“A educação de qualidade está na vontade de fazer educação de qualidade”. Confira o quarto dia do 108 Horas de Paz 2018-19
O quarto dia do 108 Horas de Paz 2018-19 focou na produção e no compartilhamento de reflexões, conhecimentos e aprendizagens, aquilo que conhecemos como educação. Estamos em um momento em que é cada vez mais necessário ampliar nossas visões e criar propostas sobre como podemos fazer diferente. Assim, o evento reuniu diferentes educadores para dialogar sobre as inteligências que estão sendo geradas em rede.
A fala da manhã começou com Euclides Mance (Instituto de Filosofia da Libertação IFL), contribuindo com sua visão sobre a importância do tema:
Euclides afirmou que as teorias e o conhecimento, muitas vezes, nos afastam da possibilidade de entender o mundo e de fazer conexões reais com as comunidades. Ressaltou que a inteligência em rede nos oferece a capacidade de exercer e reforçar nossas próprias liberdades, e que uma inteligência coletiva benéfica é aquela que promove a libertação de todas as pessoas, inclusive a nossa própria. Uma libertação dos nossos modos estreitos de pensar, de sentir e agir.
Na sequência, Sensei Jorge Koho Mello (Gaia Education) falou com os participantes direto de Zurich, trazendo uma perspectiva mundial de iniciativas que estão aplicando brilhantemente a inteligência em rede.
Além de citar exemplos de projetos na área de educação, redes e colaboração, financiamento e consumo, também explicou um pouco do trabalho que tem sido feito na Gaia Education, uma ONG dedicada à aprendizagem coletiva e à sustentabilidade que promove o acesso ao conhecimento por meio de experiências bem sucedidas e uma rede de inteligências compartilhadas.
Márcia Leal, empreendedora social, trouxe a experiência de aplicar uma inteligência que gera resultados na educação pública. Contou sobre o Pacto Viamão pela Alfabetização, um projeto em parceria com a Prefeitura e Secretaria Municipal de Educação de Viamão que envolve 59 escolas, mais de 5 mil estudantes, e tem como objetivo a alfabetização de crianças até o fim do primeiro ano.
Ela reforçou o papel fundamental que a rede teve no sucesso do programa e que por possuir um propósito maior, do benefício à criança e à comunidade, foi capaz de ultrapassar qualquer outro objetivo ou agendas individuais.
Ainda no tema de bons exemplos de rede em educação, Jaqueline Machado (especialista em Marketing Social), apresentou o projeto Galera Curtição, que promove jogos entre as escolas de Viamão e Porto Alegre com o objetivo de promover a discussão entre professores e alunos para a prevenção de comportamentos de riscos e outros temas como empatia, igualdade de gênero, álcool e drogas.
Ela mostrou a possibilidade da construção de uma rede focada em promover a transformação social, ressaltando que um propósito potente e comum fortalece a rede e transcende as escolas para atingir as comunidades: “com a comunicação conseguimos fortalecer sujeitos, pessoas e causas, mas antes de comunicar precisamos ouvir, ouvir muito”, compartilhou Jaqueline.
Na sequência, André Pacheco, prefeito de Viamão, ressaltou a importância desses projetos, como ações sociais de resultados baseadas em gestão, e não em política. Salientou a importância do papel dos professores na formação das redes e que, mais importante do que tomar partidos, precisamos focar em resultados para a vida das pessoas.
Lama Padma Samten, que compôs a mesa posteriormente, relembrou que a função da política é garantir o bem-estar das pessoas e foi possível ver nesta manhã do 108 horas exemplos de iniciativas focando o ser humano. Ele frisou que as redes possuem um potencial político muito amplo, pois quando participamos efetivamente delas nos sentimos felizes e, assim, o processo econômico é irrigado com valores imateriais.
Por fim, Carlos Benechi (Secretário de Educação de Viamão) e Prof. Juarez foram convidados à mesa para as considerações finais.
