Em entrevista exclusiva, a Bodisatva conversa com Khadro-la sobre seu encontro com o Dalai Lama, budismo no Ocidente e prática espiritual
Em maio deste ano, uma oportunidade única surgiu para a Bodisatva: entrevistar Khadro-la, considerada por mestres como S.S. o Dalai Lama e Lama Zopa Rinpoche como a emanação de Tara, de Yeshe Tsogyal – a manifestação de uma dakini. De fato, seu nome, Rangjung Neljorma Khadro Namsel Drönme, significa algo como “preciosa dakini auto-emanada” e sua presença e a história de sua vida são completamente extraordinárias.
Conhecida por sua humildade e discrição, Khadro-la fala pouco de sua vida. Mas em uma entrevista publicada na revista Mandala, ela contou sobre uma infância e adolescência com eventos paranormais e transes, e o fato de que era considerada louca pela própria família. Por anos, ainda vivendo no Tibete, alimentou o desejo de encontrar S.S. o Dalai Lama e ouvir dele se aquilo que os outros viam como loucura o era de fato. Isto motivou sua peregrinação em direção a Dharamshala, na Índia. Depois de inúmeras dificuldades, ela finalmente o encontrou e ele a reconheceu, juntamente com outros mestres, como a oráculo Palden Lhamo, uma das deidades protetoras do Tibete.
No Tibete, onde nasceu, Khadro-la não apenas não recebeu instruções sobre o Darma, como sequer frequentou uma escola. Apesar disso, é reverenciada por inúmeros mestres. O próprio Dalai Lama fala que ela realizou a vacuidade de forma espontânea com seis anos de idade. Nas palavras da Jetsunma Tenzin Palmo “o Darma flui através de sua boca de forma completamente natural”. Lama Alan Wallace também tem uma reverência profunda por Khadro-la, e a considera uma de suas professoras.
Nossa entrevista foi realizada em maio deste ano por Cris Bremenkamp. Ela aconteceu onde mora Khadro-la: numa pequena casa dentro do complexo do Monastério Namgyal, em Dharamshala. Khadro-la estava acompanhada de sua aluna e tradutora, Claire, que gentilmente serviu como intérprete do tibetano para o inglês.
Para qualquer tibetano, fugir de seu país e se exilar é sempre um processo muito difícil. Assim como eu, muitas pessoas encontram dificuldades nessa jornada. Porém, as dificuldades são apenas um modo de apreensão da mente. Desde certa perspectiva, podemos vê-las como algo terrível, triste, esmagador. Entretanto, se mudamos nosso olhar, percebemos que as dificuldades também podem criar condições favoráveis e produzir alegria na nossa mente.
Sua Santidade o Dalai Lama é um Buda natural, um Buda vivo, de modo que, ainda hoje, muitas pessoas desejam vê-lo e não conseguem. Assim como elas, fiquei bastante chateada ao não conseguir vê-lo, e quando finalmente o encontrei experienciei uma grande alegria. Senti uma emoção tão forte, uma sensação tão profunda de felicidade, que não há como expressar: é algo que está para além da palavra. É claro que ninguém é capaz de mostrar um sentimento ou emoção a outra pessoa. É algo que nós experienciamos. Não posso simplesmente compartilhar tudo o que senti. Mas, de qualquer forma, eu fiquei muito, muito feliz quando finalmente pude encontrar Sua Santidade. Não há nada com o que comparar essa experiência. Nada é capaz de superá-la.
A palavra dakini se refere a várias coisas diferentes. Pode ser entendida num nível muito precioso. Pode ser um mero nome atribuído por alguém a alguma pessoa. Por exemplo: a esposa de um lama geralmente é chamada de khandro-ma, ou dakini. Portanto, esta mesma palavra é usada em muitos diferentes contextos para nomear coisas diferentes. Algumas delas são bastante elevadas, outras não.
Algumas me dizem que eu sou Tara, que sou muito preciosa, enquanto outras podem também falar coisas ruins. Para mim, entretanto, isso não faz nenhuma diferença. O que sei de certeza é que sou uma mulher, sou um ser senciente.
