Consolidação das redes de diálogo e ação social, confira como foi o 2º dia do 108 Horas de Paz 2018-19
O segundo dia do 108 Horas de Paz teve como eixo principal as redes de diálogos e a ação social. A proposta do dia foi dar continuidade aos trabalhos iniciados pelo CEBB e outras instituições no encontro nacional que deu origem à Carta Aberta de Valores Humanos e Ambientais, no contexto pré-eleitoral, constituindo e articulando ações sob uma perspectiva mais ampla, não-sectária, e reforçando valores elevados.
Pela manhã, se reuniram Prof. Luiz Gonzaga Souza Lima (historiador e autor de ‘A Refundação do Brasil’), Prof. Juarez Freitas (Direito/PUC-RS), Monge Marcelo Barros (Arquidiocese de Olinda e Recife), Edoarda Sopelsa Scherer (Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa) e Lama Padma Samten.
Como de costume, a fala de abertura foi do Lama Samten. Ele comentou sobre importância de um evento como o 108 Horas, que cria um espaço para as pessoas pensarem, refletirem e articularem ações positivas numa direção favorável. Reforçou que é importante nos reunirmos para gerar visões de mundo elevadas, que contemplem as diversas tradições religiosas, uma vez que, por acessarem as cinco sabedorias, rompem a lógica comum e nos ajudam a atravessar as estruturas de opressão e sofrimento para vermos além das possibilidades usuais.
“Para nós, um ponto muito especial é que a gente consiga se articular entre as várias comunidades e redes. Não só as redes locais, mas que esses pontos locais de redes alcancem cada pessoa e consigam se interligarem. Eu acredito que um dos desafios deste nosso encontro é nós podermos nos interligar nos valores mantendo as nossas estruturas e designações.
Cada um de nós pertence a diferentes tradições, diferentes lugares, mas que a gente não se perca nisso. Que a diversidade das tradições seja nossa generosidade, o que estamos oferecendo, e não nossa estreiteza. E que consigamos nos unir em visões elevadas a partir de qualidades elevadas.” – Lama Padma Samten
Na sequência, o Prof. Luiz Gonzaga Souza Lima nos aconselhou cautela e humildade para enfrentar o momento atual que vivemos no Brasil e nos alertou sobre a necessidade de recriamos o mundo. Em suas palavras: “somos a primeira geração em que o software social moderno vai produzir a morte do planeta, da nossa espécie e dos outros seres. E isso tem que parar. Temos que ter a clareza de para onde nós queremos andar, para uma sociedade que sustenta a vida, superando nossos constrangimentos históricos”.
Dando continuidade à abordagem começada pelo Prof. Luiz Gonzaga, Monge Marcelo Barros trouxe um olhar de reflexão sobre política e espiritualidade, reforçando o papel das religiões enquanto agentes de mudança. Ele pontuou, ainda, que as lideranças religiosas precisam de ética e coerência.
Edoarda Sopelsa Scherer contou um pouco do que tem sido realizado no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, de como tem se desenvolvido o trabalho de criar redes e espaços de acolhimento, amor, acolhida e respeito às diferenças neste ano tão turbulento.
Por fim, o Prof. Juarez Freitas trouxe o exemplo do barco usado por Lama Samten para se referir ao budismo, mas neste caso sendo a sustentabilidade, que teria cinco dimensões: social (trabalho e educação de qualidade, cooperação); ambiental (abandono da cultura fóssil); econômica (base em inovação sustentável); política (desarticulação de vícios históricos de corrupção); e ética (dignidade humana e o fim da crueldade com os seres e com a Terra).
Na parte da tarde, o 108 continuou com a mesma temática, mas desta vez recebendo na mesa Euclides Mance (filósofo), Babá Diba de Iyemonja (líder da tradição Jeje da Umbanda e Presidente do Conselho Estadual do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul), Sandrali de Oxum (orixá, psicóloga e Secretária Executiva do Conselho Estadual do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul) e Salette Aquino (Iniciativa das Religiões Unidas).
O encontro começou com a leitura da Carta Aberta publicada pelo CEBB e outras organizações a partir do Encontro Nacional de Promoção de Valores Humanos e Ambientais, um trabalho iniciado no contexto pré-eleitoral para reforçar valores que precisam ser relembrados e sustentados nos dias de hoje. Confira um trecho da “Carta Aberta sobre Valores Humanos e Ambientais no Brasil”, lida por Floridalva (CEBB Recife):
“Acreditamos que, especialmente em tempos de acirramentos e tensões, é importante enfatizarmos a continuidade de diálogos abertos entre diferentes pessoas e setores da sociedade, a fim de constituir terreno comum entre as diferentes visões religiosas e não religiosas, filosóficas, científicas, políticas e sociais, que nos guiem à ação a partir de valores e princípios elevados.”
Salette Aquino seguiu a conversa, compartilhando com todos a carta de princípios da URI e contando um pouco do histórico da organização. Depois, Babá Diba de Iyemonja e Sandrali fizeram falas comoventes sobre as iniciativas políticas, as redes do Povo de Terreiro e sua atuação vibrante em relação ao combate à intolerância religiosa.
“Para mim, que sou uma mulher negra, oriunda de família humilde – mas humilde não naquele sentido de humildade que foi trabalhada aqui antes, é a humildade em que o sistema nos coloca. Entre esquerda e direita, eu continuo sendo mulher negra, colocada na pirâmide da sociedade. E para nós, a nossa luta não é fazer com que a gente chegue ao topo da pirâmide, a nossa luta é virar a pirâmide. E transformar essa pirâmide num trapézio, no mínimo um trapézio.
Então para nós é importante o trabalho em rede. Para nós é importante, sim, perceber a religiosidade como uma espiritualidade política, porque nós somos seres políticos. Disseram para nós negros, negras e povo de terreiro que religião e política não se misturam e nós acreditamos nisso.” – Sandrali Bueno
E por último, Euclides Mance trouxe o exemplo das redes de economia solidária, que são centradas no encontro entre as pessoas, organizadas em torno de comunidades econômicas que promovem as liberdades públicas e as privadas de seus integrantes.
Na sequência, os participantes foram convidados a terem conversas apreciativas para responder a pergunta de como podemos começar a pensar as ações em rede, a partir das falas que foram ouvidas ao longo do dia. Mas antes, Babá Diba de Iyemonja ofereceu um cântico de cura, emocionando muitos participantes.
Aconteceram ainda, mais três Laboratórios de Ideias, conduzidos por Sergio Sardi, Prof. Luiz Gonzaga e Monge Marcelo Barros, com o objetivo de aprofundar alguns dos temas que foram abordados durante o dia. No 108 Horinhas, a programação infanto-juvenil contou com música pela manhã, conduzida por Márcia Schiavo e a atividade com argila “Pensando com as Mãos”, oferecida por Letícia Paciello. E por fim, como parte da programação cultural do evento, à noite foi oferecida uma prática de biodança aos participantes.
28/12 | Manhã |
28/12 | Tarde |
Acompanhe o registro fotográfico colaborativo do 108 Horas de Paz 2018-19: Ações em Rede – CEBB/ICM que está sendo feito no Facebook do CEBB! Acesse aqui.
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