Thomas Kesselring (filósofo; filosofia da educação) começou o diálogo da tarde trazendo definições teóricas e históricas de redes e alguns exemplos mundiais. Fez um contraponto da filosofia ocidental e o budismo, mostrando que os princípios éticos dos filósofos ocidentais possuem convergência com as cinco sabedorias budistas e focou em ética, apresentando os eixos que deveriam nortear a ética humana.
Na sequência, Fernando Leão, da Mandala Escola do Instituto Caminho do Meio trouxe um pouco da sua experiência coordenando a Escola Vila Verde em Alto Paraíso, Goiás. Contou do desafio de criar uma escola que fosse não apenas para os alunos, mas que incluísse também o professor, a família, a cidade e as dificuldades inerentes a todos esses agentes envolvidos na comunidade escolar.
Fernando trabalha há 28 anos com pedagogia de projetos. Essa metodologia permitiu que a EVV se conectasse com várias redes e ganhasse reconhecimento, recebendo o prêmio de escolas transformadoras da Ashoka e menção honrosa no desafio internacional Edumission – rede de escolas inovadoras de todo o mundo criada pela empresa de impacto social israelense Education Cities. A Escolha Vila Verde também ganhou recentemente o reconhecimento do Ministério da Educação e Cultura como umas das 178 instituições educacionais brasileiras que são exemplo de inovação e criatividade na educação básica. Por fim, Fernando nos inspirou a desenvolver um olhar mais amplo e generoso para a educação:
Complementando a fala de Fernando, Carolina Senna, também da Mandala Escola do Instituto Caminho do Meio, com a experiência de coordenação e atuação na Escola Caminho do Meio, trouxe o exemplo das redes formadas pelo CEBB e o ICM. Ela compartilhou sobre a capacidade de sistematizar um diálogo com iniciativas do meio ambiente, social, político e o potencial do CEBB em oferecer ferramentas para lidarmos com o nosso mundo interno.
Também comentou o desafio de inserir as cinco inteligências nos programas de educação nas escolas e como essas sabedorias auxiliam a proteger de que as redes sejam entrecortadas por ódio e competição.
Por fim, Lama Padma Samten nos lembrou que podemos ver o mundo de maneiras muito diferentes. Vemos que surgimos no mundo com uma visão inseparável dos nossos olhos, mas que seria interessante praticarmos o “não saber”.
“Dentro da perspectiva do Zen, a partir do mestre Dogen, se diz que a sabedoria é não saber. Isso é totalmente paradoxal. Isso não é fácil, porque dentro da cultura em que estamos vivendo a sabedoria significa não só livros, mas bibliotecas. Quanto mais conhecimento de forma sistematizada, maior o saber.
Na perspectiva budista, espantosamente, é o contrário. Isso é estranho. Ainda que a gente diga: bom, isso é simpático, mas acho que se eu tiver mais livros no meu currículo, muito melhor. No budismo é assim: se nós temos um conhecimento, temos um certo nível de contaminação em que ficamos mais ou menos condicionados quando formos olhar. Uma forma radical de falar isso é: apenas não saiba, faça o exercício de não saber. Quando fazemos o exercício de não saber o que está sendo falado, temos a capacidade de ouvir com um olho original.
Um outro grande mestre Zen, Shunryu Suzuki, também já falecido, salientava esse aspecto de mantermos a mente do iniciante – não a do iniciado. O iniciado talvez não tenha mais jeito. (risos) Mas o iniciante que não sabe tem, porque nós chegamos abertos.” – Lama Padma Samten
Com o fim dos diálogos, os participantes tiveram opção de aprofundar os temas do dia em dois laboratórios de ideias: “Economia Solidária” com Euclides Mance e “Educação” com Carolina Senna. À noite, os participantes puderam conferir o lindo espetáculo “Uji – O Bom de Roda”, oferecido por Eduardo Conegundes.
E durante o dia, no 108 Horinhas, Gisela Sartori conduziu uma oficina de jogos cooperativos pela manhã e Amanda Lautert, biodança, pela tarde.
30/12 | Manhã |
30/12 | Tarde |
Acompanhe o registro fotográfico colaborativo do 108 Horas de Paz 2018-19: Ações em Rede – CEBB/ICM que está sendo feito no Facebook do CEBB! Acesse aqui.
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