Trata-se de algo muito vasto. É difícil para alguém como eu explicar tais coisas. Mas há uma diferença entre a situação de seres sencientes comuns e de seres iluminados. Do mesmo modo, há mulheres comuns e mulheres espiritualmente realizadas, muito preciosas. Existem critérios que nos possibilitam dizer se algo ou alguém é precioso ou não. Enquanto seres sencientes, temos tipos diferentes de mentes, algumas das quais estão imersas em confusão, outras não. Assim, na medida em que essa mente “não confusa” é priorizada, vamos gerando a visão e a conduta – ou comportamento – corretas. Ou seja, vamos gerando mais sabedoria e altruísmo. Nossa mente vai se tornando mais sábia e repleta de felicidade: uma felicidade permeada de altruísmo, fundada no desejo de trazer benefício aos seres. Tal sabedoria e felicidade podem crescer e atingir o nível ilimitado de uma mente muito, muito preciosa. Portanto, quando uma pessoa atinge esse ponto, esse tipo de mente, ela se torna muito preciosa.
Porém, se seguimos a mente confusa ou equivocada, temos uma conduta e uma visão equivocadas e mergulhamos em ações negativas. Ao fazermos distinções entre o que é bom e o que é ruim, é importante que entendamos que há diferentes níveis: há o nível da convenção genérica – bom e ruim em termos relativos – e há a integridade última. Devemos entender esse ponto essencial. Se não entendemos isso, não significa nada que tenhamos determinada forma, aparência ou um nome de muito respeito.
O que torna algo ou alguém verdadeiramente precioso é uma mente bondosa, aberta e honesta.
Contemplando o budismo, vemos que ele é algo verdadeiramente útil para todos os seres sencientes, pois todos desejam ser felizes e querem se livrar do sofrimento. Ele explica a realidade, está de acordo com ela. Mesmo que não sigamos nenhuma religião, podemos encontrar muitos conselhos benéficos no budismo. A razão disto é que, por sermos seres sencientes, não queremos sofrer e queremos ser felizes.
Na maioria das vezes, temos a sensação de que a felicidade e o sofrimento vêm de fora, das circunstâncias, mas na verdade eles se originam na nossa mente. O budismo explica que eles têm causas e que tais causas estão de acordo com seus resultados. Assim, causas positivas geram felicidade, e causas negativas, o seu oposto. Isso se dá no contexto da interdependência. Todas as coisas são interdependentes. Precisamos entender os diferentes tipos de sofrimento. Simplesmente desejar que o sofrimento – que nós obviamente não queremos – vá embora não faz com que ele de fato desapareça.
Os ocidentais têm uma boa educação em termos de ciências externas. A razão disso é que o planeta inteiro está seguindo o progresso, na esfera material. E o ocidente está tentando aumentar seu conhecimento das ciências do mundo externo. Todos querem crescer em capacidade, com as coisas funcionando de um modo mais rápido e mais eficiente, em larga escala. Busca-se apenas melhorar a dimensão material e entender o mundo através da ciência física. O resultado disso tudo, desde uma perspectiva positiva, é que se atingiu um alto nível de progresso. Temos acesso a tantas coisas incríveis hoje em dia; nossa comunicação e nosso deslocamento se tornaram muito mais fáceis e rápidos.
Contudo, se olhamos desde uma perspectiva mais negativa e contemplamos as desvantagens desse processo, vemos que o planeta inteiro – comparando-o a um ser humano – está completamente doente, sujo, em um estado realmente ruim. Assim, todas essas coisas que criamos para o nosso bem-estar e que parecem ser intrinsecamente boas e nos trazer felicidade, na verdade, são intrinsecamente impermanentes e se transformam em sofrimento, produzindo uma série de problemas e nos colocando numa situação bastante assustadora.
Todos os seres estão interessados apenas na felicidade que se dá na esfera das consciências dos sentidos – visão, e assim por diante – e buscam somente por este tipo de felicidade. O problema desse tipo de felicidade ou prazer é que tudo o que se dá no âmbito dos sentidos – todos os objetos sensoriais – são impermanentes e produzem sofrimento, invariavelmente.
