Desenho de Lucas Coelho, oferecido ao Lama Padma Samten.

Uma carta de Rinpoche

Carta de Chagdud Tulku Rinpoche à sangha do Chagdud Gonpa


Por
Revisão: Cristiane Schardosim Martins e Makara Editora

Carta de Chagdud Tulku Rinpoche à sangha do Chagdud Gonpa, originalmente publicada em inglês em 1995, na The Windhorse – a então semestral newsletter do Chagdud Gonpa. A publicação em português foi autorizada por Chagdud Khadro, em comemoração ao aniversário de Chagdud Rinpoche em agosto de 2023.


THE WINDHORSE

Newsletter de Chagdud Gonpa

Edição — 1995 Primavera-verão

Muitas vezes as pessoas me perguntam: “Os lamas têm apegos?” Não sei como os outros lamas podem responder a isso, mas devo dizer que sim. Reconheço que meus alunos, minha família, meu país, não têm realidade inerente, que todos representam um jogo de ilusão, mas permaneço profundamente ligado a eles. Reconheço que meu próprio apego não tem realidade inerente, mas não posso negar a experiência dele. Ainda assim, conhecendo a natureza vazia do apego, sei que minha motivação para beneficiar os seres sencientes deve superá-lo.

Como o sofrimento surge em todos os lugares e para todos no samsara, sigo a orientação de qualquer sabedoria que tenho para encontrar aqueles que são receptivos à minha apresentação do Budismo Vajrayana e que usarão meus ensinamentos para transformar suas mentes. Às vezes, sou claramente direcionado, como quando, muitos anos atrás, ao deixar o Tibete, sonhei com a “América” antes mesmo de ouvir a palavra. Às vezes eu simplesmente sei, como fiz depois de várias visitas ao Brasil.

Agora, no Brasil, tenho alunos que desenvolveram seu caminho do darma completando o ngondro e participando de retiros de inverno, além de realizar uma enorme atividade organizacional em nome do Chagdud Gonpa. Se eu mantivesse minha base nos Estados Unidos, esses alunos continuariam a sustentar minhas viagens ao Brasil, e eles mesmos continuariam viajando para receber ensinamentos aqui. No entanto, eu não seria capaz de alcançar muitos dos que se beneficiariam com meus ensinamentos do darma, como as pessoas muito pobres que não podem pagar os eventos que financiam minhas passagens aéreas.

No Tibete, na Índia e no Nepal, sempre fui bastante acessível aos pobres; nos Estados Unidos, pareço menos. No Brasil, sinto um anseio pela espiritualidade, uma devoção entre muitos cujas vidas são desprovidas de conforto. Espero que meus ensinamentos possam enriquecer suas vidas, por isso estou me mudando para estar perto deles.

Sou um homem velho agora, e desfruto de meu conforto aqui e gosto da companhia de meus alunos. Estou encantado com as qualidades dos lamas e alunos seniores do Chagdud Gonpa (ver página 2), com a harmonia da sanga e com o progresso dos centros. Aspiro voltar todos os anos para os retiros de inverno, o Vajrakilaya drubchen e a celebração do Losar, e visitar meus centros pelo menos uma vez por ano.

Mesmo pretendendo me estabelecer no Brasil, no entanto, como uma pena ao vento, meu destino cármico me leva de volta ao Tibete, aonde irei em peregrinação neste verão. E por duas semanas, em novembro, estarei no Rigdzin Ling, onde, a pedido de meus alunos, darei o Nyingt’hig Yab Zhi, as iniciações por excelência para as sessenta e quatro bases (centenas de milhares) dos tantras Dzogchen. Essas iniciações preenchem um dos dois pré-requisitos para receber a transmissão da Grande Perfeição, sendo o outro o estabelecimento de uma fundação pura e forte por meio do ngondro e particularmente de guru yoga. Vários de meus alunos criaram sua base prática e sinto que chegou o momento de oferecer essa joia incalculavelmente preciosa. Para todos os que aspiram ao pináculo da realização que a Grande Perfeição representa, espero que minha oferenda do Nyingt’hig Yab Zhi aumente o ímpeto de seus caminhos e traga benefícios supremos a todos os seres.

Chagdud Tulku Rinpoche

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