Veja nossa cobertura da passagem deste grande mestre, ativista e calígrafo Zen pelo Brasil

 

Kazuaki Tanahashi esteve no Brasil de 01 a 25 de junho oferecendo ensinamentos, expondo sua arte, conversando sobre ativismo, ensinando caligrafia. Com 85 anos, este mestre nasceu no Japão e testemunhou ainda criança seu país ser alvo do primeiro e maior ataque nuclear contra civis que já aconteceu na história - os desastres de Hiroshima e Nagasaki.

Apaixonado desde a juventude pelo mestre Dogen, Kaz Sensei dedicou-se com devoção à tradução de muitos de seus ensinamentos para o inglês. Na década de 1970, mudou-se para os Estados Unidos e em meio à tensão da Guerra Fria, fundou e colaborou com inúmeros projetos e iniciativas de ativismo anti-nuclear e pró-desarmamento. Darma, arte e ativismo são inseparáveis para Kaz.

Essa capacidade de integração de Kaz Sensei inspirou a 30ª edição da Bodisatva impressa, cujo Especial “Silêncio em Movimento” conta com reportagens e artigos sobre Arte e Ativismo Zen. O lançamento da Bodisatva 30 aconteceu em meio aos eventos do Sensei em Porto Alegre/CEBB Caminho do Meio, Brasília/CEBB Alto Paraíso, Recife/CEBB Darmata, todos com uma  cobertura especial da nossa equipe.

Textos de Kaz Sensei na Bodisatva


Eventos em Porto Alegre e Viamão/RS


A passagem de Kazuaki Tanahashi pelo sul do Brasil foi marcada por poesia e surpresa. Quando estava prestes a embarcar em seu voo para São Paulo, foi impedido por autoridades costa-riquenhas por falta de visto (Kaz estava neste País fazendo pesquisa sobre seu próximo livro, cujo tema é desarmamento). Graças a uma rápida mobilização do Lama Samten, da sanga e muitos amigos o visto foi rapidamente providenciado e Kaz chegou em Porto Alegre à meia noite do domingo, com pouco mais de um dia de atraso.

Na manhã do dia seguinte, tendo dormido apenas três horas, ele já estava na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, preparando a exposição de suas obras, cuja abertura aconteceria logo mais à noite. Mesmo depois de um dia inteiro de trabalho, Kaz Sensei, com seus “85 anos de juventude”, como ele mesmo falou durante a exposição, estava radiante, elogiando a galeria, agradecendo a todos e contando para a plateia a intercorrência com o visto como uma boa oportunidade de fazer novos amigos:

“O Brasil é um país de gente calorosa. Todos me ajudaram e estou muito feliz por estar aqui.  Sinto que estou entre amigos”.

 

Abertura da Exposição com apresentação de pintura ao vivo

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Palestra: “Círculo Zen: além de Perfeição e imperfeição”


Na terça-feira, em sua palestra do Teatro da Hebraica em Porto Alegre, Kaz nos falou da profunda simbologia do enso, a tradicional pintura japonesa do círculo, que ele relaciona com o ensinamento do mestre Dogen chamado de “Círculo do Caminho”.

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Palestra e lançamento do livro: “O Sutra do Coração: um guia abrangente para o clássico do Budismo Mahayana”


Na quarta-feira, diante de uma sala lotada no CEBB Porto Alegre, ele lançou seu livro sobre o Sutra do Coração, publicado pela Lúcida Letra, e nos ofereceu uma perspectiva histórica sobre esse texto sagrado que é o fundamento dos ensinamentos que o Lama Padma Samten nos oferece e, de certa forma, o coração do próprio CEBB.

Oficina de Caligrafia Zen: O Coração do Pincel


Quinta-feira foi o dia das oficinas de caligrafia, que aconteceram dentro do Templo do CEBB Caminho do Meio, em Viamão, Rio Grande do Sul.

