isso e decidir assumir a responsabilidade por isso, porque não há ninguém mais que o possa fazer. Nós podemos, se assim quisermos.

Quando sou confrontado com uma atitude mesquinha e uma palavra ofensiva, essa tensão se torna tão óbvia, quase como uma dor física, e o instinto selvagem diz “revide”. Então, faço uma pausa e fico quieto um pouco, deixo surgir de dentro um suspiro silencioso e suave, e lá vou eu de novo: “devo engolir a isca ou resolver isso aqui e agora?” Nessa pausa, muitas vezes descubro o recurso disponível não apenas de ficar calado, mas também de ser gentil, e essa descoberta vale mais do que ouro puro. A partir dessa amorosidade e abertura é tão mais fácil ser gentil e perspicaz, e falar a coisa certa que ajuda na situação, não somente para mim, mas para a outra pessoa também. Quando começamos a descobrir que podemos mudar as coisas, os momentos dolorosos se transformam em humor e afeto, e há cada vez menos atitudes limitadoras. Esse é o ambiente em que o coração se expande e a vida se torna significativa. Crescemos à medida que quebramos limites.

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1 Comentário

  1. Leandro Nascimento disse:

    Ah, maravilhosos conselhos!
    É justamente esse aspecto prático que faz do Budismo uma via tão revolucionária e transformadora!
    Obrigado ao Professor Erik, aos tradutores e à Bodisativa pela veiculação!
    Que possa tocar e beneficiar todos os seres!!!

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