Fonte: Chokgyur Lingpa Foundation

Oceano de Lótus

Precioso ensinamento Dzogchen oferecido pelo grande Tsikey Chokling Rinpoche a Erik Pema Kunsang


Por
Revisão: Caroline Souza
Tradução: Ormando M. Neto

O Chokling Rinpoche de Tsikey é uma pessoa verdadeiramente única. Não é um homem que possa ser ignorado: bonito, com um rosto como o de Padmasambava, um pequeno bigode fino e olhos rolando para cima como um deus meio irado e meio apaixonado, olha para céus interiores sem fim. Quando ele se senta no trono vajra, a maioria das pessoas sente como se um Buda estivesse sentado na sua presença. A sua serenidade e autoridade são completas. Ele não sorri muito, mas quando sorri todos os corações se derretem em devoção.

Quando viaja ele carrega um kit de feiticeiro e uma mala de presentes, barbantes de proteção, mandalas, tangkhas, malas e todo tipo de objetos sagrados para as pessoas que precisam deles ou que os merecem. Na Malásia eu o vi curar várias pessoas com doenças incuráveis. Ele nunca admite o que faz, mas de repente uma pessoa que estava confinada a uma cadeira de rodas há anos se levanta e caminha. Eu o vi curar pessoas que eram surdas, mudas ou mentalmente deficientes. Ele jogava coisas nelas, cuspia em seus rostos, derramava sal ou óleo em suas cabeças, gritava ou murmurava algo, e dançava ao redor delas. De repente, elas acordavam, como se houvessem despertado de um longo sonho, e eram capazes de falar, ouvir ou andar.

Eu o via como um genuíno feiticeiro e também como um santo, mas não no sentido piedoso cristão. Depois de fazer algo incrivelmente profundo, às vezes ele virava a cabeça e piscava para uma garota doce, certamente explodindo a mente e as expectativas de todos. Essa foi exatamente sua maneira de mostrar ao mundo a coisa mais inesperada que se pode imaginar. Alguns o amam incondicionalmente, outros ficam assustados, mas ninguém nunca o esquece.

Abaixo está um trecho de seu livro Lotus Ocean, que ele ditou para mim livremente e sem hesitação durante 90 minutos, muitos anos atrás. Ele falou até a última frase, alguns segundos antes da fita acabar. Depois disso, não havia mais nada a acrescentar ou alterar.

— Erik Pema Kunsang


Os pontos principais do Dzogchen são reconhecer o estado natural, treinar para desenvolver sua força e alcançar a estabilidade. Ao enfatizar a essência da mente, seja enquanto você estiver sentado ou andando, comendo ou dormindo, não se separe nunca do reconhecimento da sua essência. Ser capaz de praticar deste modo é, em si, o ponto mais vital. Era assim que Tulku Urgyen Rinpoche ensinava.

Embora tenha recebido muitos desses ensinamentos, não tenho sido capaz de praticá-los por longos períodos em retiro estrito. Na maior parte do tempo tenho sido arrastado pelos prazeres dos sentidos. Em meio a isso, realizei as cerimônias anuais de drubchen no inverno, e durante alguns meses aqui e ali, no verão, fiz alguns retiros de recitação. No resto do tempo, assim como Tulku Urgyen Rinpoche ensinou, eu tentei ao máximo praticar enquanto estava sentado, caminhando, comendo e deitado.

Minha principal prática tem sido a devoção ao Guru Padmasambava. Em seguida vem a confiança em meus gurus raiz, uma confiança que eu sinto que é inabalável. Eu acredito de todo o coração que os grandes detentores vajra, o 16º Karmapa, Dilgo Khyentse Rinpoche, Tulku Urgyen Rinpoche e Kalu Rinpoche, foram siddhas e verdadeiros senhores da mandala, como se Tilopa e Naropa tivessem vindo até nós pessoalmente. Sinto que todos eles eram indivisíveis de Guru Rinpoche. Acredito nisso sinceramente, e essa é também a qualidade das bênçãos que recebo deles. Foi através da bondade, ensinamentos e bênçãos desses mestres que pude praticar um pouco até minha idade atual de quarenta e sete anos, e sinto que foi com essas bênçãos que eu ofereci esses breves esclarecimentos.

Parte do que eu disse aqui pode ser útil para um completo iniciante. Parte do que eu disse pode ser útil para um praticante incrivelmente avançado que já alcançou o elevado nível do Dzogchen. Há conselhos para um aprendiz que recém começou o ngöndro e há também conselhos úteis para um praticante de nível médio que está no meio das práticas de recitação das Três Raízes. O tipo de pessoa para quem nada além de Trekchö e Tögal é suficiente — um tipo completamente espantoso de praticante de Dzogchen que tem grande confiança na pureza primordial e presença espontânea — definitivamente encontrará alguns conselhos valiosos em minhas palavras; isto é, se ele ou ela se preocupar em entender o que eu digo.

Eu não expliquei diretamente o Dzogchen aqui, e mesmo assim você ainda pode encontrar o seu significado. Não vou, mesmo agora, dizer que ensino a Grande Perfeição. A razão é que, embora eu tenha reconhecido a natureza da mente, o estado desperto, eu ainda não aperfeiçoei a sua força. Embora eu tenha um grau de força muito pequeno, ainda não alcancei a estabilidade. Por outro lado, se após alguns anos eu atingir a estabilidade, ficarei feliz em ajudá-los.