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Retiro: Círculo do Caminho: Ensinamentos do Mestre Dogen


No retiro de fim de semana, o Sensei leu e comentou trechos e poemas de sua tradução do Tesouro do Verdadeiro Olho do Darma, do mestre Dogen. A suavidade com que Sensei se movia, seus gestos precisos e tão relaxados, as pausas que fez entre uma leitura e outra, entre um comentário e outro, criaram uma atmosfera perfeita para nossa mente absorver os paradoxos e as poéticas investigações sobre a realidade que o mestre Dogen oferece.

Após ler sua passagem preferida dos textos de Dogen,- um trecho que leu aos 25 anos de idade e que o tocou profundamente - Kaz Sensei encerrou o evento com palavras emocionantes:

"We tend to think our life is like a river, we are kind of floating away in this river, that we are helpless. All the problems can happen, we just go along with it. But you make your life what it is. This is your life. You are the light. And you live within all the world. You make the world what it is. You are responsible for the world".

"Nós acreditamos que a nossa vida é como um rio, que estamos apenas flutuando e que não temos controle. Todos os problemas podem acontecer, nós apenas somos levados. Mas, você faz da sua vida o que ela é! Isto é a sua vida! Você é o guia. E vivendo com todo o mundo, você faz dele o que ele é. Você é responsável pelo mundo".

[tradução livre]

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Cobertura: Lia Beltrão | Fotos: Zé Paiva/Vista Imagens

Eventos em Brasília/DF e Alto Paraíso/GO


Após sua passagem no Sul, Kazuaki Tanahashi Sensei foi até o Centro-Oeste para continuar suas atividades no Brasil. Não raro, quando se escuta falar de grandes mestres, praticantes de vários lugares do país se organizam para encontrá-los, mesmo que seja em silêncio, escutando suas palavras e observando seus gestos. Carecemos de exemplos de florescimento humano.

Kaz tem 85 anos e dizem, embora a barba e os cabelos sejam grisalhos, que é difícil enxergar onde se assenta essa idade. A energia pacífica e disposta com a qual Kaz Sensei se move deixou-nos impressionados. Durante toda sua passagem pelo Centro-Oeste, postura ereta, completamente desperto, disponível. Pontas dos pés no chão, flutuava no ambiente com uma presença leve, amorosa, generosa, e um silêncio profundo que dele parece emanar. Olhos brilhantes, perfeitamente atentos, serenamente presentes. Completamente transponível e translúcido.

 

Palestra: Avalokiteshvara e a prática da compaixão; e lançamento do livro O Sutra do Coração: um guia abrangente para o clássico do Budismo Mahayana


Na noite de quarta-feira (13/06), no Templo Shin Budista de Brasília, Kaz Sensei se apresentou ao público, tentando transmitir o que por vezes a linguagem não consegue expressar: a explicação para um dos elementos chaves do Sutra do Coração, a invocação do bodisatva “Avalokiteshvara.

Dentro da vastidão deste tema, Kaz Sensei explicou duas grafias diferentes para o nome do bodisatva, cada qual elucidando facetas particulares desta inteligência inseparável dos Budas: Avalokiteshvara, traduzido por “aquele que percebe as vozes de sofrimento do mundo”, e Avalokitashvara, “aquele que percebe com liberdade”.

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Oficina de Caligrafia Zen: O Coração do Pincel


Durante a tarde e noite de quinta-feira, Kaz Sensei conduziu oficinas de caligrafia. Vários participantes saíram nitidamente impactados pela experiência, alguns soltavam exclamações apreciativas, outros, sorrisos maiores que o rosto. A mão e o pincel de Kaz Sensei, juntos, comunicavam a força e sutileza de sua mensagem.