Apenas agora, ao que parece, as pessoas estão começando a se interessar mais pelas ciências do mundo interno, como a psicologia. Mas essa é uma das coisas mais importantes. Se as pessoas prestassem mais atenção ao mundo interno, perceberiam que os prazeres aparentemente óbvios se tratam, na verdade, de sofrimento. E entenderiam que a mente do desejo e do apego é, em realidade, a influência ou o poder exercido pela confusão e pelas fabricações mentais. Desenvolvendo esse olhar interno, acabamos por encontrar muitas ferramentas que nos ajudam a promover mais paz e felicidade no mundo.
Dessa forma, se pudermos ensinar as nossas crianças a prestarem mais atenção ao seu mundo interno estaremos ajudando na criação de um mundo mais pacífico e harmonioso no futuro. Além disso, estaremos prevenindo inúmeras catástrofes e desastres.
Aconselho os praticantes brasileiros e os brasileiros que se interessam por budismo a não se tornarem budistas imediatamente. Tornar-se budista (ou não) é um desejo passional. Em geral, os ocidentais querem virar budistas e, então, decidem que o são. Na minha opinião, entretanto, é errado imediatamente querer se tornar um budista e já começar a receber iniciações, diferentes tipos de transmissões, fazer circuambulações, visitar templos e lamas, oferecer mandalas e incensos, etc. Se você acredita que o budismo é isso, acabará tendo problemas mais à frente e ficará muito chocado. Não vai funcionar. A razão é que essas coisas não correspondem à essência da prática do Darma: são apenas meios utilizados para acumular méritos.
Assim, deveríamos primeiro entender essa palavra – “Darma”, em sânscrito: ela significa transformar ou corrigir. Quando dizemos que queremos praticar o Darma, o que estamos nos esforçando para corrigir ou transformar? A resposta é: as duas mentes que criam nosso sofrimento. A primeira é a mente que se agarra à noção da real existência de um “eu”. A segunda é a mente de auto-apreço, que nutre e cuida desse “eu”. São esses os principais obstáculos que evitarão nosso progresso no caminho espiritual em direção à iluminação. Eles nos impedirão de gerar bodicita e não nos permitirão abrir nossa sabedoria.
Consequentemente, se quisermos expandir nossa visão, precisaremos tentar desenvolver uma visão não equivocada. O oposto disso, a visão equivocada, é como um obscurecimento mental: uma mente que não entende, que não é capaz de enxergar o estado real das coisas, que se apega às coisas como existindo por si só, com uma essência própria – ainda que não seja verdadeiramente assim – e que desconhece por completo a base que gera apego e desejo.
Na esfera da conduta, ainda que desejemos ter uma conduta de Bodisatvas, só conseguimos pensar “eu, eu, eu” o tempo todo. O que quer que façamos, fazemos apenas por nós mesmos. Esse tipo de conduta é extremamente pequeno, estreito e lastimável.
Em resumo, se aspiramos praticar o Darma, devemos tentar aprofundar nossa sabedoria e usá-la. E, quanto mais capazes nós formos de compreender todos os diferentes níveis – mesmo os mais sutis – da interdependência, mais capazes seremos de entender a liberação e a onisciência.
Se não tivermos uma fé calcada na razão, apenas seguiremos as pessoas, que nos mandarão fazer isso e aquilo, e vai acabar não dando certo. Estamos vivendo tempos um pouco assustadores. Não deveríamos confiar imediatamente em pessoas que nos dizem ser elevadas e preciosas, ou mesmo em pessoas que os outros consideram como sendo tal. É fundamental que chequemos por nós mesmos as reais qualidades daqueles que queremos seguir.
Portanto, se realmente desejamos praticar bem o Darma, precisamos reconhecer o sofrimento e entender que todos os diferentes tipos de sofrimento são interdependentes e se originam de uma conjunção de causas e condições. Gradativamente, à medida que compreendemos mais e mais a natureza da nossa mente, vamos nos transformando em fonte de felicidade para nós mesmos e os outros seres.
Na minha opinião, quer sejamos budistas ou não – e quer sejamos religiosos ou não –, somos capazes de perceber que tudo isso que foi apresentado pelo Buda sobre felicidade e sofrimento é como uma ciência muito perfeita e rigorosa, a qual procura pelas razões e busca entender as causas e condições que levam ao sofrimento. Ao analisarmos as formas de raciocínio e os procedimentos que foram empregados, percebemos que é como se o Buda tivesse criado uma ciência.