Ao praticar a tradição budista tibetana, que pertence ao Mahayana, gostaria de citar a Aspiração Dzogchen de Mipham Rinpoche:

“Pela devoção ao Senhor Primordial, o glorioso mestre,
Considerando-o como o darmakaya da equanimidade,
Que possamos obter a grande iniciação da exibição da consciência,
Através da bênção da realização da linhagem suprema sendo transmitida aos nossos corações.”

Uma vez que você tenha se conectado a um mestre verdadeiro e qualificado e seja capaz de se relacionar com tal pessoa como um guru raiz, você pode receber a iniciação da exibição da consciência. Isso é quando a sua natureza é apontada para você como sendo darmakaya. Quando tiver reconhecido isso, você pode então desenvolver a força deste reconhecimento e alcançar a estabilidade. Esta é a característica especial da Grande Perfeição! Para se preparar para isso, você deve praticar as quatro ou cinco acumulações de 100.000 das práticas preliminares, seguidas pelas sadanas das Três Raízes.

Fonte: levekunst.com

Me parece que vocês, estrangeiros da época atual, têm um interesse crescente na tradição tibetana do budismo, especialmente nos ensinamentos de Mahamudra e Dzogchen. Vocês parecem estar dispostos a estudar as filosofias do Caminho do Meio e do Prajnaparamita, e os outros tópicos incluindo lógica, o vinaya, o abidarma e os sutras. Isso é extremamente importante para desenvolver uma estrutura completa da terminologia do Darma. Precisamos conhecer as palavras e nomes, como é dito: “Sem contar com as palavras convencionais, você não compreende o significado final”.

Quando se trata de realizar o significado supremo, não basta ter vislumbres esporádicos. Você deve gerar total convicção; deve estar totalmente livre de dúvidas! Inquestionavelmente, isso seria o melhor! Por favor, aja assim!

Mas entenda também este ponto: se você se basear apenas em palavras e nomes, terá cada vez mais dúvidas, será cada vez mais desconfiado. No caso de uma mente cética como essa, é possível começar a desconfiar, primeiro como uma forma minúscula de descrença que se infiltra sorrateiramente. Por favor, fique atento a isso! Esse é o momento em que você deve definitivamente passar a estudar o tipo de literatura de manual de instruções, os manuais de instruções sobre experiência prática de meditação!

Se em tal momento você estiver em contato com um mestre pessoal, com capacidade de meditação, então ele poderá esclarecer sua dúvida e hesitação. Essa é uma etapa em que é melhor você ter um professor! Caso contrário, é possível que seu intelecto esperto te engane. Por exemplo, uma vez quando Lady Yeshe Tsogyal pediu a Padmasambava pelos ensinamentos da Grande Perfeição, ela se curvou diante dele nove vezes, apresentou-lhe as oferendas de mandala externa, interna e secreta, e após ela fazer isso ele disse: “Adentrar os ensinamentos da Grande Perfeição traz uma imensa vantagem, mas também pode conter um grande perigo. Você será como uma cobra que entrou em uma vara de bambu. Há apenas duas maneiras de sair: pela saída superior ou pela inferior.

Foi isso que o Precioso Mestre ensinou. Por favor, entenda que nem todas as pessoas são do tipo Dzogchen. Algumas são orientadas para o Hinayana. Algumas simplesmente não conseguem compreender sua profundidade. Algumas simplesmente não são recipientes adequados. Existem tantos tipos diferentes de pessoas. Por favor, considere isso com muito cuidado.

Mesmo que se diga que a realização da verdade suprema depende do conhecimento de palavras e nomes, ainda assim, lembre-se de ter cuidado com os estudos, pois seu aprendizado deve levá-lo para além de qualquer dúvida e suspeita, até a completa clareza. Caso contrário, como a vacuidade é “difícil de ver e difícil de compreender”, se você mantiver uma atitude cética em relação a tudo, essa atitude desconfiada pode arrastá-lo cada vez mais para baixo. Isso seria uma grande pena!

Ainda que a vacuidade seja difícil de ser compreendida, ela também é o “conhecedor que liberta tudo”. “Conhecedor”, aqui, significa que quando sua porta da sabedoria está bem aberta você é capaz de abrir centenas de outras portas, todas as outras portas. Por favor, preste especial atenção a este ponto chave do conhecedor que liberta tudo!

Primeiro, obtenha um entendimento claro através do aprendizado. Em seguida, estabeleça a certeza através da reflexão. Por fim, treine dia e noite no Mahamudra e no Dzogchen. Faça isso e você descobrirá automaticamente o néctar da imortalidade que já existe dentro da vastidão da pureza primordial em seu coração. É nesse momento que as bênçãos da grande iniciação da exibição da consciência, a realização da linhagem suprema, terão sido verdadeiramente transmitidas ao seu coração! Continue a prática e não há dúvida de que isso acontecerá um dia! Esse será o dia em que você descobrirá que a porta da sabedoria está escancarada! Você e todos os outros praticantes do Veículo Vajra do Mantra Secreto precisam garantir que isso — que é o resultado natural do treinamento — aconteça! Por favor, ajam assim!


Confira o texto em inglês no site da Levekunst.

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1 Comentário

  1. Vera Lucia Bauer disse:

    Leio mas pouco entendo. Não vou parar presido encontrar o começo da busca.

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