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Retiro: Investigando a sabedoria além da sabedoria: compreendendo o Sutra do Coração


No fim de semana de 15 a 17/6, Kaz Sensei conduziu no templo do CEBB Alto Paraíso um retiro sobre o Sutra do Coração, talvez o mais importante Sutra do Budismo Mahayana. Ainda que este ensinamento esteja além da palavra e do conceito, motivados em estender os ensinamentos do Darma a todos os seres,  Kaz Sensei e Joan Halifax Roshi colocaram em papel e tinta uma tradução que pudesse beneficiar qualquer pessoa falante do inglês (e agora do português!).

Mesmo que alguém não tivesse conhecimentos profundos do budismo, o destrinchar das palavras, o cuidado com a precisão linguística e o trabalho de revirar a história do nascimento do Sutra foram suficientes para impactar todos com o entendimento sobre a sabedoria além da sabedoria.

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Mesmo para os tradutores, a situação de convívio com Kaz Sensei, e o texto como um todo, foram inspiradores. Não basta apenas entender a palavra e escolher uma outra, é preciso ser perpassado pelo sentido, pelo significado e, se possível, pela realização do que é transmitido. Kaz Sensei escolhia as palavras com precisão cirúrgica, usando de uma linguagem repleta de vocábulos e expressões unívocas.

Ao final do retiro, no domingo, Kaz Sensei pediu para sentar em roda com todos presentes. Com muita humildade, relatou que nem em seus sonhos mais desvairados ousou imaginar que um dia daria ensinamentos numa cidade do interior do Centro-Oeste brasileiro. Pediu a todos que falassem espontaneamente da sua experiência no retiro, incluindo as críticas. Muitos engasgaram com o choro. Entre presentes e elogios, talvez a única crítica tenha sido a de um relatante, que parafraseou uma brincadeira do Kaz Sensei ao dizer que não se iluminou no final do retiro.

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Abertura da Exposição em Brasília


Na terça-feira seguinte, já de volta a Brasília, durante a montagem da exposição no Museu Nacional dos Correios, Kaz Sensei tentava dar um nó nos fios de náilon e não conseguia. A cada vez que falhava, ele ria e se divertia muito genuinamente. Depois da quinta vez, alguém disse “They get tangled, right?” (eles se embolam, né?), ao que o Sensei respondeu “Kind of like life, dont’t you think?” (meio que como a vida, não acha?) e soltou uma gargalhada suave, leve.

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E assim foi sua passagem no Centro-Oeste. No sul do Brasil, Kaz Sensei disse que traduzir é estar sempre derrotado. Talvez também seja assim com o traço do pincel que sai do controle, ou com os fios de náilon. Ou com a vida. Cada gesto, cada momento é completo, precioso. E nos parece que Kaz Sensei vive exatamente isso.

Cobertura: Lucas de Lima, Tanúria Rabello, Rachel Kyo-Ho e Victor Gomide | Fotos: Bruno Astorina, Leonardo Hladczuk e Luisa Lobo

Eventos em Recife e Timbaúba/PE


Palestra: As quatro verdades triviais: princípios para um Budismo engajado, e lançamento do livro “O Sutra do Coração: um guia abrangente para o clássico do Budismo Mahayana"

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Retiro: Milagres de cada momento: pintando paz (Budismo engajado)

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Fotos: Ju Brainer

A vinda de Sensei movimentou a Sanga e também a Bodisatva! Fizemos uma primeira experiência de cobertura nacional com a colaboração de várias pessoas, com fotos e textos em cada um dos locais por onde o Kaz passou. Também aproveitamos sua vinda para lançar a edição n.30.

A equipe da Revista Bodisatva agradece, com o coração cheio de alegria, a todos e todas que colaboraram e também pela infinita criatividade e amor deste grande mestre que nos acolheu e nos ofereceu um novo olhar sobre o silêncio e a transformação. Para fechar o ciclo, compartilhamos abaixo aquele que consideramos um dos mais tocantes trechos de sua fala no Brasil.

“A prática contínua é não dividida. Não forçada por você ou por outros.’ A prática é a não separação, que seria ver a iluminação como estando em outro lugar. E, então, desejar a iluminação, mas experimentar a iluminação como não sendo diferente da prática em si.