Contemplando nossas próprias mentes, podemos ver os diferentes tipos de sofrimentos e de felicidades. Precisamos olhar para isso e localizar suas respectivas causas. Em seguida, precisamos desenvolver disciplina, a fim de nos livrarmos das causas e condições que originam o sofrimento, ao mesmo tempo em que vamos nutrindo causas e condições positivas. Dessa forma, se fizermos isso e surgirem dificuldades em algum ponto, podemos pedir a um lama ou mestre espiritual que nos auxilie nesse processo.
Assim, mesmo que nossas mentes estejam confusas, mesmo que encontremos circunstâncias negativas e sejamos prejudicados por outros, nos sentiremos encorajados e experienciaremos ainda mais alegria.
Em termos de prática do Darma, não há nenhuma diferença no que concerne à questão do gênero. O Darma é necessário e útil para todo mundo. O que faz a nós mesmos e aos outros felizes é o cultivo de um bom coração, de honestidade e de uma atitude vasta. Quais são as causas e condições necessárias para gerar essa mente? Precisamos analisar as causas e condições das mentes de apego, aversão e ignorância, observando o que acontece quando cedemos a tais emoções: quais são os resultados disso? Localizando as causas negativas, buscamos nos livrar delas.
Nesse contexto, é muito importante gerar uma fé no Darma que seja baseada na razão. A sabedoria e a inteligência humanas podem ser abertas e alcançar um nível infinito, ilimitado. Dificuldades e problemas são apenas um modo de fixação da mente. Pensamentos conceituais surgem e nos agarramos a eles e, por isso, enfrentamos dificuldades. Apenas se sentir desesperançado e não fazer nada a respeito é estúpido.
Se conseguirmos usar nossa inteligência humana de forma apropriada, não há nada que possa nos parar. Mas se usarmos nossa inteligência humana negativamente, seremos capazes de fazer as coisas mais horríveis. Se você pensa que não consegue determinar os erros e enganos, se seus pensamentos são demasiadamente negativos e você se sente sem esperança, terá de transformar tanto o seu comportamento, quanto a sua visão. Apesar de você ter nutrido este tipo de visão até o presente momento, é completamente possível mudá-la agora: você pode transformar sua visão na visão correta, e sua conduta em uma conduta altruísta, positiva.
Nossa mente é muito estranha. Visto que, enquanto seres sencientes, estamos majoritariamente acostumados a fazer coisas negativas, não precisamos ser ensinados sobre como fazê-las: sabemos disso naturalmente. Contudo, somos muito pouco habituados às atitudes positivas. Precisamos aprender, de novo e de novo, o que se deve fazer para se transformar em uma pessoa mais positiva. E somente aprender inúmeras vezes não é suficiente. Por isso, é crucial que treinemos constantemente para que consigamos, de fato, implementar tal visão.
Por exemplo, se seguimos amigos “ruins” no nosso cotidiano, podemos acabar numa situação de completa exaustão do nosso corpo e da nossa mente. Por outro lado, caminhando ao lado de pessoas boas, sentimos que isso é algo especial, diferente.
O Darma, o caminho da liberação, a iluminação, a onisciência, as deidades, todas as mandalas e assim por diante: nada disso está em algum lugar lá fora, isolado. Está tudo na nossa própria mente. Temos, dentro de nós, uma mente muito preciosa que contêm tudo isso.
É verdade que no passado, em muitos contextos e sociedades, pensava-se assim. Há diferentes aspectos a serem considerados. Por um lado, as mulheres realmente eram depreciadas apenas por serem mulheres. Por outro lado, isso era algo cultural, algo da tradição.
Considero muito importante as mulheres conquistarem direitos iguais. Da mesma forma, enquanto mulher e tendo tido uma formação educacional precária, já senti muito preconceito. Mas, ao mesmo tempo, penso que as pessoas me olham dessa forma negativa – talvez não sem razão – devido à minha escassa educação na vida mundana, e mesmo no Darma. Então, pode ser que haja alguns traços em mim que, de fato, levem as pessoas a me diminuir (risos). De toda forma, acredito ser muito, muito importante que as mulheres conquistem a igualdade de direitos.
Verdadeiramente falando – não quero dizer que falo a “verdade”, essa é apenas minha opinião confusa – parece que as mulheres têm uma tendência maior à bondade, à compaixão e à sabedoria. Olhando para os nossos pais – pais e mães – e para sua maneira de agir e de cuidar dos filhos, parece que as mães, falando de forma bem geral, possuem uma ligação mais próxima de afeto e cuidado com as crianças. Em termos de prática do Darma, entretanto, somos exatamente iguais.
Do mesmo modo, pensando a partir de um plano mais geral, como o da política, acredito que se tivéssemos mais nações com líderes mulheres, haveria menos atrocidades, menos guerras, menos desastres. Contudo, se louvo apenas as qualidades das mulheres, fica um pouco engraçado, já que eu sou uma mulher.
Um dia, eu estava oferecendo uma palestra no Ocidente e havia um casal de marido e esposa. O marido a depreciava constantemente, e ela defendia que eles deveriam ter uma relação mais igualitária. Ele, no entanto, não dava ouvidos a isso. Dizia que era impossível e que eles nunca alcançariam tal igualdade. Isso causava inúmeras brigas entre os dois, e então eles me procuraram para ouvir meu conselho e decidir o que fazer.
O marido tinha um olhar bastante negativo em relação a mulheres e garotas, e eu falei a ele, brincando: “não é certo que um homem tenha uma atitude tão depreciativa em relação às mulheres. Por maior que um homem possa ser, todos eles saíram da vagina de suas mães – como xixi e outras coisas mais” (risos). “Portanto, vocês não podem nos tratar assim tão mal. Vocês não saíram do topo das nossas cabeças: saíram das nossas vaginas! E isso não é tudo! Ficaram lá dentro por nove meses, ao longo dos quais os cuidamos com extremo carinho. Durante todo esse tempo, vocês eram incapazes de garantir sua sobrevivência sozinhos, dependendo inteiramente da bondade materna. Portanto, ouvir da sua boca que nós não podemos ser iguais faz você parecer um louco.”
É importante que nós tenhamos os mesmos direitos. Mas, e como praticar? O que podemos praticar? Mulheres podem fazer exatamente o mesmo que os homens. Somos igualmente capazes, e tanto elas quanto eles precisam abandonar todas as delusões e obscurecimentos. Aquilo que precisamos obter, o resultado – o dharmakaya e o rupakaya do Buda – é o mesmo para ambos. E o processo que leva a esse resultado – o caminho espiritual, os dez bhumis, os cinco caminhos – é exatamente o mesmo.
Além disso, somos todos iguais no sentido de que todos temos a natureza de Buda, tathagatagarbha. Desde os mais variados pontos de vista, somos iguais. Sejamos mulheres ou homens, o que realmente importa é entendermos os diferentes níveis da interdependência: sobretudo, a interdependência no que tange à felicidade e ao sofrimento.
Nesse sentido, o budismo é bem diferente de outros campos do conhecimento. A partir de algumas abordagens, uma vez que tenhamos aprendido nossa lição, já sabemos e não precisamos olhar para isso de novo ou aprender outra vez.
Primeiro, portanto, precisamos entender. Mas somente entender o budismo não é suficiente. Podemos cair numa postura intimidadora, pensando que entendemos tudo e que somos capazes de explicar aos outros. Na medida em que vamos compreendendo o Darma, temos de mesclá-lo à nossa mente, aprimorá-la, e constantemente alimentar suas qualidades positivas.
Se não praticarmos o Darma, é possível que nos tornemos aqueles que o destruirão, como grandes demônios ou grandes monstros (risos). Por outro lado, se entendermos o Darma e, com base nele, nos colocarmos em ação, seremos capazes de oferecer felicidade não apenas a nós mesmos, mas a todos os seres. Os demônios não estão do lado de fora: surgem da nossa própria mente de autofixação, que se coloca em oposição à realidade. Esse é o pior tipo de mente. Se não conseguirmos destruí-la e nos engajarmos em circuambulações, meditação sobre deidades e recitação de mantras, não avançaremos e não seremos capazes de verdadeiramente praticar o Darma.