A experiência da prática em cada momento não é diferente da experiência da iluminação. Eu chamo isso de micro círculo. A cada momento temos um círculo. É como um enso desenhado com um pincel. Não é um círculo perfeito como o de um relógio, é imperfeito. Mas ele também é perfeito. Então, ele está além ou inclui a perfeição e a imperfeição. Algumas partes do círculo podem apresentar falhas quebradas ou tortas. Não é como o círculo da geometria sagrada da cristandade do cristianismo. É mais natural, orgânico. A cada momento podemos experimentar esse despertar.

“A sua prática afeta toda a terra e todo o céu nas dez direções.”

‘O poder dessa prática contínua confirma você bem como os outros’. Confirmar significa tornar cada momento completo. Talvez você possa pensar: ah não, está bom, eu sou um iniciante, talvez eu esteja falhando. Mas, na verdade, a sua prática já está completa. Ela já contém todos os elementos. A aspiração para a iluminação, a prática, a iluminação e o nirvana.

‘Isso significa que a sua prática afeta toda a terra e todo o céu nas dez direções’. Isso pode ser um micro círculo muito pequeno, mas ele pode afetar a terra inteira e o céu inteiro. De alguma maneira isso nos libera. Eu sou tão pequeno. Minha ação é tão pequena. Eu sou tão limitado. Mas podemos dizer que temos capacidade infinita de criar um efeito grande, transformar nós mesmos, os outros e a sociedade. Nós temos essa capacidade.

‘Mesmo sem ser notada por nós mesmos ou pelos outros, é assim’. Normalmente nós não notamos nossa capacidade infinita. E nos sentimos pequeninos. Mas essa é a nossa delusão.”

Kaz Sensei durante o retiro “Círculo do caminho: ensinamentos do Mestre Dogen”, no CEBB Caminho do Meio (Viamão – RS).

Palavras Inspiradoras de Kaz Sensei


"Seriam As Quatro Nobres Verdades — o ensinamento budista mais básico sobre a natureza da vida na busca da liberação pessoal — suficiente como princípio orientador para uma transformação social em larga escala? Ou precisamos de perspectivas universais complementares que orientem nossa ação em tempos de crise mundial?"

—Kazuaki Tanahashi

 

“Como caligrafista e pintor, sinto que a presença do artista deveria ser expressada em cada linha que é traçada. Cada linha é desenhada de forma natural, espontânea, decisiva e singular. Nenhuma correção ou retoque é feito. A experiência artística, meditativa e de vida deve ser evidente em cada linha para todos que as vêem. É preciso executar cada traço com total concentração e relaxamento.”

—Kazuaki Tanahashi

 

“Como realizamos uma transformação social em grande escala? Como revertemos a direção da marcha humana para um suicídio coletivo? Como respondemos a uma violência sistemática de forma não violenta? Como ajudamos as nações a abolir suas forças militares?

Uma visão do futuro é desenhada com nossa imaginação, que pode ser vista como um pincel que pinta sonhos, esperanças e previsões para dias vindouros e distantes. Você tem um pincel e eu tenho outro. Na verdade, cada um de nós tem um pincel informe de capacidade ilimitada.

O que você desenha pode ser diferente do que eu desenho em cores e formas, ou em temas e tons. E no entanto deve haver semelhanças. Me torno humilde ao compreender que o ‘pincel’ que conduz meus pensamentos e ações para a transformação social é um dos milhões e bilhões de ‘pincéis’ trabalhando no mundo.”

—Kazuaki Tanahashi

 

“No Zen sempre se pergunta: se todos já são iluminados, por que temos que praticar? Esse é um bom dilema, mas talvez a resposta do Zen é que a prática é a iluminação, mas a iluminação é a prática também.”

—Kazuaki Tanahashi


Veja também

Bodisatva n30