Se não aprimorarmos nossa mente e não nos tornarmos gradativamente mais compassivos, por mais que digamos que já praticamos há um longo tempo, nossa prática não será genuína e não trará realizações. Talvez desejemos realizações e pensemos que se possa adquirir algum poder especial. Entretanto, se o que queremos é praticar o verdadeiro Darma, o que nós precisamos não é do desejo de realizações e coisas especiais, mas do cultivo de um bom coração, honestidade e uma vasta atitude mental. É isso que deveríamos aspirar, ao invés de nos sentirmos entusiasmados ou desejarmos ver uma deidade, ouvir coisas especiais, ter sensações sublimes na meditação, relaxar. Tais coisas não significam absolutamente nada.
Talvez nós sentemos em meditação com a coluna ereta, imóveis, sem ver nada e sem pensar em nada, e acreditemos que isso é meditar. Se de fato é ou não, eu não tenho certeza. Penso que se trata de um descanso, nada mais. Meditação significa nos familiarizarmos positivamente conosco mesmos. Se apenas sentar sem se mover e sem pensar em nada fosse suficientemente bom, as pombas seriam ótimas meditantes.
Muito obrigada!
Agradecimento especial a Júlia Vargas pelas fotos e ilustração
Apoiadores
8 Comentários
Muito boa a reportagem
A leitura dessa entrevista trouxe para mim a visão do budismo no ocidente. As pessoas são muito ansiosa : ” é errado imediatamente querer se tornar um budista e já começar a receber iniciações, diferentes tipos de transmissões, fazer circuambulações, visitar templos e lamas, oferecer mandalas e incensos, etc. Se você acredita que o budismo é isso, acabará tendo problemas mais à frente e ficará muito chocado. Não vai funcionar. Tornar-se budista (ou não) é um desejo passional” Ela confirma que devemos trabalhar a mente.
Fico grata as pessoas que produziram esse trabalho e desejo que todos recebam muitos méritos.
Linda demais! Que honra poder ler as palavras dela! Entram como néctar na alma! Gratidão
She is truly incredible thank you
Lindo. “Se não aprimorarmos nossa mente e não nos tornarmos gradativamente mais compassivos, por mais que digamos que já praticamos há um longo tempo, nossa prática não será genuína e não trará realizações. Talvez desejemos realizações e pensemos que se possa adquirir algum poder especial. Entretanto, se o que queremos é praticar o verdadeiro Darma, o que nós precisamos não é do desejo de realizações e coisas especiais, mas do cultivo de um bom coração, honestidade e uma vasta atitude mental. É isso que deveríamos aspirar, ao invés de nos sentirmos entusiasmados ou desejarmos ver uma deidade, ouvir coisas especiais, ter sensações sublimes na meditação, relaxar. Tais coisas não significam absolutamente nada.
Talvez nós sentemos em meditação com a coluna ereta, imóveis, sem ver nada e sem pensar em nada, e acreditemos que isso é meditar. Se de fato é ou não, eu não tenho certeza. Penso que se trata de um descanso, nada mais. Meditação significa nos familiarizarmos positivamente conosco mesmos. Se apenas sentar sem se mover e sem pensar em nada fosse suficientemente bom, as pombas seriam ótimas meditantes.”
Lindo. Talvez nós sentemos em meditação com a coluna ereta, imóveis, sem ver nada e sem pensar em nada, e acreditemos que isso é meditar. Se de fato é ou não, eu não tenho certeza. Penso que se trata de um descanso, nada mais. Meditação significa nos familiarizarmos positivamente conosco mesmos. Se apenas sentar sem se mover e sem pensar em nada fosse suficientemente bom, as pombas seriam ótimas meditantes.”
Sensacional. Que sirva de guia a praticantes iniciantes evitando armadilhas e experientes principalmente para que as certezas sejam redirecionadas pelo Dharma do Buda e não do entendimento limitado de budismos. 🥰🤗🙏🏼🤩
O Darma do Buda é vasto! Inspiradoras são as palavras de Khadro-La. 🙏⚘